quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Democratização ou privatização da política

Dá arrepios sentir que a vitória do Presidente eleito, a economista Dilma Roussef, significará também a negociação de cargos federais. Deveria ser algo justo e necessário, a enxurrada de escândalos durante a campanha eleitoral mostrou, contudo, que não é por motivos patrióticos que os partidos apóiam este ou aquele candidato.
A degradação é proporcional aos custos das campanhas e a última foi muito cara. Ou os doadores, por alguma decisão divina, tornaram-se beneméritos da democracia no Brasil, ou agora insistem na indicação de acólitos aos cargos estratégicos. Podemos também ter lideranças puras, fortes, capazes de intimidar bilionários e conseguir doações e empréstimos de jatinhos sob mensagens de “dá ou desce”. Tudo é possível, mas, relembrando, a campanha eleitoral mostrou as entranhas de nosso processo político nas palavras dos próprios candidatos a diversos cargos.
Grandes democracias dependem de doações institucionais, estatais, fiscais. Como no Brasil elas não partem diretamente do contribuinte, aposentados, donas de casa, de micros e pequenos empresários nem de dependentes de “Bolsas Família”, tampouco de favelados, podemos imaginar o que pretendem os doadores privados. Isso pode significar a manutenção de políticas maldosas e bem construídas (para “enganar” os justiceiros). Afinal, os mega capitalistas podem ter todos os defeitos, menos a burrice.
Os pilares da economia serão mantidos, os grandes industriais terão as benesses do BNDES, os juros continuarão na estratosfera, pois o “spread” dos empréstimos, em hipótese alguma, poderão por em risco os amados bancos. Para os empréstimos consignados (uma mina de ouro) mais juros e menos contemplação com seus emprestadores (precisamos combater a inflação)... o câmbio será flexível, afinal o Brasil manda nas regras econômicas mundiais, todos farão o que determinarmos. É interessante comparar o câmbio de nossa moeda aqui e fora do Brasil, é difícil de entender porque nas casas de câmbio fora de nossas fronteiras o Real vale tão pouco.
Talvez as prioridades sejam definidas pelos patrocinadores de campanha. Temos questões sérias que correm o risco de paliativos ou serem passíveis de soluções penosas para suas vítimas, pois os interesses da nação nem sempre coincidem com os dos bilionários.
A dívida da Previdência é um pesadelo, não deverá ser objeto de paliativos. Criaram benefícios e não provisionaram recursos para compensar novos contingentes de aposentados. Quem pagou suas contribuições durante anos terá cada vez menos do que diziam vir a ser o valor da aposentadoria nos tempos em que foi viabilizada. O discurso do “pesadelo da Previdência” continuará.
E o SUS? Será que nosso Hospital das Clínicas (por exemplo) reabrirá seus duzentos leitos sem uso por falta de pessoal? É a nossa esperança.
O verão está chegando assim como os mosquitos e o câncer de pele. Na mídia uma preocupação constante com a Copa do Mundo, afinal interessa muito àqueles que faturam com o futebol. Privilégios inacreditáveis estão sendo dados. E as doenças endêmicas, o programa habitacional e o saneamento básico serão igualmente priorizados? Não dá mídia...
As esperanças existem, contudo. A exguerrilheira Dilma Roussef não se exporia à tortura e a quase 3 anos de prisão se não amasse seu povo. Poderia ter convicções erradas, tinha tudo para ser “patricinha”, não foi. Nossa esperança é de que aos poucos mostre suas convicções, sua vontade de fazer justiça social, de realmente levantar o nosso povo a padrões de vida, que nunca sonhou, afinal o brasileiro foi educado dentro de lógicas escravagistas, fatalistas, de passividade e muita reza...
Infelizmente Dilma Roussef parece ser escrava de sua formação profissional. Deve ter sido submetida a lavagens cerebrais em sua faculdade. Talvez agora a ideologia seja outra, acreditando nas maravilhas de um “Deus Mercado” que nunca mostrou grandes qualidades morais. Temos (caso extremo de imperialismo e liberdade de comerciar) até o exemplo da Guerra do Ópio, ainda no século 19 contra a China, que na América Latina se transformou em moeda com as qualidades da cocaína e da maconha.
O desafio de nosso presidente eleito, a Sra. Dilma Roussef, não é pequeno. Com certeza deverá, primeiro, atender conveniências “políticas”. Se souber agir, e ela sabe, aos poucos poderá chegar ao padrão de governo que sonhamos. Afinal, que tipo de brasileiro não quer honestidade, competência, seriedade e amor ao nosso povo?
Precisamos de um governo que estimule o empreendedorismo a favor do Brasil, que encontre soluções reais para imensos problemas de saneamento, educação, saúde, segurança, transporte, enfim, coerência e racionalidade administrativa.
Será que alguns políticos vão querer outro mensalão para “colaborar” com o governo? Os empreiteiros e banqueiros vão cobrar doações? Os sindicatos exigirão benefícios impossíveis? Está na hora de mudar formalmente o patrocínio de campanhas eleitorais para o bem do povo. Custe o que custar, será um reforço à nossa democracia, ainda muito dependente de jatinhos, cabos eleitorais e marqueteiros caríssimos.


Cascaes
2.11.2010

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