Uma peça de teatro francês, “O Diabo Vermelho” (Le Diable Rouge), contém um diálogo que reflete à perfeição esse momento político brasileiro, quando falam em mais pedágios, taxas, inspeções pagas (franquias de governo) e o retorno da CPMF. Traduzindo seria o seguinte (Torres), algo que pode estar acontecendo em muitos palácios brasileiros:
Diálogo imaginário travado entre Jean-Baptiste Colbert (ministro de estado e da economia) e o Cardeal Mazarin (primeiro-ministro), no reinado de Luís XIV (Rei de França entre 1643 e 1715), inserto na peça de teatro contemporâneo, intitulada «Diable Rouge», publicada por Marc Philip em 15 de Outubro de 2010.
Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Primeiro-Ministro, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…
• Mazarin: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se…Todos os Estados o fazem!
• Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
• Mazarin: Criam-se outros.
• Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
• Mazarin: Sim, é impossível.
• Colbert: E então os ricos?
• Mazarin: Os ricos também não. Se o fizéssemos eles deixariam de gastar dinheiro, e um rico que gasta dinheiro faz viver centenas de pobres.
• Colbert: Então como havemos de fazer?
• Mazarin: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.
O Brasil parou durante décadas para recuperar sua credibilidade e agora precisa refazer estradas, portos, aeroportos, investir forte em Educação, Saúde, Saneamento Básico etc.. Essa seria a expectativa em relação ao futuro imediato, no entanto, descobrimos que o Poder Legislativo e o Executivo aprovam, a toque de caixa, aumentos elevadíssimos em salários que se refletirão em todas as áreas.
Criamos, assim, um tremendo impulso inflacionário, estímulo para outras reivindicações salariais, e mais um peso na competitividade e contas internas de nosso país num momento em que a prudência deveria ser regra máxima. Nossos sindicatos de trabalhadores e patronais precisariam reagir, o povo vai pagar a conta.
O Brasil para. As férias começam. Agora pode-se aprovar qualquer coisa, ninguém reclama. Mais ainda, aqueles que terão seus ganhos aumentados substancialmente em cima do contribuinte estarão “embriagados” com as boas notícias salariais.
Talvez o Brasil esteja realmente muito rico, nadando no dinheiro. Se isso fosse verdade, contudo, os juros e a vida do povo em suas classes mais baixas estariam muito melhor. Teríamos saldos positivos nas nossas contas externas e internas. A criminalidade reduzida, a ninguém faltaria habitação digna, atendimento clinico, creches e escolas, trabalho etc. Isso está acontecendo? Onde?
Diante de tudo isso só podemos lamentar e lembrar a todos que teremos momentos complicados adiante, afinal alguém pagará a conta, com certeza os aposentados, os trabalhadores, os empreendedores, a nação.
Em tempo, parabéns ao bispo Dom Edmilson da Cruz que recusou comenda criada e dada pelo Senado Federal (Comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara) em protesto contra os 61,8% de aumento salarial aprovado pelos parlamentares em causa própria.
Cascaes
22.12.2010
Le Diable Rouge. (s.d.). Acesso em 22 de 12 de 2010, disponível em Wikipédia - L'encyclopédie libre: http://fr.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Accueil_principal
Sentido, Conselheiros do Estado. (s.d.). Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV - a história repete-se. Acesso em 22 de 12 de 2010, disponível em Estado Sentido de um Sentido de Estado: http://estadosentido.blogs.sapo.pt
Torres, F. (s.d.). O Diabo Vermelho. Acesso em 22 de 12 de 2010, disponível em o escrevinhador: http://fernandoserranotorres.blogspot.com/2010/12/o-diabo-vermelho.html
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