Mentir é não dizer a verdade que acreditamos existir, ter feito, pensar etc.. No relacionamento humano pode ser necessário mentir (a arte da Diplomacia que o diga), a questão é: quanto a humanidade ganha ou perde com a mentira?
Ao envelhecer, ou seja, quando vivemos muito, temos histórias e estórias.
Eu vivi e sobrevivo a 4 (quatro, mais ou menos,) constituições federais do Brasil [(As Constituições Brasileiras) (Constituições Brasileiras de 1924 a 1988)], ou seja, por ser brasileiro posso afirmar: que país instável!
Tendo alguma memória, armazenado em algum cantinho do cérebro de cada brasileiro adulto ou idoso deve existir uma quantidade enorme de dramas, histórias, cenários e “verdades” que nos confundem muito.
E a mentira?
O ato de desenvolver algum raciocínio que deveríamos negar, mas utilizamos, aparece de diversas maneiras. Em ambiente profissional, por exemplo, deixamos que nos domestiquem, padronizem. Eventualmente os abusos serão insuportáveis. Na vida social as cobranças são piores, pois nos afetam profundamente, eventualmente deformando-nos em detalhes sutis e perigosos. Os fanáticos de qualquer coisa são um exemplo disso. A espécie humana dividiu a Terra em espaços delimitados por caprichos e manias de inúmeras tribos. Quem foge da média cultural de qualquer agrupamento humano é mal visto.
Lendo e conversando descobrimos sandices incríveis. Dedicando-se a questões de gênero, Tânia (minha esposa) tem aprendido muito sobre a situação da mulher pelo mundo assim como daqueles que ousam ter opções sexuais diferentes. Os relatos que ela faz sobre a situação da garota, jovem, mulher, esposa, mãe, etc. são impressionantes.
A violência não tem limites e, o pior, graças à ignorância imposta pela censura praticada de diversas formas ou pura por ignorância, quando não simples hipocrisia, milhões de pessoas sofrem demais, são hostilizadas, agredidas e até assassinadas por motivos banais (Hobsbawm, 2007).
Nos episódios políticos estamos vendo (WikiLeaks: Nos bastidores, EUA denunciam corrupção e autoritarismo do Egito)o crescimento dos levantes populares em nações que pareciam dormir sobre diferenças milenares. Ótimo com a seguinte dúvida: seria isso o resultado do crescimento do fundamentalismo religioso? O povo não aguenta mais a corrupção? Se milhões de pessoas dizem não mais suportar ditadores corruptos e incompetentes, ótimo! Bendita coragem e disposição para mudanças. O fanatismo religioso, contudo, é assustador.
No Brasil já é impossível ignorar a desonestidade na política, só não convencemos nosso povo de que a corrupção é ruim, desnecessária, um tremendo imposto que as pessoas honestas pagam.
Mas o mundo está mudando.
O weakleaks, a mídia livre e jornalistas corajosos, lideranças eventuais e sistemas de comunicação mais eficientes assim como a atuação de algumas ONGs dedicadas à vigilância cívica começam a fazer efeito no Brasil.
A internet trouxe-nos a liberdade de comunicação. À medida que a rede se expande e ganha alternativas, torna-se impossível impedir a circulação mundial de notícias que provocam multidões.
Acreditamos que o que está acontecendo no norte da África é o resultado dessa facilidade de perceber o grau de mentira de um governo, que se perdeu ao longo dos anos. Os chefes internacionais das elites egípcias devem estar implorando a renúncia do presidente do Egito, temem que o exemplo se alastre.
Sem internet a Revolução Francesa explodiu a Europa. Perdeu-se na vaidade dos seus chefes. Os movimentos revolucionários de 1848 na Europa (A Era das Revoluções, 1789-1848) e América do Sul foram absorvidos pelas elites, sempre assustadas de perder o controle sobre as massas, como denominam a maioria absoluta da população.
Giordano Bruno, no final do século 16 (Montaldo, 1973)foi queimado com seus livros para que a Igreja Católica mantivesse seus poderes. A inquisição (Michael Baigeni, 2001) foi eficaz durante dois séculos, mas começou a se desmontar quando os livros puderam ser impressos (e não simplesmente copiados). As grandes monarquias caíram por incompetência e mútua beligerância, ou simplesmente deram maior poder ao povo. A democracia apareceu assim como os regimes totalitários, ditaduras sofisticadas e novas formas de caudilhismo.
Aqui ficamos no meio termo. Temos uma democracia suspeita e a ditadura dos poderosos, explícitos ou escondidos sob prepostos políticos... Talvez os brasileiros prefiram a lógica “me enganem que eu gosto”.
Cascaes
3.2.2011
Andrea Cabrini, R. C. (s.d.). As Constituições Brasileiras. Acesso em 3 de 2 de 2011, disponível em História Mais: http://www.historiamais.com/constituicoes.htm
Hobsbawm, E. (2007). Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras.
Hobsbawm, E. J. (2004). A Era das Revoluções, 1789-1848. (M. P. Maria Tereza Lopes Teixeira, Trad.) São Paulo: Editora Paz e Terra S/A.
Marques, J. R. (s.d.). Constituições Brasileiras de 1924 a 1988. Acesso em 3 de 2 de 2011, disponível em Westibular1: http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:LBoBZJyOYX0J:www.vestibular1.com.br/revisao/constituicoes_1824_1988.doc+constitui%C3%A7%C3%B5es+brasileiras&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESiWKwi4L2deuHJl9ZVxGjijO_nzc7lE-hckpuw4u9WDLCzUZI0mSzs587x7yLs46WzpocHKu
Michael Baigeni, R. L. (2001). A Inquisição. (M. Santarrita, Trad.) Rio de Janeiro: Imago Editora.
Ponti, C. (Produtor), Montaldo, G. (Escritor), & Montaldo, G. (Diretor). (1973). Giordano Bruno [Filme Cinematográfico]. Itália.
WikiLeaks: Nos bastidores, EUA denunciam corrupção e autoritarismo do Egito. (s.d.). Acesso em 3 de 2 de 2011, disponível em UOL Notícias - Internacional: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/01/28/documentos-do-wikileaks-mostram-que-eua-conheciam-autoritarismo-e-violencia-no-governo-do-egito.jhtm
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