sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O trabalho anônimo e o Brasil do futuro


A mídia criou valores que preocupam. Uma sociedade sadia precisa de profissionais com inúmeras especializações e habilidades, competências e vocações. Será que estamos cativando nossa garotada de forma correta?
O esporte profissional, grande responsável pela exportação de brasileiros e criação de uma imagem positiva do Brasil no exterior, conquistou força demais entre nós, a ponto das pessoas, inebriadas com seus heróis bem pagos, esquecerem que temos muitas outras profissões e carências.
O Brasil, graças à fome de bilhões de pessoas vivendo num planeta frágil, sujeito a passar tempos longos de diversidades climáticas, mudando sempre (o território brasileiro já foi uma imensa savana há dez milênios passados enquanto grande parte da Terra jazia sob imensas geleiras), agora pode exportar muito. Poderíamos faturar mais se não existissem as “facilidades” da Lei Kandir e houvesse mais apoio à industrialização desses produtos aqui mesmo. Felizmente temos a EMBRAPA e assim pagamos menos royalties e aprimoramos a agroindústria nacional.
Estamos, pois, em condições de retomar o desenvolvimento tão acelerado quanto o Banco Central deixar sem desprezar as cautelas necessárias. Para crescer a questão não se limita ao combate à inflação. Não possuímos mão de obra necessária e suficiente, bem preparada para esse salto de qualidade. Navegando na internet descobrimos avaliações impressionantes, no mínimo dizendo que perdemos competência, capacidade e força para enfrentar o desafio do progresso, pois não temos especialistas em volume e qualidade desejáveis. Ou seja, seria hora de rever nossas estratégias de imigração e trazer gente de fora, paciência! Ou simplesmente poderemos ver muita obra durando pouco, desmanchando, explodindo, caindo e matando muita gente.
Leis transitórias são válidas, com prazos para começar e terminar. Não podemos parar ou colocar em risco nossa população por efeito de conveniências corporativas. Infelizmente essa é a situação.
Enquanto isso, como motivar nossos jovens a estudar e querer, quando formados, trabalhar em coisas produtivas?
Temos reportagens e análises de todo tipo sobre a criminalidade no Brasil. Excluindo disso o mau comportamento tradicional dos nossos líderes, descobrimos uma população deserdada e precisando de escolaridade e educação. Não seria o momento de criarmos, por exemplo, boas novelas nas grandes emissoras de TV mostrando um Brasil real, simples, suburbano com histórias que ensinem caminhos sadios de desenvolvimento pessoal? Não é o momento de vestirmos com orgulho camisas e uniformes de professores, operários, engenheiros, arquitetos, agrônomos, técnicos, médicos etc., profissões honestas e produtivas, com orgulho?
Talvez pela falta de opções tenha sido importante anestesiar o povo com esportes, carnaval e até ideologias.
Caímos no real (em todos os sentidos). Aqui, inclusive, vale transcrever as palavras de Daniel Cohn-Bendit, ditas em entrevista à Folha de São Paulo e publicadas com destaque pela Revista Veja em “Panorama – Veja Essa”, edição 2180 de 1 de setembro de 2010: “em 68, todas as utopias – as mais justas, as mais tolas – estavam à nossa disposição. Hoje, elas não querem dizer mais nada”. Ou seja, sem utopias, sem fantasias, a realidade eterna é que o ser humano precisa se alimentar, vestir-se, defender-se de tudo, construir seus abrigos etc.
Para tudo isso precisamos formar profissionais, valorizar suas atividades, dizer, ensinar às crianças que trabalhar honestamente é bom, é gratificante.
Talvez tenhamos os piores exemplos possíveis em alguns cenários, devemos, contudo, lembrar que nossos descendentes vão enfrentar um planeta mais difícil. Deverão estar preparados para os desafios do século 21 com o prazer de serem úteis e necessários.
Poderão viver anônimos, mas se orgulharem de suas vidas. Afinal, pode-se enganar muita gente, menos a própria consciência.
Cascaes
3.12.2010

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