domingo, 28 de novembro de 2010

Gangrena social e política

Quem passou sua vida trabalhando no Setor Elétrico e conviveu com eletricistas, alguém que é eletricista de fato, provavelmente já teve a desgraça de vivenciar algum acidente grave com eletricidade. O mais impressionante, em muitos casos, é que nem os médicos saberão afirmar qualquer coisa sobre a dimensão do estrago. É a gangrena que indicará os tecidos mortos que deverão ser retirados, muitas vezes aleijando ou matando após longo sofrimento a pessoa vitimada pela passagem de alta corrente elétrica pelo corpo.
Os acidentes acontecem por descuido, ignorância, desprezo a normas de segurança ou fatalidades.
No Rio de Janeiro (e aqui também) vemos a gangrena social, a atrofia do estado e o desencanto dos mais lúcidos com governos e parlamentos incompetentes e, ou, venais. Alguém poderá até dizer que nossos governantes e legisladores foram eleitos, de que jeito?
As relações da Corte eleita ou não, do dinheiro e das leis com o nosso povo é a pior possível. Não vemos, com raras exceções, disposição para enfrentar problemas graves que não criem atos midiáticos pomposos. Assim vamos ganhando favelas, drogados, criminosos que fazem da população carcerária do Brasil, apesar da falta de estrutura, a terceira maior do mundo. Temos uma quantidade colossal de leis (e decretos, portarias, regulamentos, normas, carimbos, cartórios etc.), muitas equivocadas, outras inúteis ou mal feitas e algumas óbvias, escritas porque assim manda o ritual da Ordem e da Justiça. Teriam acontecido desta maneira de propósito?
Existe gente séria e competente, nos EUA, por exemplo. O livro Freakonomics (Steven D. Levitt, Freakonomics, O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta, 2007) gasta muitas páginas analisando a questão da violência nos Estado Unidos da América do Norte. Vale a pena ler, estudar, analisar, aprofundar as teses colocadas pelos autores, no mínimo saem da mesmice dos nossos “especialistas”.
Infelizmente vivemos sob o império de conceitos éticos e sociais estabelecidos nos tempos dos faraós e esquecemos de enxergar uma realidade mais do que cruel.
O Governador do Rio de Janeiro está 50% (número fantasia, maneira de dizer que, entretanto, expressa o que entendemos) certo. Precisa enfrentar com rigor aqueles que sonham criar guetos impenetráveis às nossas leis (por piores que sejam) ao lado das praias cariocas. E a orla? Quem são os financiadores dos traficantes presos em Catanduvas? Quem pode viajar e voltar de locais produtores de drogas? Por quê as leis, Governo e povos de países que servem de base para essa gente não mudam para, num espírito de fraternidade sul americana, evitarmos as mortes, prisões, leitos hospitalares, clínicas de reabilitação dos mais ricos e penitenciárias e tiros de fuzis militares para os pobres, o pesadelo de tantos brasileiros? Vamos duplicar pontes em vez de implodi-las, criando avenidas do tráfico? O combate ao tráfico por outros caminhos não estaria exigindo a participação mais enérgica de soldados e pilotos? Não está na hora das Forças Armadas se integrarem para valer às organizações policiais para combater a criminalidade, ou isso só vale para o Haiti? Parabéns ao Governo Federal que, agora, ao que tudo indica, assumiu essa bandeira.
O que vemos no Rio de Janeiro não é novidade por aqui. Passamos por um período de desmobilização de nossa PM e da Polícia Civil e os resultados estão sendo trágicos. Infelizmente o atual governo não pode resolver tudo em tão pouco tempo, apesar dos esforços empreendidos.
Existe, contudo, a parte que nos compete. Na condição de cidadãos devemos estudar mais e fazer o que estiver ao nosso alcance. Perdemos tempo demais em reuniões inúteis, para sairmos delas com medo do primeiro que se aproxima andando, com o dinheiro separado no bolso para o “guardador de automóveis” e procurando um ambiente protegido de mil maneiras para levarmos a família para uma tarde de lazer ou simplesmente almoçar ou jantar.
A falência do Estado leva-nos a sonhar com mudanças radicais... Sentimos já os efeitos da gangrena política e social, último estágio antes da amputação ou morte do paciente.

Cascaes
28.11.2010

3 comentários:

  1. Cascaes,
    A lacra da favela, é um problema sério, maior que ela em si mesma. Eu vejo a favela, como um caso de abandono do estado à política habitacional em primeiro lugar, que por iniciativa expontânea, é resolvida pelos próprios excluidos e neste caso, a menos do saneamneto, e das infra-estruturas urbanas necessárias, é muitas vezes mais humna que muitas cidades criadas do nada, tipo a Nova Dubai. Em resumo, eu sería capaz de morar em uma favela, mas jamais moraria em Dubai.
    O caso do Rio de Janeiro, me parece que teve seu momento determinante, a construçao e transferência da nova capital a Brasília (outra cidade inabitável...) e o consequente esvaziamento da vida social na cidade maravilhosa, que deixou margem ao estabelecimento da marginalidade.
    O estado tem que ter olhos para o presente, mirando ao futuro, mas sobre tudo conciência de que as causas estao no passado.

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  2. Meu querido Cascaes:
    Desta vez vou comentar curto. Apenas pinçar uma palavra ao fim de seu artigo - excelente - para minha própria reflexão: MEDO. Nos ensina a Psicologia que o medo geralmente está intimamente associado à CULPA. Eis aí um casal que deveria ser motivo de nossas reflexões sobre esse tema (e tantos outros que chamamos de problema).
    Um abraço.
    PUCCI.

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  3. Luis Eduardo Knesebeck28 de novembro de 2010 às 12:36

    Cascaes.

    Experimente ir ao nosso aeroporto Afonso Pena durante a noite! A Av. das Torres é a Via Amarela de Curitiba.

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