Na história da humanidade tivemos uma evolução quase constante, com retrocessos terríveis em alguns períodos. Esse ciclo de pensar, propor, lutar, vencer, testar, avaliar, corrigir ou abandonar, recomeçar novos comportamentos levou nossa espécie animal ao patamar em que se encontra e à vitória um tanto relativa contra outras espécies vivas. Nessa caminhada ao longo dos tempos o cérebro humano se desenvolveu, perdeu acuidade sensorial, ganhou massa cefálica, mas ainda mantém arquétipos dos seus tempos mais selvagens.
Estamos sempre ensaiando modelos e conceitos.
De tempos em tempos alguns iluminados descobrem “soluções permanentes”. Nada mais evidente desse comportamento do que as religiões e as ideologias. No embate filosófico e nas lutas armadas ganhamos estratégias de convencimento que podem ter sido utilíssimas em algumas circunstâncias. Podemos perceber, contudo, que inibem o raciocínio, a capacidade de julgamento das pessoas, levando-nos para comportamentos de intolerância perigosos, quando não explicitamente agressivos e violentos, ou simplesmente a ser formais, burocratas, autômatos nas mãos de KGBs e delegados de partido.
Pior ainda quando as ideologias se transformam em religiões ou se unem a essas formas de explicar e governar os processos sociais. As fogueiras inquisitoriais e os campos de extermínio nazista são alguns dos exemplos possíveis. O genocídio muitas vezes ancorou-se na necessidade de mandar para outro mundo os infiéis ou simplesmente criar espaços vitais para raças superiores, assim entendidas porque teriam a missão divina de colonizar a Terra.
Quando falamos de extermínio sistemático não podemos esquecer o que aconteceu nas três Américas. Nessa parte do planeta, dando continuidade ao que povos pré-colombianos já faziam, nações “indígenas” (entre aspas porque essa denominação é um tremendo equívoco e já deveria ter sido proibida pelos amantes da semântica) foram eliminadas (As veias abertas da América Latina) para que os colonos pudessem rezar com mais tranqüilidade, plantar, colher, criar gado e até fazer uma reforma agrária em cima de territórios indígenas, como aconteceu nos EUA no meio do século 19.
A humanidade é, assim, territorialista, materialista apesar das religiões mais zen, tribal, egocêntrica. Afinal, apesar de tudo, o egoísmo é ruim? Não seria fundamental à sobrevivência em ambiente hostil? Seja como for, a ignorância e os excessos causaram tragédias colossais.
Precisamos avançar, evoluir. Para crescer intelectualmente todos deveriam estudar, ler, aprender sobre si mesmos, praticar esportes, freqüentar museus, ver, cheirar, ouvir, tocar a natureza que aos poucos está perdendo. De que jeito?
Obviamente sempre existirão utopias. Utopias porque ignoram a espécie humana. Assim sendo devemos nos ater a novas tecnologias e a coisas óbvias tais como uma legislação trabalhista associada à fiscal, que iniba o trabalho exaustivo, escravo, infantil, excessivo. Devemos aos poucos substituir atividades por autômatos e teletrabalho, fugir dos depósitos de gente onde pretensos administradores proíbem até o cafezinho, exigindo deslocamentos poluentes e cansativos entre residência e local de trabalho, simplificar hábitos, exigir menos aparência física e ter mais orgulho do engrandecimento intelectual.
Precisamos esquecer um pouco (ou muito) o Produto Interno Bruto (PIB) e valorizar a Felicidade Interna Bruta (FIB) (Susan Andrews, 2010). É fundamental combater drogas alucinantes, pois nunca foi tão importante a inteligência sadia.
Usar nossa competência para lembrar que o amor é a chave de uma vida feliz. Vamos valorizar acima de tudo as crianças, a maternidade, a mulher em suas atividades mais do que vitais. Esquecer o esporte espetáculo e refazer praças de esporte, de ginástica e de saúde. Diante da saturação das monstrópolis devemos aproveitar espaços desperdiçados num país de oito e meio milhões de quilômetros quadrados redistribuindo cidades. Impõe-se repensar técnicas de urbanismo, transporte, acessibilidade e acima de tudo fugir das teses dispersivas, falsas, ilusórias.
Nós, brasileiros, temos oportunidades infinitas, ainda. Só devemos cuidar para não cair nos figurinos gastos, desacreditados. É tempo de ler e reler os livros [ (Masi, A Economia do Ócio) (Masi, O Futuro do Trabalho, fadiga e ócio na sociedade pós-industrial, 1999) (Masi, O Ócio Criativo)] de Domenico De Masi.
Cascaes
23.11.2010
Galeano, E. (1978). As veias abertas da América Latina. (G. d. Freitas, Trad.) Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Masi, D. D. A Economia do Ócio. Rio de Janeiro: Editora Sextante (GMT Editores Ltda.).
Masi, D. D. (1999). O Futuro do Trabalho, fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. (Y. A. Figueiredo, Trad.) UNB e José Olympio.
Masi, D. D. O Ócio Criativo. Sextante.
Susan Andrews. (2010). Felicidade Interna Bruta - FIB. Fonte: site daproposta FIB: http://www.felicidadeinternabruta.org.br/
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