O resultado das eleições, onde quer que aconteçam, em qualquer lugar do mundo, mostram com força que as ideologias são figurinos de retórica, religiões, seitas ou algo parecido que, quando muito, criam torcidas organizadas. Não pesam substancialmente nas decisões humanas, exceto em situações especiais e transitórias.
Os computadores que temos sob o pescoço, nossas glândulas, sensores e necessidades vitais determinam nosso comportamento, pouco importando cobranças de coerência com figurinos e responsabilidades sociais. Entre “eu e o mundo” somos mais eu do que nós. Ignoramos a situação de seres semelhantes à medida que se afastam de nós.
As glândulas mostram-se de diversas maneiras.
É, o velho Freud é importante. Líderes que perdem atrativos hormonais deixam de ganhar votos e mostrar comportamentos atraentes são fatores importantíssimos nas eleições.
Somos dominados por atavismos, arquétipos, que aparecem fortemente em nosso dia a dia, ainda que subliminarmente. Medos e ídolos entram nas equações de decisões, são parâmetros importantes.
Imbatível, pela simplificação, é Maslow, com sua famosa pirâmide. Começando pelas necessidades fisiológicas, tendo a segurança como segunda camada desta pirâmide, procurando afeto, relações sociais, sempre ansiando pela auto-estima, status, orgulho e finalmente querendo sentimentos de auto-realização o ser humano quotidianamente age quase sem perceber, tomando decisões e sobrevivendo, uma vida impossível se não fosse assim.
As eleições no Brasil sempre mostraram essas características dos nossos cidadãos eleitores. Podemos evoluir, mudar; por enquanto, quando muito, vemos autênticas torcidas organizadas e a ausência, contudo, de lógicas mais elaboradas. Podemos, quando muito, transferir preocupações, querer sobreviver em outro mundo, agradar deuses e pretender a santidade, mas seguimos uma escada que governa nossa vida. Tudo isso sem esquecer a curva de desenvolvimento e decomposição que a idade fisiológica nos impõe.
Muitos, olhando de cima ou de algum espaço intermediário, querem coerência. De que jeito? Se grande parte de nosso povo carece de condições razoáveis de sobrevivência, ou não foi educado para explorar o potencial fantástico de nosso país, cai no compadrismo, na bajulação, na procura da glória emprestada pelos vitoriosos. Precisa de protetores para se sentir seguro, falta-lhe auto-estima.
Ao final do segundo turno notamos incoerências teóricas incríveis, mas um tremendo senso de realismo do povo. Afinal, quem atende suas necessidades? É até interessante a intervenção de líderes espirituais, querendo lembrar a vida no além, lembrando as conveniências de se perder essa para ganhar outra melhor...
O presidente Lula talvez tenha sido um dos que melhor entendeu isso. Afinal perdeu eleições demais, caiu na realidade e hoje é imbatível. Nossos futuros governadores, a presidente Dilma, senadores e deputados, se pretenderem agradar ao povo, deverão estudar esse fenômeno político em que se transformou Luiz Inácio Lula da Silva, que foi tudo, menos um apaixonado por ideologias.
Hoje, dia dos santos, amanhã dos mortos, talvez seja o momento de reflexão política para alguns políticos que perderam eleições. Principalmente esses indivíduos, tão carentes de aceitação social, mas com excesso de auto-estima, precisarão procurar entender a humanidade, que está muito longe dos seres idealizados pelos inventores de ideologias.
Cascaes
1.11.2010
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