terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia de Finados

Hoje é o dia de se reverenciar os mortos. Provavelmente seja algo que pouca ou nenhuma diferença fará a quem faleceu, mas, talvez, extremamente importante a quem sobrevive. Quem não tem algo a se arrepender? Ou lembrar com alegria da convivência com aqueles que motivaram a ida aos cemitérios? Em torno da morte material do corpo humano há muitas teorias e poucas convicções, tanto que até os Papas relutam em passar para o céu. Assim vale, prudentemente, não esquecer que chegará o tempo em que estaremos sob a terra e nossos descendentes talvez façam o que devemos fazer hoje. Talvez nos ajude de alguma forma.
Tivemos eleições. A política é uma arte que, para seus atores, tem começo, meio e fim. Ou seja, nascimento, vida e morte. Para justificar dedicações existem autênticas religiões, que denominamos ideologias, com direito a rituais e sacerdotes além dos grandes teóricos.
É interessante ver essa necessidade de racionalização de tudo o que fazemos, talvez um indício de que sejamos seres pensantes. Hoje muitos devem estar se convencendo do ocaso político ou festejando vitórias, pior ainda, tentando resolver a intrincada lógica de distribuição de favores para compensar apoios (com o dinheiro do contribuinte) e garantir o futuro.
Com a Democracia, ainda que extremamente relativa, ganhamos (nesse ano de 2010) novos executivos e conversadores (parlamentares). Novos em termos, a maioria é antiga e existe falando mal um do outro há muito tempo. Foram, contudo, responsáveis pela quantidade imensa de leis, decretos, portarias etc. que ganhamos após o período militar assim como uma carga fiscal gigantesca, mal usada, desperdiçada.
Tivemos, nesse período de tantos patrocinadores de campanha, privatizações de serviços essenciais. A tese era a necessidade de divisas, melhorar a qualidade dos serviços públicos, reduzir custos, evitar-se a corrupção. Na maioria das vezes o remédio mostrou-se pior do que a doença, muitos ainda acreditando o contrário (a propaganda faz milagres e é um grande negócio) porque ignoram onde poderíamos estar se, simplesmente, existisse mais rigor na administração pública, algo possível graças às muitas maneiras de vigilância (formais e informais) do governo agora possíveis. O único detalhe é que fiscalização, vigilância e cobrança de resultados deveria ser algo a ser ensinado já no berçário. Nosso povo foi educado, e ainda é, para ser alienado. O que importa é pão e circo. E a corrupção? Mudou de formato.
Nesse dia de Finados gosto de lembrar meus pais. Passaram a vida, após casados, trabalhando muito, de forma espartana, preocupados acima de tudo com a educação dos filhos. Meu pai, fumante inveterado, morreu muito cedo, fez muitíssima falta. De qualquer jeito deixou a imagem das funções paternas, do que um homem precisa fazer e de quanto faz falta quando, por uma razão ou outra, deixa seus filhos e esposa antes do tempo. Nesses tempos de culto a aventuras e paternidade irresponsável, vem à minha cabeça permanentemente o que significou conviver com uma pessoa tão especial. Só lamento não ter filmado suas conversas, possuir textos, palavras desse homem extraordinário.
Com Pedro Cascaes (meu pai) aprendi muito da dinâmica da Política. Era nosso assunto diário (apesar da minha idade sempre me tratou como se fosse um adulto), enquanto viveu. Talvez, enojado das coisas nacionais, falasse pouco do que acontecia no Brasil, nominando “em passant” partidos e lideranças; de qualquer jeito a lógica, o comportamento de pessoas e ideologias era nosso assunto, algo até natural naqueles anos logo após a Segunda Guerra Mundial e durante guerras que nunca deixaram de existir, início de um período de transformações colossais.
Nesse dia, cuja celebração começou no século II de nossa era cristã, há quase dois milênios, fomos induzidos a rezar pelos mortos. Outros, como os asiáticos, prestam-lhes reverências diariamente, em suas casas, desde tempos imemoriais. Lembrar com orgulho e respeito nossos ancestrais no mínimo é sinal de que temos quem homenagear, isso é muito bom.

Cascaes
2.10.2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário