quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Criminosos e criminosos

Criminosos e criminosos
O noticiário atual mostra a reação dos povos do norte da África contra governos corruptos e incompetentes. Estão demostrando que não são tão atrasados como gostamos de pensar. Nem poderia ser, afinal a civilização universal começou por ali, em torno do Mar Mediterrâneo. E aqui a Corte faz o que bem entende.
No Brasil, prestes a eleger José Sarney presidente do Senado da República, bem entendido, a ser eleito por seus pares que não deveremos esquecer jamais, a criminalidade impera. Nossas casas e ruas transformam-se em fortalezas. Afinal não moramos em shoppings centers nem podemos viver protegidos por esquadrões de seguranças.
O noticiário sanguinolento traz a informação de que o comandante do Corpo de Bombeiros matou algo em torno de 9 pessoas, após o assassinato do seu filho. Será que não acreditava na Justiça de nosso país?
Sabemos demais quando passamos por alguns cargos e serviços. Isso é ruim. O ignorante pelo menos pode ser feliz torcendo por seu time e bebendo uma cerveja no bar da esquina.
Vale contar algumas experiências pessoais.
No hospital, na UTI, há alguns anos, a enfermeira contava que “dobrava “seu expediente para manter sua filha numa clínica de recuperação de drogados”. Onde ela fora iniciada no vício? Numa escola pública local, o baseado era vendido a um ou dois Reais.
Viajando em Santa Catarina, naquela época, talvez pouco antes, um senhor exaltado contava, em voz alta, para seu vizinho de banco de ônibus, que desistira de procurar e acionar os assassinos do seu irmão, que o mataram após roubar o caminhão que dirigia há dois anos antes. De acordo com o que descobrira, os chefes da quadrilha eram figurões em Brasília.
A reportagem do Jornal Gazeta do Povo trouxe a declaração do comandante da PM do Paraná de que ele se sente impotente diante dos criminosos. O efetivo da PM fora desprezado, só faltam oito mil militares para completar o quadro...
Acompanhando um amigo que, desesperado, pedia proteção após a execução de um jovem em seu quintal, tivemos a mesma resposta de um antecessor dele, dizendo, inclusive, que o efetivo da PM no Paraná diminuíra em mais de setecentos policiais em 2009 sem reposição de vagas.
Conversando com amigos em cargos elevados eles dizem o nome, endereço e região de atuação dos grandes chefes de quadrilha de drogas de Curitiba. Outro já me disse que ocupam cargos políticos de relevância...
Como bandido não vai a cartório para registrar seus crimes, imaginamos a dificuldade da Polícia para inibir certos tipos de contravenção e crimes, até violentos, muitos determinados por pessoas ilustres.
Pior ainda, se alguma autoridade de alto coturno resolver fazer justiça com as próprias mãos, o que nós, que estamos impedidos de andar armados e vivendo no meio de estranhos devemos fazer?
Nossa convicção é a de que o crime organizado existe porque deixamos, somos alienados e elegemos pessoas erradas para cargos estratégicos.
Vimos como é fácil arranjar dinheiro para a Copa do Mundo, quando nossas autoridades querem descobrem fórmulas.
Vamos gastar muito para recuperar as Forças Armadas.
Teremos trem de alta velocidade para levar gente de um lugar para o outro, afinal parece que a humanidade resolveu que deve ter pressa para ir e vir sem saber para quê.
Temos propostas de soluções arrojadas ou óbvias:
• Liberar o tráfico?
• Investir em Segurança (já gastamos uma fábula contra o crime organizado)?
• Aumentar os padrões de iluminação noturna, radares, sistemas óticos, sensores, postos elevados de vigilância?
• Pesquisar e desenvolver vacinas? Remédios para rejeição?
• Permitir que todos usem armas?
• Implantar a pena de morte e processos sumários?
• Investir em Educação?
• Melhorar o padrão de vida do povo?
• Liberar o aborto?
• Que mais?
Para liberar o consumo de drogas existem objeções religiosas, éticas e a dúvida da eficácia. Com todos esses problemas talvez seja a melhor maneira de rapidamente termos algum resultado positivo. O desafio seria encontrar a maneira de inibir o consumo, que certamente será mais rigorosa do que os rótulos “o uso do provoca câncer, impotência etc”.
No livro (Freakonomics, O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta) temos os resultados da liberação do aborto nos EUA. Com certeza esse é um tema polêmico, mas não amar seus filhos não é uma forma de matá-los depois que nascem? O (Super Freakonomics, O lado Oculto do Dia a Dia) traz outros exemplos de situações que merecem discussão e são a continuidade do processo de análise de seus autores (geniais e corajosos) sobre o comportamento humano.
Todo dinheiro gasto em segurança poderia ser melhor usado. Infelizmente somos obrigados a fazê-lo para inibir a criminalidade e podermos voltar a viver com alguma tranquilidade. Acontece que o crime é um tremendo negócio (Napoleoni, 2010) e as pessoas ainda suficientemente selvagens e desinteligentes para encarar essa realidade, se é que é esse o interesse geral. É muito mais fácil rezar, torcer por algum time de futebol e falar da maldade do capitalismo. Quando muito, para apaziguar a própria consciência, adotar alguma forma de ativismo social, se possível dentro de uma ONG com o dinheiro do contribuinte, doações da Receita Federal e de Fundações Internacionais.
Urbanismo inteligente, mais segurança para o pedestre, boa iluminação noturna, substituição de árvores mal escolhidas etc. não passam pela cabeça dos nossos planejadores. É impressionante a limitação técnica dos “especialistas” e seus gerentes políticos.
O crime organizado em altos escalões é tabu. Ainda nesta semana, falando com uma grande autoridade estadual, as palavras desse indivíduo mostravam claramente seu espaço e o medo de ofender o chefe. Felizmente a Imprensa está abrindo essas caixas de poucas surpresas.
Maravilhosamente parece que alguns pesquisadores estão começando a ter resultados no esforço de se criar vacinas contra a dependência de drogas. Os fabricantes de bebidas, cigarros, remédios... e comerciantes de drogas ilícitas talvez estejam preocupados. Vão ter que descobrir outras formas de ganhar dinheiro fácil.
A restrição ao uso de armas no Brasil parece que vale só para quem não quer usá-las. Nossas leis são uma piada. E seria pior andar armado, com algum cuidado na autorização de porte de armas? Os suíços guardam fuzis militares em casa e nem por isso saem matando compatriotas.
Seria interessante a divulgação de pesquisas honestas, bem feitas, cuidadosamente montadas para avaliação da demonização do direito à segurança pessoal. Afinal não usamos automóveis? Existe arma pior? Vejam quantos morrem e ficam aleijados por ano em acidentes com o transporte motorizado individual (vítimas dentro e fora dos veículos). Além de poluir, matam. E como fica a indústria em torno das montadoras? O as prefeituras e estados sem o ICMS e a CIDE dos combustíveis?
Lamentavelmente algum infeliz convenceu nossos constituintes a transformar a pena de morte em cláusula pétrea de nossa Constituição. Os bandidos não a respeitam e nós gastamos uma fortuna para localizá-los, julgá-los e mantê-los por pouco tempo em jaulas de alta segurança, em casos especiais. Esse dinheiro poderia ser melhor usado.
Com certeza investir em Educação é indiscutivelmente uma das melhores formas de se corrigir comportamentos, desde que seja de boa qualidade, integral, capaz de afastar a criança e o jovem das ruas (e talvez dos pais). A escola bem feita, boa, é o melhor lugar para a criança viver. O problema é a necessidade de longos prazos, não podemos mudar o Brasil em poucos anos via Educação. Até lá, o que fazer?
Com certeza a miséria é fornecedora importante para o mercado de trabalho oferecido pelos traficantes. Com a redução do preço das drogas eles precisam de mão de obra barata. Se nenhum outro argumento existisse, esse talvez mexa no coração duro de muitos brasileiros, quando falamos em melhor distribuição de renda.
O aborto, é válido?
Essa é talvez a questão mais polêmica. Podemos até perguntar, o DIU não é abortivo? A pílula do dia seguinte não provoca aborto? Todo feto deve nascer? A criança é desejada? Aí voltamos ao que Freakonomics descobriu e publicou.
Uma coisa pode-se afirmar: a criança mal amada não será feliz e é um criminoso em potencial.
Cascaes
29.1.2011

Napoleoni, L. (2010). Economia Bandida. (P. J. Junior, Trad.) Rio de Janeiro: Difel.
Steven D. Levitt, S. J. (2007). Freakonomics, O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta (4 ed.). (R. Lyra, Trad.) Rio de Janeiro: Campus.
Steven D. Levitt, S. J. (2009). Super Freakonomics, O lado Oculto do Dia a Dia. (A. C. Serra, Trad.) Rio de Janeiro: Elsevier.

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