segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Orquestra natural

O bairro Vila Izabel (Curitiba) ainda tem muitos sons naturais, que, durante o dia, se misturam à zoada de aviões, automóveis e caminhões além de outros barulhos diferentes. Mudou muito em trinta anos. Quando viemos morar por aqui, um pouco mais do que três décadas passadas, tínhamos a orquestra dos anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas), que simplesmente desapareceu. Felizmente ainda somos brindados com o canto dos passarinhos, alguns em gaiolas, a maioria soltos, sobrevivendo apesar do foguetório que eventualmente fazem para comemorar alguma coisa, a fumaça dos veículos e principalmente a perda de terrenos onde árvores distantes das ruas viabilizavam seus ninhos.
De Blumenau permanece na lembrança os tico-ticos, coleirinhas, saíras, canários da terra (reaparecendo em Curitiba), azulão... e o sabiá.
Assim, com nostalgia, revejo alguns na capital paranaense, que além de usar assustadoramente o tal de “solo criado”, ou melhor, malcriado, cresce perigosamente incrustada na Mata Atlântica, de onde muito poderemos recuperar se tomarmos alguns cuidados.
A audição sumindo e o tinnitus (Dá-se o nome de zumbido, ou ainda acúfeno, tinnitus ou tinido, a uma sensação auditiva cuja fonte não advém de estímulo externo ao organismo, é um sintoma associado a várias formas de perda auditiva. Ele pode ser causado por exposição prolongada a sons acima do volume limite para a saúde humana, 105 decibéis, acima do qual é possível causar dano permanente na audição, e ainda outros problemas, como de circulação. Wikipédia) incomodando, procuramos sons que poderemos perder em breve.
Felizmente podendo dormir e acordar a qualquer hora, afinal esse é um privilégio de crianças e idosos aposentados, não é difícil acordar de madrugada para saborear a cantoria de inúmeros pássaros que na primavera aparecem por aqui. Onde estão? Que passarinhos são eles? Não sabemos, mas o canto do sabiá é inconfundível, forte e com muita arte.
Quem sabe algum músico possa colocar em pauta, escrita de músico, o que esses pequenos grandes seres conversam. Felizmente temos a evolução dos computadores, transdutores, softwares. Talvez em breve possamos “baixar” em nossos computadores portáteis alguns programas que, mais microfones, permitam ver, ler e ouvir de diversas formas os sons que eram nossos há meio século e poderão desaparecer em breve. Maravilhosamente as máquinas fotográficas digitais são, também, filmadoras e boas gravadoras de sons; temos o youtube e os blogs, assim já é fácil registrar, arquivar e mostrar muito de nossa fauna e flora.
Ou seja, já podemos construir “livros digitais” sem prateleiras, públicos ou, egoisticamente, se assim quisermos, para uso exclusivo de alguns. O que é importante agora é sabermos usar a Tecnologia para preservação e, se possível, recuperação de maravilhas da Natureza em processo de degradação (infelizmente).
De qualquer forma, com ou sem gravadores e internet, não podemos perder o que sobrou. Precisamos repensar nossas cidades e padrões de vida para darmos espaço ao paraíso que estamos destruindo com o “progresso”.

Cascaes
7.11.2010

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