quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A verdade – uma nova ideologia

A verdade – uma nova ideologia
Martin Heidegger trata da verdade em seu livro (Introdução à Filosofia) de maneira complexa e com linguajar próprio aos filósofos. Ele coloca o conceito de verdade a partir da palavra que lhe deu origem, dizendo-nos que literalmente significaria desvelamento, ou seja, um descobrir algo oculto diante das nossas dificuldades de percepção.
Em tese estamos em condições de descobrir e analisar muita coisa, o desafio é saber pensar. Aplicar Filosofia à Política talvez seja uma heresia, mas, quem sabe, necessária para termos mais recursos de julgamento.
Nunca vivemos um período tal como agora. As facilidades de troca de informações escritas, faladas e visuais é notável, impressionante.
Com imensa facilidade, em países com liberdade de comunicação, pode-se saber de coisas que até nos intrigam, se bem que no Brasil já nada nos surpreenda. Temos fórmulas legais de defesa escandalosa de mafiosos, o que nos deixa tremendamente frustrados com nossa democracia cheia de vícios.
Pior ainda, como ainda diz Heidegger “nós nos empenhamos na solução de problemas que sequer existem, e não enxergamos aqueles problemas que surgem justamente quando deixamos a trivialidade de lado, mas passamos a exauri-la.”
Nesta frase temos um resumo de nossa agenda rotineira de discussões...
Gastamos uma energia colossal com trivialidades e desprezamos as coisas que seriam de fato nossas prioridades. Talvez muito disso esteja na preguiça mental, na falta de coragem, no espírito de servidão que ainda persiste em nosso povo. Talvez também por supervalorização de atitudes e comportamentos que vamos compreendendo melhor e descobrindo as astúcias dos poderosos ao santificá-los ou demonizá-los. Em torno de escândalos sexuais, por exemplo, todos se apaixonam (um bom exemplo das neuroses sexuais temos em (COMPROMETIDA)), já a desonestidade e incompetência administrativa parece algo suportável, ainda que signifique prejuízos colossais ao povo.
É interessante sentir a extrema cautela que muitos de nós temos quando vivenciamos temas polêmicos, algo de interesse além dos objetos que formam ambições mais honestas. Gente que deveria apreciar a liberdade, a transparência e as facilidades da comunicação esconde-se matreiramente.
Isso cria uma tremenda insegurança. Como, onde, de que jeito obter o desvelamento do Governo, das elites, conquistar o direito à prática justa de leis universais?
Os governantes têm medo. Para entender melhor vale a leitura atenta de um livro traduzido e publicado no Brasil com um título neutro, talvez para disfarçar a DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Getúlio Vargas. Esse livro (O Poder, Os gênios invisíveis da cidade., 1945) é extremamente interessante quando vemos na descrição de fatos da história europeia a que levou o medo de muitas personalidades históricas de perderem o poder. Aliás, se ler um livro é difícil, compensa ver filmes que mostram aonde podemos chegar se aceitarmos o silêncio e optarmos pela “negociação” discreta de assuntos sérios (A Grande Ilusão) ou simplesmente lembrarmos os efeitos do fanatismo político ou religioso em inúmeros filmes (Alemanha Ano Zero), (Guerra e Paz), (Doutor Jivago) (Giordano Bruno) etc.
De Jean Renoir temos a (A Marselhesa) que ilustra magistralmente como nasce uma revolução (e um hino) e ao final o desencanto de um de seus heróis, algo semelhante a (Danton - O Processo da Revolução) perante seu julgamento.
Estamos no início de mais uma coleção de governantes, executivos, gerentes de repartição pública etc. Tivemos eleições com muitos resultados frustrantes ou empolgantes, dependendo do ponto de vista e paixões pessoais. E agora?
Devemos exercer vigilância severa e permanente, independentemente do sucesso ou não de nossas opções. Algo extremamente natural e justo, mas não estamos acostumados a isso. Os diversos períodos de ditadura e a longa Monarquia, que sucedeu a um Brasil colônia sob severas restrições, atrasaram nosso desenvolvimento ético em relação à política.
De qualquer forma a internet está mostrando um novo mundo, inclusive desafiando a mídia tradicional, extremamente preocupada com os jornais sem papel.
Viver é isso, uma eterna luta para melhorar ou, nos casos mais elementares, apenas sobreviver.

Cascaes
1.2.2011

Arendt, H. (1991). Homens em tempos sombrios. Lisboa, Portugal: Relógio d1Água.
Arendt, H. (2007). Origens do Totalitarismo. (R. Raposo, Trad.) São Paulo: Editora Schwarcz Ltda.
Cascaes, J. C. (s.d.). Alemanha Ano Zero. Acesso em 22 de 1 de 2011, disponível em Se você viu - comente: http://se-voce-viu-comente.blogspot.com/2010/06/alemanha-ano-zero.html
Departamento de Imprensa e Propaganda. (s.d.). Acesso em 1 de 2 de 2011, disponível em Wikipédia, a Enciclopédia Livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/Departamento_de_Imprensa_e_Propaganda
Ferrero, G. (1945). O Poder, Os gênios invisíveis da cidade. (C. Domingues, Trad.) Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti - Editores.
Gilbert, E. (2010). Comprometida, Uma História de Amor. (B. Medina, Trad.) Objetiva.
Heidegger, M. (2009). Introdução à Filosofia. (M. A. Casanova, Trad.) São Paulo: WMF Martins Fontes.
Laurentiis, D. D. (Diretor). (1956). Guerra e Paz [Filme Cinematográfico].
Ponti, C. (Produtor), & Lean, D. (Diretor). (s.d.). Doutor Jivago [Filme Cinematográfico].
Montaldo, G. (Diretor). (1973). Giordano Bruno [Filme Cinematográfico].
Renoir, J. (Diretor). (1937). A Marlelhesa [Filme Cinematográfico].
Rossen, R. (Diretor). (1949). A Grande Ilusão [Filme Cinematográfico].
Wajda, A. (Diretor). (1983). Danton - O Processo da Revolução [Filme Cinematográfico].

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