Viajando pela Colômbia ouvimos de muitos, que lá vivem, que a privatização foi a única saída contra a corrupção que encontraram. Essa não era uma afirmação de gente rica, mas sim de pessoas comuns em qualquer lugar. Algo “espantoso” é que os serviços privatizados funcionam bem e a Colômbia mostra uma boa infra-estrutura, que certamente seria melhor se não precisasse gastar uma fortuna na guerra contra as FARC.
No Brasil, além dos problemas que a campanha eleitoral apontou, temos de forma preocupante a corrupção e a incompetência de empresas privadas, que só não são melhor percebidas porque, estranhamente, as pessoas (e a mídia) pensam que numa concessionária de serviços públicos “não estatal” o problema é dos proprietários das empresas, esquecendo que companhias mal administradas trabalham mal, podendo até criar situações perigosas. Por exemplo, estamos com centenas de projetos de centrais de energia em mãos particulares. Será que estão sendo devidamente auditadas? As empresas de transporte aéreo estão em dia com os cuidados técnicos necessários? Os gasodutos são confiáveis? As ferrovias estão funcionando bem? Os projetos, obras, manutenções e a operação são adequados, justos, suficientes e de boa técnica? Essa é uma pergunta para as estatais também, pois aqui é comum notar que a Engenharia deu lugar para a economia porca. É bom lembrar que desastres com barragens, transporte de gás, trens e similares não se limitam a interrupções de serviços...
E a privatização?
Vender estatais pode ser uma ação eficaz desde que dentro de processos honestos e justos. Pior é perdê-las por incompetência.
Pode-se privatizar um estado submetendo-o a ações ineficazes, deixando suas estatais nas mãos de pessoas inabilitadas e/ou desonestas, criando-se precatórias, não pagando dívidas etc. Um mau governo tem, em pouco tempo, condições de desmontar estruturas que mereciam o respeito de todos. Sem opções, o povo se vê na última hipótese que é vender suas empresas e esperar que as coisas melhorem.
Quem quebra cai nas mãos dos credores.
No segundo mandato FHC o Brasil sentou no colo do FMI por efeito de um longo e colossal período de desperdício de divisas. Em alguns estados a venda de estatais foi a única solução para dívidas impagáveis e vícios crônicos na administração pública. O que precisa ser visto, lembrado, repetido, contudo, é que os remédios nem sempre são razoáveis.
A Europa e os EUA passam agora por uma tremenda turbulência, vamos ver que xerifes colocarão nas economias e administrações de seus países. Quebraram no dominó da especulação e de critérios errados de investimentos perdulários.
Aqui estamos sob intervenção dos emprestadores de dinheiro. É fácil perceber isso na preocupação embutida via mídia sobre a independência do Banco Central e manutenção dos cuidados monetaristas.
O Brasil perdeu tempo, dinheiro, desenvolvimento etc. com lógicas de má administração de tudo, simplesmente.
E a política?
Talvez a pior privatização que existe em nossa terra seja a das campanhas eleitorais, onde alguns candidatos gastam fortunas explícitas para se elegerem, outros, além dessas fortunas “democráticas”, ainda consomem doações via caixas 2, 3 etc.
Cascaes
20.11.2010
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