quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cartelas, parafusetas, rebimbelas e a Democracia

Cliente ignorante e exigente merece explicações tolas e apressadas. Nossos ministros de vez em quando se apressam a prestar informações inadequadas a acidentes ruins, fazendo lembrar as piadas ou situações em que a “rebimboca da parafuseta” (UNICAMP) explica e até justifica orçamentos de consertos de coisas que não entendemos.
O estilo imperial da Corte pode levar alguns a convicções de onisciência, onipresença e onipotência. Esses deuses gostam da telinha dos noticiários e aparecem em momentos inadequados, querendo dizer coisas apressadas, talvez acreditando no que falam.
É também extremamente leviano julgar pessoas à distância.
De qualquer forma somos obrigados a criticar, até ofender cidadãos quando os vemos ou ouvimos dizendo besteiras ou improvisações mal feitas. Talvez as intervenções ministeriais desastradas, normalmente algumas horas após o desastre, sejam consequências da disposição de se retirar da mídia temas que denunciem erros crassos, falhas de administração.
A ofensa é proporcional ao cargo e ao grau de entendimento do cidadão, que ouve as explicações. Pior ainda é a dúvida em relação à capacidade de nossas altas autoridades. Se elas não entendem o que fazem, quem nomearão para cargos intermediários?
Tivemos eleições, quais foram os critérios do povo ao escolher os candidatos?
Nosso sistema é presidencialista, parlamentarista ou alguma forma com estilo Frankenstein? Parece estar pelo padrão assustador desse personagem que já teve até comédia de Mel Brooks (O Jovem Frankenstein).
É pouco provável que a maioria absoluta do povo brasileiro elegeu seus representantes no Parlamento pensando na administração do país. Essa qualificação, de modo geral, recai sobre a votação para prefeito, governador e presidente da República. Não aceitamos tranquilamente as negociações partidárias. Quando sabemos que o governo é o resultado de acordos políticos sentimo-nos traídos, pois esses acordos não são evidentes, registrados em cartório, nada transparentes. Pior ainda é imaginar a qualidade de alguns ministérios...
Descobriremos as piores razões, se acontecerem dentro de acordos mal intencionados, se algo delituoso acontecer e alguém denunciar, após inquéritos policiais e se a Mídia quiser e puder publicar após alguns anos (precisamos de muitos “se” em sequência). Os escândalos passados ensinaram muito.
Precisamos readquirir a confiança na Democracia. Se o período militar tivesse alcançado um sucesso um pouco maior, os brasileiros não teriam (atualmente) pejo em se declarar simpáticos aos militares que nos governaram. Erraram, fizeram besteiras e assim a nação aplaudiu a redemocratização. As desilusões, contudo, não demoraram. Ninguém imaginava a morte de Tancredo Neves antes mesmo de tomar posse. A figura ruim de Sua Excia. José Sarney e a de seus sucessores aconteceram numa sequência de administrações atrapalhadas. E quando a massa se entusiasmou, decepcionou-se logo. Felizmente o Presidente Lula salvou a pátria, conseguindo terminar seus dois mandatos com tanto sucesso (apesar de momentos extremamente polêmicos) que foi sucedido por sua candidata num país machista. Ou terá sido o descrédito em relação aos líderes de oposição? Ou a tudo isso e mais alguma coisa? De qualquer jeito a paixão do povo pelo seu Presidente foi decisiva. Se isso não tivesse acontecido, dificilmente estaríamos hoje em regime democrático.
Mas vemos nossos ministros e nos perguntamos, por quê?
As catástrofes teimam em se repetir, só mudam de lugar. Os erros e apagões acontecem. Cartelas? Co2? Explosões de gasodutos? Desmanche de portos? Incompetência? Corrupção? Omissão? As explicações, via de regra, omitem nomes e atos mal feitos.
Não podemos acusar um governo que inicia de falta de capacidade. Isso seria algo de irresponsabilidade atroz. Não dá para esquecer, contudo, a cara de um ministro explicando com “cartelas” as causas de nossos infortúnios mais recentes.
Vale a analogia com os grandes acidentes que nos afetaram. As famílias das vítimas da Air France no voo 447 (Wikipédia) para Paris se contentariam com o aparecimento de algum ministro francês dizendo que tudo seria culpa de alguma placa de computador e as coisas se encerrassem por aí?
Pois é, vivemos sob apagão da racionalidade técnica, da falta de Engenharia (A formação do Engenheiro e ser Engenheiro) demolida durante anos e anos e na ausência de instrumentos eficazes de punição e compensação de erros das concessionárias e seus responsáveis.
Entregamo-nos ao “mercado” e às crônicas de gente hábil no falar e ignorante em questões técnicas. Qual foi o resultado (Cascaes, Engenharia - Economia - Educação e Brasil)?
Nunca, talvez, o Brasil tenha tido uma regressão técnica tão violenta quanto nessas décadas a partir dos anos oitenta. Perdemos competência, mergulhamos em fantasias, esquecemos nossa realidade.
Talvez por tudo isso tenha sido gratificante perceber que o Presidente Lula, ao final de seu mandato, tenha acusado os defensores de pererecas (MERGEN, 2010) pelo atraso de um túnel cuja ausência significou mortes ou lesões permanentes em muitos brasileiros. Talvez por atuação de alguns bons ministros nosso Lula mudou, avançou na forma de governar.
Alguns governantes regridem, outros evoluem, parabéns ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concluiu seu mandato diferenciando e avaliando situações. O Brasil dos papagaios e das pererecas (Oliveira, 2010) precisa dar lugar ao Brasil dos brasileiros, que além de boas estradas, portos, aeroportos, boas escolas, energia, água, esgoto, coleta de lixo etc. precisa de bons ministros, reitores, professores, engenheiros, secretários, presidentes de estatais etc..
Cascaes
6.2.2011

Amazon Company. (s.d.). O Jovem Frankenstein. Acesso em 6 de 2 de 2011, disponível em IMDb: http://www.imdb.com/title/tt0072431/
Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: A formação do Engenheiro e ser Engenheiro: http://aprender-e-ser-engenheiro.blogspot.com/
MERGEN, G. (29 de 7 de 2010). Lula diz que País não pode ficar a serviço de uma perereca. Acesso em 6 de 2 de 2011, disponível em Terra: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4594081-EI7896,00-Lula+diz+que+Pais+nao+pode+ficar+a+servico+de+uma+perereca.html
Oliveira, N. C. (2 de 9 de 2010). Pererecas e papagaios são coisa séria. Acesso em 2011 de 2 de 2011, disponível em O Empreiteiro: http://www.oempreiteiro.com.br/index.php?page=blog.php&id=80&id_edicao=
UNICAMP, c. d. (s.d.). Rebimboca. Acesso em 6 de 2 de 2011, disponível em Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas: http://www.ic.unicamp.br/~stolfi/PUB/misc-misc/RebimbocaDaparafuseta/Rebimboca.html
Wikipédia. (s.d.). Voo Air France 447. Acesso em 6 de 20112, disponível em Wikipédia, enciclopédia livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/Voo_Air_France_447

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