segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Medo de imagens e a privacidade

Quem usa filmadoras e gosta de fotografar e filmar enfrenta um problema delicado que pode inibir boas reportagens. Pode ou não filmar? Fotografar? Entrevistar? Divulgar em youtube (YOUTUBE e a revolução digital, 2009)? Blogs?

Com certeza temos exemplos diversos de mau uso desse tipo de atuação. Não deve ser agradável servir de motivo de chacota em programas denominados “pegadinhas” ou alertar bandidos para os seus hábitos e a própria figura.

Infelizmente, contudo, por necessidade de segurança em geral há muito tempo deixamos de poder esconder nossos rostos, tipo de sangue, raça etc.; até em carteiras de identidade querem que se anotem detalhes talvez excessivos, ou seja, existem bancos de dados a nosso respeito de diversas formas (discretos, indiscretos, públicos e privados, com boas e más intenções). Sigilosamente podemos ser grampeados de todas as maneiras possíveis. A última campanha eleitoral, por exemplo, mostrou a ponta de um iceberg que se tornou mania dos poderosos: gravar para extorquir, chantagear. Tem governo que se quisesse revogaria a lei da gravidade, se fosse decisão humana. Isso não é privilégio de políticos. Empresários com interesses em grandes negócios podem contratar os melhores times de arapongas...

Gravadores para dados diversos, filmadoras e registradores fotográficos capturam detalhes nossos, diariamente, em mercados, lojas, ruas, agências bancárias, aeroportos etc. e caminhamos para o rastreamento total. Até nossas casas a Google já mostra em fotografias ultra-detalhadas, via satélites e equipamentos poderosíssimos para quem quiser ver. Falam até em chips que muitos já deixaram embutir em seus carros e até sob a pele para rastreamento num planeta mais e mais feroz graças ao radicalismo religioso, político, carências de toda espécie e comportamentos patológicos.

Precisamos, contudo, mostrar a si próprios quando queremos trabalhar, produzir algo e ter alguma segurança melhor.

O sucesso pessoal depende demais da exposição e convivência tão ampla e irrestrita quanto possível.

Melhor ainda, os depoimentos, as imagens e sons passíveis de registro e divulgações ilimitadas estão se transformando em poderosa arma contra maus governos. Talvez por isso queiram reintroduzir a censura em nosso país. Deve incomodar demais a alguns donos do poder a sensação de que possam estar sendo vigiados.

Temos visto reportagens incríveis de problemas seculares no Brasil, só agora visíveis graças à imprensa livre e algumas indiscrições. A série “Diários Secretos” da Gazeta do Povo e RPC que o diga, vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo 2010 (O Prêmio Esso de Jornalismo, o mais importante e tradicional programa de reconhecimento de mérito dos profissionais de imprensa do Brasil). Dessa, os que erraram não escapam mais. Talvez não sejam punidos pela Justiça, mas o povo já fez seus julgamentos, avaliações que devem pesar na consciência de todos, eleitores e eleitos.

Quem não deve não teme. Aparecer em qualquer ambiente estudando, trabalhando, produzindo algo de útil deve ser uma honra para qualquer um de nós. É a boa vaidade de que tanto precisamos.

Vivemos e ainda estamos existindo em lógicas de louvação [pg. 355 de (A vida do Espírito) e a primeira parte do livro (Crainte et Tremblement) como exemplo] a um ser superior (aqui e no céu).

O ser humano exerce um poder incrível de criar e viver com rituais (e seus profissionais). Aliás, isso já foi motivo de muitos estudos e livros dos quais destacamos o “Poder do Mito” (Campbell, 1990), excelente em sua parte inicial. Sendo um cientista, gasta muito espaço de sua obra demonstrando o que diz, mas o primeiro capítulo é imperdível. E podemos ver em outras obras essa questão colocada de diversas formas clínicas, filosóficas, objetivas ou não.

Precisamos acreditar em nós mesmos, não ter medo, mostrar a cara a menos, é claro, que tenhamos muito a esconder.

Ninguém é perfeito, quem não erra formalmente num país que é o paraíso dos advogados, pois cria leis, decretos, normas, regulamentos, portarias etc. em profusão? A boa intenção do legislador é indiscutível, mas quem, em sã consciência, saberá e interpretará de forma justa e precisa tudo que produzem? Precisamos simplificar e centrar ações em cima de questões reais e não dispersar a atenção em detalhes que só complicam a vida.

Perdemos privacidade e ganhamos a possibilidade de usar os meios de comunicação para o principal: mostrar e servir de exemplo para leis implícitas, mensagens subliminares ou propostas reais e concretas como vimos no final de semana no trabalho do Programa Comunidade Escola em Curitiba (Mirante do Comunidade Escola). Que maravilha! Com alguns receios fizemos filmes, pois acreditamos que esse é um bom motivo de registro e divulgação. Se errar é humano, acertar é um momento de muita alegria. A Prefeitura de Curitiba está de parabéns. Fez e mantém um bom projeto educacional e social, melhor ainda criando amor, fraternidade e sentimentos de cidadania. Por isso recebeu um prêmio que merece registro. Após avaliação nacional conquistou um troféu pelo segundo lugar no “Prêmio Nacional em Direitos Humanos – 2010” (Grupo SM, 2010) em (http://www.educacaoemdireitoshumanos.org.br/ ).

Concluindo podemos afirmar que o século 21 será extremamente diferente do anterior. Se antes era possível esconder-se, evitar publicidade, contato, agora nada é impossível. O desafio é usar bem o potencial da tecnologia.



Cascaes

22.11.2010

Arendt, H. (2009). A vida do Espírito. (C. A. Almeida, Trad.) Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.

Campbell, J. (1990). O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena.

Cascaes, J. C. (20 de novembro de 2010). Mirante do Comunidade Escola. Fonte: blog : http://mirante-do-comunidade-escola.blogspot.com/

Grupo SM. (novembro de 2010). O Grupo SM é um grupo de Educação de referência na Espanha e na América Latina liderado pela Fundação SM. Fonte: Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos 2010: http://www.educacaoemdireitoshumanos.org.br/

Jean Burgess, J. G. (2009). YOUTUBE e a revolução digital. (R. Giassetti, Trad.) São Paulo: ALEPH.

Kierkegaard, S. (1843). Crainte et Tremblement.

O Prêmio Esso de Jornalismo, o mais importante e tradicional programa de reconhecimento de mérito dos profissionais de imprensa do Brasil. (novembro de 2010). Fonte: Prêmio Esso de Jornalismo: http://www.premioesso.com.br/site/home/index.aspx

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