Com a idade perdemos ilusões, algo mais importante do que todos os atributos da juventude reunidos.
É complicado descobrir, gradativamente, a incongruência entre os melhores propósitos e a natureza real do ser humano. Dia a dia vamos nos surpreendendo conosco. Do espelho ao exame de consciência, nada escapa, tudo contribui para uma raiva, até, do tempo perdido, das oportunidades desperdiçadas, dos dogmas errados.
O que nos deixa esperançosos, contudo, é que a juventude atual talvez consiga superar as nossas limitações e avance rumo a um futuro melhor. Não podemos ter ilusões, contudo. O egoísmo explícito ou camuflado impera. Como diriam os especialistas em marketing, não sei se com essas palavras, com certeza de acordo com a profissão deles, o fundamental é encontrar o que apaixone, motive, induza a pessoa a fazer o que desejamos.
Desejamos o quê?
Não é sem razão que descobrimos uma multidão de aposentados mergulhando na mediocridade e suas futilidades. Talvez, de maneira instintiva, descubram que tudo o que deveriam fazer foi feito, cada um de acordo com suas limitações. O que é ruim é que a aposentadoria é um precipício rumo ao nada entre risos idiotas e afirmações impossíveis.
E nos aposentamos cedo.
A tecnologia já permite uma tremenda vitalidade, pelo menos intelectual, a quem quer usar o cérebro (o que sobrou). Computadores compensam as perdas da idade e os desafios existem, podemos renascer sempre, com outras metas, novos horizontes. O moribundo, se em vez de rezar, analisar seus tubos e remédios ajudará muito dizendo até se tudo aquilo é anatômico.
O problema é o medo [ (Miller, 1937) (Ferrero, 1945)].
O medo da morte e da perda de poder e de outras facilidades paralisam as pessoas. Impedem-nas de contribuir, de ser, de ajudar, de mostrar valores que talvez durante a vida inteira não foram capazes. E isso pesa nas horas finais da vida.
Ainda vivemos na fase da louvação, como alguns filósofos dizem de tempos passados. Bajular um ser superior é tão importante, após uma educação medieval a que fomos submetidos, que tudo acontece como se fosse normal.
O resultado das eleições é uma prova inconteste do preço dos eleitores, ou o império do medo, quem sabe a importância do marketing político, principalmente quando ele assume a forma de R$ 50,00 ou da promessa de algum poleiro no governo.
Um bom livro é “introdução à Filosofia” (Heidegger, 2009) quando ele procura definir o que é Ciência. Temos? Somos racionais?
Filosofia ou “filhosofia”, prazer ou dever, ser hedonista ou viver sem fazer muito para agradar a algum Deus é algo que depende demais da educação que tivermos.
Nesse momento, podemos até perguntar, escrever para quê?
Temos desafios que assumimos, aceitamos ou desprezamos. Qual é o nosso?
Cascaes
16.2.2011
Ferrero, G. (1945). O Poder, Os gênios invisíveis da cidade. (C. Domingues, Trad.) Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti - Editores.
Heidegger, M. (2009). Introdução à Filosofia. (M. A. Casanova, Trad.) São Paulo: WMF Martins Fontes.
Miller, R. F. (1937). Os Grandes Sonhos da Humanidade, condutores de povos, sonhadores e rebeldes. (R. L. Quintana, Trad.) Porto Alegre: Livraria do Globo.
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