quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Remédios e negócios

Remédios e negócios
O progresso da Medicina com seus remédios e tratamentos é algo de extremo valor à sobrevivência da Humanidade. A perspectiva de vida aumenta sem parar e a vitalidade dos jovens é um testemunho do significado da não contaminação com doenças tão comuns há poucas décadas. A poliomielite era um fantasma em qualquer família assim como outras pragas terríveis. A ignorância agravava situações que viravam desastres eventualmente mundiais, como o foi a “gripe espanhola” (Iamarino)
O livro “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” (Narloch, 2009) mostra em sua página 58 a origem e efeitos de epidemias (que se transformaram em doenças endêmicas) monstruosas, que levaram a Humanidade a construir tantas e belas catedrais e queimar bruxas, parando só quando demonstraram a existência de causas bem materiais para os nossos males.
Muitos livros [(Os Grandes Sonhos da Humanidade, condutores de povos, sonhadores e rebeldes, 1937), (História da Vida Privada, 1991), (Fernando A. Novais, 1998) (A Inquisição, 2001)...] ilustram bem o que significava a ignorância em relação às doenças.
Somos frágeis, precisando de cuidados especiais, temos medo, procuramos soluções.
O ser humano desde suas origens procurou remédios e fórmulas materiais e mágicas para ter saúde. Em nosso Brasil tropical o conhecimento de nossos pais e de alguns especialistas em plantas e frutas medicinais, na forma de chás, unguentos etc. salvava a gente, ou complicava de vez. Algo interessante é o crescimento do conhecimento comum, enriquecido por ciências maiores, eventualmente sob o domínio de corporações ou indivíduos. Inúmeros povos aprenderam a enfrentar endemias com chás e alimentos escolhidos, de modo geral ritualisticamente para impressionar. É interessante saber que muitas vezes pisamos em pequenas plantas milagrosas e deixamos de se alimentar de forma correta. Mais curioso é o efeito da autossugestão, algo especial para quem é capaz.
Comportamentos isentos de interesses e paixões são, entretanto, raros.
Lamentavelmente nosso modelo econômico deu poder demais a algumas corporações, que por sua vez cuidaram de inibir a divulgação dos efeitos de alguns tratamentos e remédios que qualificamos como “naturais”. A mídia do remédio industrializado pode ser tão perigosa quanto seu desconhecimento. Pode-se até imaginar o retorno aos conselhos dos antigos usando plantinhas e frutas desprezadas. O radicalismo é ruim, mais ainda nessa área.
Unindo o antigo ao moderno, pode-se fazer maravilhas, evitando-se efeitos colaterais de remédios extremamente perigosos. Há pouco tempo, conversando com um amigo médico sobre as contra indicações de produtos artificiais para combater o colesterol, ele confessou tomar algo semelhante ao que eu agora fazia. Simplesmente não se deu bem com os comprimidos alopáticos.
No Brasil a EMBRAPA viabilizou progressos tremendos à agroindústria. Talvez devamos ter algo semelhante na área médica até porque, diante da tremenda biodiversidade nacional, devem existir produtos naturais que os remanescentes indígenas saberão ensinar, para dar início ao trabalho de cientistas brasileiros. A única ressalva seria colocar suas descobertas sob domínio brasileiro, para não sermos obrigados a importar coisas levadas daqui e espertamente devolvidas em belas embalagens a preços absurdos.
A questão básica é a indústria da saúde, que nos deixa tão inseguros quanto sua ausência. Naturalmente, havendo sentimentos hipocondríacos, é compreensível o desespero diante de caixinhas charmosas de remédios e exames caros. Muitos fazem fortunas cometendo operações e tratamentos desnecessários. Participando do Conselho da Fundação Copel (2001) ouvíamos estarrecidos as pressões para tratamentos absurdamente caros, pouco úteis e a transformação do Brasil em campo de experiências de multinacionais farmacêuticas. Éramos obrigados a cortar convênios e vetar pagamentos absurdos após análises de especialistas em auditorias extremamente desgastantes, quando a recomendação apontava para abusos inegáveis.
Precisamos confiar em médicos e remédios, mas, diante do que sentimos pessoalmente, há muito a ser feito, principalmente nessa questão “remédios” que, não raramente, transformam-se em tremendos venenos e vícios.
Para concluir, como será conduzido o PMNPC (Ministério da Saúde) no Governo Dilma Roussef?
Cascaes
10.1.2011

Fernando A. Novais. (1998). História da Vida Privada no Brasil (Vol. 3). São Paulo: Companhia das Letras.
Iamarino, A. (s.d.). O que foi a gripe espanhola em 1918. Acesso em 10 de 1 de 2011, disponível em Rainha Vermelha, evoluindo sem sair do lugar: http://scienceblogs.com.br/rainha/
Michael Baigeni, R. L. (2001). A Inquisição. (M. Santarrita, Trad.) Rio de Janeiro: Imago Editora.
Miller, R. F. (1937). Os Grandes Sonhos da Humanidade, condutores de povos, sonhadores e rebeldes. (R. L. Quintana, Trad.) Porto Alegre: Livraria do Globo.
Ministério da Saúde. (s.d.). Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares - PMNPC. Acesso em 24 de 1 de 2011, disponível em Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ResumoExecutivoMedNatPratCompl1402052.pdf
Narloch, L. (2009). Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Textos Editores Ltda.
Philippe Ariès, G. D. (1991). História da Vida Privada. Companhia das Letras.

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