Num dia de chuva em Curitiba
Quando digo à minha esposa que vou para o centro da cidade de ônibus ela reage, tentando me convencer a usar o nosso carro ou simplesmente ficar em casa. Essa preocupação aumenta em dias de chuva. E ela sabe o que diz, afinal moramos aqui há quatro décadas e vimos como a cidade está ficando hostil a todos que nela vivem sem grandes luxos.
De carro ela já foi agredida com uma barra de ferro numa tentativa de assalto, que só se frustrou porque a reação de outros motoristas foi imediata e eficaz, o ladrão fugiu. Ontem, conversando com uma das responsáveis por um bar no centro, ela me disse que fora do horário de ponta agora manterá as portas de vidro travadas, só deixando entrar quem conhece. No dia anterior um assaltante apontou um revólver para ela e só não fez a festa porque outro senhor, em sala contígua, reagiu afugentando o bandido.
Além desses problemas policiais na capital do Paraná (algo inimaginável há menos de dez anos) nota-se a cidade piorando, ou somos nós que, envelhecendo, começamos a sentir os efeitos de calçadas medievais, mal cuidadas e detalhes urbanísticos e comportamentais hostis às pessoas mais velhas, com deficiência, doentes e até às crianças.
Em 20 de janeiro de 2011 tivemos aguaceiros relativamente fortes em Curitiba.
Sem precisar de diploma nem pagar ART ao CREA constatamos a saturação do sistema de drenagem em alguns lugares (ou o mais provável, desmanche que a gente não vê, os canos estão sob as calçadas). Mais ainda, na Avenida Marechal Deodoro, que não faz muito tempo a PMC refez suas os passeios, já é visível a degradação do piso e a visão de marquises derramando água no alinhamento da pista tátil é algo inadmissível [ (E qual é o respeito ao deficiente visual?) (Cascaes, Marquises e a pista tátil em dia de chuva na Mal Deodoro em Curitiba) ], considerando a importância daquela via. Isso nos chamou a atenção porque, quase na esquina das duas marechais, vimos uma senhora deficiente visual caminhando com sua bengala a um metro de distância do circuito feito para PcDs visuais. Felizmente, com minha filmadora, pude registrar as razões dessa atitude mais adiante, ou seja, trechos (dois, pelo menos) em que as marquises derramavam água sobre a pista tátil.
Atravessando a Avenida Marechal Deodoro pensando no que poderia ser feito para um melhor gerenciamento dos passeios (Quem deveria cuidar das calçadas), registramos a conversa com um senhor que trabalha por ali e a dele e nossa visão de erros grosseiros de arquitetura e, mais uma vez, a deterioração do passeio (Nossas Calçadas).
Na Rua Tibagi, um pedaço de calçada transformou-se numa pequena piscina (As chuvas e as calçadas de Curitiba) e na Rua Pedro Ivo, próximo ao Terminal Guadalupe, a água passava com velocidade descendo de calhas e saindo de um pátio de estacionamento.
Andando, quase levei um tombo escorregando num maravilhoso paralelepípedo de uma de nossas calçadas com pedras irregulares.
Pensei muito nos apelos da minha esposa...
Ou seja, drenagem, acessibilidade, mobilidade, respeito à PcD etc. são qualidades precárias no centro da cidade (exceto dentro de shoppings). Temos muita gente para cuidar do estacionamento regulamentado, custava transformar esse batalhão em fiscais de cidadania com fichas para registro dessas irregularidades e acionamento regular dos responsáveis?
A drenagem e obras mal feitas, por si só, diante das calamidades que só não cansamos de ver por que aumentam, matando cada vez mais gente, são o exemplo eloquente da falta de vigilância técnica de nossas autoridades, especialistas, dos cidadãos em geral (artigos no Paraná Político).
Talvez ninguém mais acredite nos prefeitos 156 e seus assessores e vereadores...
Maravilhosamente ainda temos liberdade para escrever, filmar, fotografar, gravar entrevistas e pô-las no youtube, blogs, portais e até simplesmente criando mensagens que, para não irritar os cidadãos mais sem tempo, podemos enviar com sistemas de acesso voluntário (Facebook, grupos Google, twitter etc.).
Melhor ainda é poder dispor de um blog no portal “Paraná Político”, visto pelo povo de nosso Brasil inteiro. Isso é extremamente importante, pois devemos mudar conceitos, comportamentos e estimular responsabilidades.
Ontem, conversando numa reunião de amigos sobre esta situação, alguém lembrou a existência dos “Conselhos”, que existem de diversas maneiras em órgão públicos, estatais etc. Infelizmente esses dispositivos e outros de representação popular têm funcionado mal, do contrário muita coisa seria diferente.
A próxima etapa é, quem sabe, a mobilização direta, sem intermediários.
Vimos como o “Projeto Ficha Limpa” chegou lá. Temos outros exemplos, como grupos de debates virtuais (FOMUS, entre outros) que estão criando propostas e atingindo jornalistas, chefes de redação de grandes jornais e TVs, contribuindo para o agendamento de reportagens que ganham força quando aparecem nos melhores noticiários.
Precisamos aprender com nossos erros. O clima está mudando? A população envelhece? Os acidentes criam pessoas com deficiência? Gente humilde depende do transporte coletivo? As calçadas não prestam? O que fazer? O ideal não é corrigir erros antigos?
Vamos fazer blogs, filmar, escrever, trocar mensagens, criar bases para que aconteça uma evolução de conceitos e de convicções.
A qualidade de vida de nosso povo depende de todos nós e nós podemos muito, é só querer.
Cascaes
21.1.2011
Cascaes, J. C. (s.d.). As chuvas e as calçadas de Curitiba. Acesso em 21 de 1 de 2011, disponível em Cidade do Pedestre: http://cidadedopedestre.blogspot.com/2011/01/youtube-video-player.html
Cascaes, J. C. (s.d.). E qual é o respeito ao deficiente visual? Acesso em 21 de 1 de 2011, disponível em Gente Nossa - acessibilidade com dignidade: http://respeitodignidadeacessibilidade.blogspot.com/2011/01/e-qual-e-o-respeito-ao-deficiente.html
Cascaes, J. C. (s.d.). Marquises e a pista tátil em dia de chuva na Mal Deodoro em Curitiba. Acesso em 2011 de 1 de 2011, disponível em Quixotando: http://www.joaocarloscascaes.com/2011/01/youtube-video-player.html
Cascaes, J. C. (s.d.). Nossas Calçadas. Acesso em 21 de 1 de 2011, disponível em Ponderações Engenheirais: http://pensando-na-engenharia.blogspot.com/2011/01/nossas-calcadas.html
Cascaes, J. C. (s.d.). Quem deveria cuidar das calçadas. Acesso em 21 de 1 de 2011, disponível em Mirante pela Cidadania: http://mirantepelacidadania.blogspot.com/2011/01/quem-deveria-cuidar-das-calcadas.html
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