Socorro, não aguento mais tanto barulho
Já notaram que não falam mais em música, mas dizem: vamos ouvir um som?
O mundo dos jovens é barulhento, isso é natural. Mulheres gostam de falar muito, ao mesmo tempo, parabéns. Conversas interessantes precisam ser ouvidas e entendidas; lógico! Não precisam, contudo, reforçar argumentos falando mais alto.
Discussões esportivas ou desavenças em lugares públicos não justificam berros.
Ou melhor, tudo pode ser explicado se alegarmos ignorância da sensibilidade dos ouvidos alheios... e até desconhecimento da possibilidade de lesões auditivas em casos extremos (excluindo tapas nos ouvidos, centrando apenas a questão em torno das fragilidades dos ouvidos de seres humanos e outros), assim como a inviabilização de conversas alheias.
Música é um verbete com muitas explicações pelos dicionaristas, praticamente todas elas com a designação de “sons agradáveis”.
“Ao vivo” pode ter um charme especial, principalmente se os músicos forem competentes. É uma oportunidade de se revelar talentos e criar atmosfera simpática, atraente.
Bons aparelhos de som em ambientes adequados não introduzem ruídos quando em volume elevado. Acústica é uma ciência complexa e entender de música um privilégio abençoado.
Bares e restaurantes nem sempre são construídos com boa técnica para apresentações musicais. Pessoas mais velhas podem ter sensibilidade maior a ruídos, pois perderam capacidade auditiva graças a acidentes, doenças ou, quem sabe somando tudo isso ao próprio hábito de ouvir música acima dos níveis saudáveis. Para idosos a existência de “música ao vivo” pode ser um fator de rejeição ao lugar.
Por essas e por outras podemos perguntar, será que não existe mais a compreensão de que explodir os ouvidos das pessoas não é arte nem exposição confortável de habilidades pessoais?
Visitando indústrias e outras instalações barulhentas somos obrigados a usar protetores de ouvido. Exigências que a Justiça do Trabalho pode usar para punir empresários “distraídos”. Saindo desses lugares vale tudo? Um dia perguntei a um garçom como ele aguentava a violência de um grupo de músicos, ele me respondeu que realmente incomodava, mas o sindicato deles era fraco e eles precisavam trabalhar...
Para piorar a cacofonia das cidades temos outras formas de produção de ruídos.
Quem serão os infelizes que inventaram foguetes (explosivos), trios elétricos com amplificadores gigantescos e convenceram nosso povo a usá-los em nossas ruas?
Sons excessivos podem gerar desconfortos de diversas maneiras, principalmente a pessoas adoentadas, de alguma forma sensíveis à zoeira. Em Curitiba, para lembrar nossas autoridades, na região central e alguns bairros próximos existem dezenas de hospitais, maternidades e clínicas que, com certeza, abrigam pessoas carentes de tranquilidade.
O excesso de barulho é antiecológico.
Ruas arborizadas poderiam significar ninhais para muitas espécies de pássaros, e o barulho? Não esqueço meu pai cuidando de seus canários e se preocupando com estampidos, que poderiam “gorar” ovos. Animais mais sensíveis podem até morrer pelo susto provocado pelas explosões.
Como é bom ouvir minuciosamente bons instrumentistas, vocalistas e obras artísticas de qualidade especial.
O pessoal do tempo da Bossa Nova deve lembrar com saudades da época em que os instrumentos musicais eram tocados com delicadeza em ambientes intimistas, um carinho de gênios e seus aparelhos. Música em alto volume ficava para as orquestras instaladas em palcos de salões que víamos e ouvíamos à distância.
Música tinha que ser apreciada, dançada e ouvida com prazer.
Conversar era algo bom e ninguém atrapalhava quem estava na mesa ao lado. Gritos e agitos eram para aqueles que participavam de festa em local discreto ou quermesses e folias de bairro.
Não devemos estranhar, contudo, se pensarmos no mundo das multidões e grandes negócios. Perdemos qualidade, sensibilidade, pompa e ganhamos pouca circunstância.
A informalidade, se importante, deveria ser valorizada com atenção especial ao direito do silêncio, da vontade de pessoas próximas de querer ou não ouvir o que fazemos.
Concluindo um assunto para especialistas, vamos prestar mais atenção ao direito ao silêncio?
Cascaes
26.1.2011
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