segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Apoio ao deficiente auditivo, uma pergunta da Rafaela Sena

Parabéns à Rafaela Sena, estudante de Turismo, que nos perguntou via blog (comentários) o que deve ser feito a favor de pessoas com deficiência auditiva (com diversas hipóteses de limitações de acessibilidade), nas palavras dela: o que deve ter numa cidade para que o surdo possa se sentir completo, sem dificuldades... numa viagem também, os problemas e soluções de realizar uma viagem de avião, carro ou trem, hospedagens, alimentação, lazer. negócios, saúde, entre outros.

Essa pergunta vale um tratado, até porque o deficiente auditivo é solenemente ignorado pela imensa maioria das pessoas em qualquer cidade, lugar, ambiente, escola, congresso...

Para começar posso falar por mim, pessoa com 65 anos, perdendo a audição e ganhando tinnitus (uma orquestra permanente dentro da cabeça).

A maior dificuldade é a deseducação e a falta de sensibilidade das pessoas sem essas limitações em relação a quem as possui. Portanto uma boa campanha educativa (e permanente) de como se relacionar com o deficiente auditivo seria o ponto de partida para o atendimento sem os constrangimentos habituais.

Muito pode ser feito, mas para quem decide as prioridades acabam sendo outras. No Brasil nem os programas e filmes que poderiam ser legendados (ou com “closed caption”) tem esse recurso de forma universal.

A deficiência auditiva não se resolve simplesmente com aparelhos de surdez ou implante coclear, como muitos comodamente acreditam. Com próteses, por melhores que sejam, existem problemas, que podem prejudicar a compreensão e causar confusão, além de imporem outras restrições e riscos.

Atenção para quem usa implante coclear. É muito importante a orientação de especialistas, pois seus usuários precisam de cuidados especiais.

A deficiência auditiva tem diversas causas e efeitos. Cada condição exige recursos de compensação diferentes. Além disso, a surdez deve ser um motivo de atenção crescente da sociedade, pois a expectativa de vida aumenta.

Uma percentagem significativa de idosos perde a audição gradativamente. E ela se perde de forma não linear, ou seja, ouve-se melhor em algumas faixas de freqüência do que noutras.

A mudança gradativa de percepção exige comunicação simples, clara, objetiva para, por exemplo, o ouvinte com sensibilidade reduzida saber qual é o assunto, o que facilita muito a compreensão. Guias turísticos, atendentes (de hotel, guichê de aeroportos e rodoviárias, hospitais etc.), médicos, policiais etc. devem, pois, usar, se possível, recursos adicionais para reforçar o que pretendem dizer.

O deficiente auditivo que conhecer linguagem de sinais (LIBRAS no Brasil) será beneficiado se o seu interlocutor puder usá-la.

Em locais com implicações de segurança, policiais e/ou financeiras (hospitais, postos de saúde, aduanas, barreiras policiais, restaurantes...) o problema é seriíssimo para turistas com restrições auditivas, pois além das dificuldades normais de idioma, de hábitos locais, ele poderá entender de forma errada o que se diz. Pior do que não ouvir é o equívoco, que poderá custar muito caro. Assim, um bom guia, antes de levar seus clientes a lugares de risco, deve dar orientações específicas e dispor-se a auxiliar no processo de comunicação.

Para o deficiente auditivo a comunicação visual é muito importante. Impõe-se o maior tamanho possível das letras, contrastes de cores adequados, boa iluminação (o que facilita a linguagem gestual e/ou labial), símbolos inteligentes e racionalidade dos painéis, atendentes, guardas, mestres... Avisos gráficos e sinalizações etc. devem ser otimizados para a dupla deficiência (radical na audição e média na visão, pois muito provavelmente o deficiente auditivo idoso, nessa condição, já dependerá de óculos quase sempre imperfeitos).

Nas cidades o trânsito é um problema grave, pois o surdo facilmente será vítima de atropelamento se, desconhecendo regras locais, atrever-se a andar, sair de um carro etc.

Ou seja, qualquer cidade que pretenda ser amigável ao surdo (em qualquer grau) precisa disciplinar seus motoristas, atendentes, cuidar bem e aprimorar ao máximo a comunicação visual, ter serviços com diversos padrões de comunicação e não esquecer nunca que todo idoso, parcela da população com um tremendo potencial de turismo, precisa de cidades amigáveis, atentas a pessoas que gradativamente tornam-se deficientes e frágeis.

Encontrar soluções para os deficientes auditivos é um bom desafio para os arquitetos, urbanistas, engenheiros, pesquisadores, médicos, psicólogos, agentes e guias de turismo.



Cascaes

28.7.2010

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