Um fenômeno recente é descobrir reportagens de autoridades viajando para falar ou participar de eventos ligados à preservação ambiental. Talvez grandes fundações tenham mudado de estratégia na inibição do desenvolvimento de nosso país ou, simplesmente, com o máximo de honestidade queiram motivar nossos chefes para questões tão importantes quanto a sustentabilidade no século 21.
Não há necessidade disso tudo. Precisamos, sim, educar e disciplinar nosso comportamento, projetos, o desenvolvimento etc. e já sabemos muito, não dúvidas quanto ao essencial. No Setor Elétrico, só para dar uma dica e com muito orgulho, há décadas o Programa Procel (http://www.eletrobras.com/elb/procel ) trabalha nesse sentido.
Apesar de todo o esforço, será que temos consciência de quanto desperdiçamos? Por acaso alguma ONG, centro de pesquisas, universidade ou qualquer grupo de cientistas já se deu ao trabalho de ver, medir, analisar e divulgar quanto uma família desperdiça realmente dos produtos que usa e serviços que utiliza? Mais ainda, essa gente mediu os danos ambientais de tubos de pasta de dentes, uso de automóveis, deixar televisores ligados sem necessidade, usar os aparelhos de ar condicionado sem critério, gastar água desnecessariamente?
Usar embalagens plásticas é um crime ambiental em praias e outros lugares, principalmente onde venta ou chove muito, pois essas embalagens vão parar onde não deveriam estar. Em alguns lugares da costa brasileira é fácil descobrir áreas de mangue e dunas cobertas com embalagens plásticas (vimos isso em Fortaleza), que turistas usam nas praias. Dentro de contrafortes de muros em rios descobrimos lixo (baía de Guajará, lembrando um flagrante) que, ironicamente, é produzido por lâmpadas econômicas. E em qualquer cidade a poluição gasosa e sonora indica uso excessivo de veículos que matam e dependem de quilômetros quadrados de asfalto (qual é a área total asfaltada em Curitiba?) ou concreto para poderem trafegar, isso sem falar nos combustíveis fósseis que consomem e dos pneus que transformam em resíduos que respiramos.
É dentro de casa, contudo, que essa multidão de predadores em que nos transformamos se deseduca. Casas de classe média para cima são paraísos do desperdício, com raras e belas exceções. Em muitos lugares pais e filhos usam mal tudo, com destaque para a água e a energia elétrica, sem lembrar os espaços inúteis e a decoração inadequada.
E o desperdício rende montanhas de dinheiro de impostos para governos que deveriam trabalhar para racionalização do consumo. Infelizmente é uma tremenda fonte de renda para as cidades e estados consumidores, recursos que em grande parte serão gastos para maior disponibilidade de espaços e capacidade de trânsito dos automóveis e oferta de energia para os gastadores.
O descaramento é mais freqüente do que imaginamos, ou a ignorância, simplesmente, pois vemos ativistas falando em preservação ambiental e, sempre que sobra algum tempo, embarcam em automóveis e/ou aviões para fazer longe o que fariam melhor mais perto de casa.
Temos, sob a desculpa de discutir a poluição, o meio ambiente e seus problemas, as famosas convenções, congressos e viagens técnicas para autoridades saírem pelo mundo afora e dizerem obviedades e, se é que participam desses eventos, serem pacientes ouvintes de palestras chatas, sem novidades, quando muito dizendo as coisas de sempre em tons mais candentes.
Precisamos, com certeza, rever conceitos e paradigmas, analisar detalhes aparentemente insignificantes tais como o uso e destino de tubos de pasta de dentes e saquinhos de plástico até lógicas de urbanismo e redistribuição da população, adensada e em crescimento em áreas de preservação ambiental, não por capricho dos ecochatos, mas porque são realmente espaços estratégicos da Natureza, que se transformam em florestas de concreto e asfalto, cheias de animais metálicos barulhentos e consumidores de combustíveis e gente produzindo esgoto e buscando água já em rios distantes.
Na área energética, entre outras, pode-se fazer muito, muito mesmo se as pessoas realmente quiserem. O desperdício é imenso. Em urbanismo simplesmente é necessário rever tudo, refazer modelos, mudar cidades e paradigmas. Na área fiscal, é hora de premiar a produção e punir o consumo.
Cascaes
25.11.2010
Caro professor Cascaes,
ResponderExcluirQuero parabenizá-lo por tão importantes iniciativas!
Forte abraço,
Douglas.