quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sócrates não tomava café, mas pensava muito e se comunicava intensamente.

Sócrates não escrevia, não tomava café, à sua época Gutemberg ainda estava a mais de um milênio do seu nascimento, a internet precisaria de mais cinco séculos para ser inventada após Gutemberg, e ele vivia numa cidade menor que nossos bairros clássicos de Curitiba. O fantástico é imaginar, como diriam alguns hoje em dia, a energia positiva do Mar Egeu e um pouco menos produtivo, o Mediterrâneo como um todo naquela época rara da história da Humanidade.
Sócrates existiu, Platão que o diga.
Condenado a se suicidar, pagou pelo crime de falar, ensinar a pensar. Acima de tudo Sócrates colocava a dúvida como condição de raciocínio. Que heresia num mundo que adora certezas. Cometeu o grave pecado de contrariar interesses das elites, provocar invejas e corromper a juventude...
Criado em ambiente, lembrando minha história pessoal, que misturava a dúvida do meu pai com a certeza de alguns professores de religião, nascido em Blumenau, onde a disciplina era sagrada, tendo tido a oportunidade fantástica de morar durante um ano inteiro em São Paulo como simples estudante de cursinho, acreditando que nunca seria nada de importante, afinal tinha companheiros brilhantes estudando para o vestibular ou frequentando universidades fantásticas, com destaque para o ITA, simplesmente assistia as aulas e passava os finais de semana visitando museus, pinacotecas, o Parque do Ibirapuera, com visitas obrigatórias ao Planetário e antes, no Teatro Municipal (aos domingos), ouvindo, extasiado, os concertos da orquestra daquela cidade. Conversar, ou melhor, ouvir alguns amigos do ITA era algo extraordinário...
Eram tempos de grande liberdade, mas de muitas dúvidas. A política se enfurecia nos debates ideológicos e na fragilidade de governos federais inconsequentes. Nossa geração aos poucos se envenenava nas convicções que mataram tantos e deixaram outros com lesões físicas e culturais permanentes.
Em Itajubá, anos sessenta, em algum momento, tivemos a ideia de criar um Centro de Debates. Coisa de estudantes que chegou a reunir no quarto de minha república no Edifício Issa quatorze pessoas de todo tipo (sargentos, padres, vestibulandos, estudantes do IEI, visitantes etc.). Foi uma experiência fantástica poder gastar algumas horas da semana discutindo conceitos, visões e teorias da vida, do mundo, do Universo.
Aliás, lá, sem fumaça, neblina e excesso de luzes na atmosfera, podíamos passar horas e horas deitados no telhado da república vendo as estrelas, os meteoros, a Via Láctea, Andrômeda, as constelações, a Lua (que atrapalha) etc., pouco a pouco dominando seus nomes e localizações. Víamos e simplesmente sonhávamos de leve com o futuro e nossas obrigações (e prazeres) juvenis.
O tempo passa, somos obrigados a entrar na Terceira Onda (Toffler), sustentar e cuidar da família, exercer algum trabalho extra e assim vamo-nos alienando.
Felizmente bons filmes, alguns realmente excelentes, e livros fantásticos, agora enriquecidos com programas de TV eventualmente educativos, honestos intelectualmente, sem sectarismos alienantes, permitem-nos retomar estudos, mais ainda quando aposentados de fato e de efeito, afinal a máquina humana fica desgastada, improdutiva, descartável com o tempo.
É o tempo de aprender a usar novas formas de comunicação. Para isso temos momentos especiais. O meu foi uma tremenda forçada do Dr. Pedro Carlos Carmona Gallego, que num intervalo do GFAL obrigou-me a fazer o primeiro blog. Durante um mês diversas vezes me questionei sobre o que faria com aquele espaço, já que a sensação era de que ninguém se interessava pelo que escrevia. Aos poucos fui pegando a malícia do método e descobrindo o planeta Google. Genial, apenas gastando tempo e internet comecei a fazer blogs, primeiro um que minha filha reclamou, dizendo que tinha coisa demais. Depois fui criando outros, escolhendo temas, tentando enfeitá-los, criando minha rede social entre meus próprios blogs e de amigos.
Maravilha das maravilhas, o youtube foi a janela que precisava para completar os blogs. Assim passei a usar exaustivamente a minha filmadora e máquina fotográfica, registrando tudo o que julgava merecer ser visto e ouvido (minha voz é horrível, paciência).
O tempo passa e os livros e filmes trazem inspirações.
Começando a ler, estou apenas começando a ler, o livro “Um Café para Sócrates” (Sautet) veio a inspiração.
Por quê não criar um blog com a denominação “ Café para Sócrates” tentando reproduzir o ambiente de discussão (e as regras) expostas no livro citado? Quem sabe outros produzam blogs similares, como, por exemplo, um vinho para Sócrates, algo que certamente ele tomou. Os mais ingleses fariam um chá para Sócrates, os maldosos “cicuta para Sócrates” e assim, um sabendo do outro, aproveitando gadgets dos blogs e colocando links com esses blogs vamos fazer uma rede WEB de Filosofia?
É só querer, se querem, já deve existir, suponho.
Assim, meus amigos, convido-os a participar do blog e do grupo de discussão “Um Blog para Sócrates” [(João Carlos Cascaes, Tânia Rosa Ferreira Cascaes) e (um-blog-para-socrates@googlegroups.com)], esperando contribuir para a formação de um ambiente amplo de discussão no espírito grego, que Elizabeth Gilbert resumiu esplendorosamente (página 210) no seu livro (COMPROMETIDA) dizendo: “Dos gregos dos dias gloriosos da antiga Atenas, especificamente, herdamos as ideias de humanismo secular e santidade do indivíduo. Os gregos nos legaram as noções de democracia, igualdade, liberdade pessoal, razão científica, liberdade intelectual, abertura de pensamento e o que hoje chamamos de “multiculturalismo”. A noção grega da vida, portanto, é urbana, sofisticada e investigativa, sempre deixando bastante espaço para a dúvida e o debate”. Ou seja, é isso que esperamos sugerir, viabilizar, encorajar os amigos para a Filosofia usando a internet, blogs, youtube etc.
Sem mordomias, viagens, hotéis ou bares podemos muito, é só querer se comunicar.

Cascaes
7.2.2011
Cascaes, J. C. (6 de 2 de 2011). Fonte: um-blog-para-socrates@googlegroups.com: http://groups.google.com/group/um-blog-para-socrates?hl=pt-BR
Gilbert, E. (2010). Comprometida, Uma História de Amor. (B. Medina, Trad.) Objetiva.
João Carlos Cascaes, Tânia Rosa Ferreira Cascaes. (6 de 2 de 2011). Uma proposta e uma ideia. Fonte: Um Blog para Sócrates: http://um-blog-para-socrates.blogspot.com/2011/02/uma-proposta-e-uma-ideia.html
Sautet, M. (s.d.). Um Café para Sócrates. (V. Ribeiro, Trad.) José Olympio.
Toffler, A. (s.d.). A Terceira Onda. Record.

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