Assimetrias e comportamentos na Colômbia
A Colômbia e o Chile têm sido apresentados como “alter ego” de outros países da América Latina. Realmente, abraçaram o liberalismo econômico e assim destoam daqueles, talvez mais realistas e sensíveis à realidade mercantilista do mundo, que aproveitam suas riquezas naturais e a capacidade de trabalho dos seus povos para a construção de uma sociedade mais justa.
A Justiça, contudo, tem aspectos relativos.
Voltando a falar da República da Colômbia, país com pouco mais que um milhão de quilômetros quadrados, quarenta e quatro milhões de habitantes e índices sociais não muito diferentes dos nossos, é país interessante e cheio de surpresas.
Estivemos nesse mês de outubro na Colômbia e diversas vezes perguntamos a colombianos porque lá até a segurança nas praias (contra afogamentos) era não estatal, a resposta foi sempre a mesma, foi o caminho encontrado contra a corrupção nas praias, empresas, rodovias etc..
Talvez isso nos levasse a crer estarmos em um país puritano ou insensível ao povo. Não foi o que vimos.
Algo, por exemplo, que chamou a atenção foi a qualidade de suas obras. Bem feitas, com padrões de projeto, execução e atenção às necessidades das PcD, por exemplo, excepcionais.
Nas rodovias, numa delas, ao menos, vimos ciclovias protegidas ao longo da pista para os carros e passarelas muito bem feitas.
Bogotá tem 52 museus. Podemos concordar que a história dos povos précolombianos é fascinante, justificando tantos mostruários. Mas num desses lugares de Cultura para o povo, sem custos, com o patrocínio de alguma instituição, vimos dois museus, contíguos, geminados, geniais. Um museu sobre arte, com mais espaço para Botero, mas muitas obras de artistas internacionais famosos, e o outro da moeda, lembrando até os tempos em que os galeões partiam cheios de ouro e prata para a viabilização de guerras, castelos e catedrais na Europa ao preço da destruição da cultura americana mais antiga.
De tudo o que vimos, contudo, chamou demais à atenção a cidade de Zipaquirá.
Compensa apresentá-la:
Zipaquirá é uma das cidades mais antigas de Colômbia, suas origens antecedem à época da Conquista. De seu atual nome há duas possíveis origens um deles é extraído do povo indígena que habitou ao pé do Cerro do Zipa, "Chicaquicha", que traduz "nosso cercado grande" ou segundo outras fontes "Cidade de nosso pai" e até o Século XIX se exibia com C, e a outra corresponde a Zipa título outorgado ao que era o governador do povo e de sua esposa conhecida com o título de Quira, de ali Zipa-Quirá. Os indígenas, que ali habitavam, localizavam-se na parte alta da mina chamada "Povo Velho", agora conhecido como Santiago Pérez, aproximadamente 200 metros acima em relção ao lugar que hoje ocupa a cidade, onde à chegada dos cronistas espanhóis (1536) "alçavam-se uma centena de moradias, com uma população de 1.200 pessoas".
Estas terras pertenciam aos domínios do Zipa de Bacatá (Bogotá atual), senhor de parte-a sul do povo Muisca. Esta zona da Savana de Bogotá era cercada naquela época por uma sucessão de pequenos lagos e ribeirões, que permitiam o transporte de seus habitantes em canoas, meio pelo qual os habitantes de Nemocón, Gachancipá e Tocancipá chegavam a Chicaquicha para se abastecer no precioso sal, que trocavam por vasilhas e tecidos. O sal era também trocado com povos de toda a região andina de Colômbia incluindo os Panches, Tolimas e Pantágoras no atual departamento do Tolima, e os Muzos do atual departamento de Boyacá.
O município conta também com uma importante atividade agrícola na qual se destaca a produção de leite. A atividade industrial da região está estreitamente associada com a produção, processamento e refinamento de sal. Tem uma população estimada em uns 100,000 habitantes (zipaquireños).
... um dos eventos mais reconhecidos na região são suas majestosas procissões de Semana Santa, organizadas há 54 anos pela Congregación de Nazarenos de Zipaquirá, quem percorrem durante toda a semana as ruas da cidade com as mais formosas imagens religiosas espanholas que atraem aos próprios e estranhos. Os turistas participam ativamente durante a Sexta-feira Santa quando a procissão do Caminho da Cruz sobe até a Praça do Mineiro na entrada de Catedral de Sal.
Nela visitamos uma Catedral de Sal (70% do povo colombiano é católico praticante), feita dentro de uma antiga e já explorada mina de sal. Aliás, o cloreto de sódio é base da história daquele povo que, extraindo-o do solo e convertendo-o em sal de cozinha, mantinha sua nação pré-colombiana. Mais tarde virou indústria comum, essa mina esgotada pela produção intensiva.
Melhor que qualquer detalhamento comercial e industrial é ver o respeito ao pedestre e ao ciclista. Calçadas impecáveis, ciclovias excelentes.
As calçadas mostram detalhes de acessibilidade e modernização técnica, apesar da riquíssima história daquele povo. Mais importante que a preservação de valores culturais em Zipaquirá é a atenção ao PcD, ao idoso, ao cidadão em suas diversas formas e capacidades. Que diferença do Brasil!
Cascaes
5.4.2010
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