terça-feira, 17 de agosto de 2010

Serviços essenciais e bom governo

A opinião de especialistas pode, eventualmente, vir comprometida por interesses profissionais e vinculações inevitáveis com patrões e empresas. A paixão pura e simples também atrapalha, afinal o ser humano se deixa, facilmente, dominar pelas emoções. Para completar as dúvidas devemos ponderar sobre a inteligência e vinculações ideológicas, nem sempre saudáveis.

Por tudo isso em temas polêmicos precisamos prestar muita atenção a uma série de informações e procurar na diversidade a convergência.

A privatização das concessionárias e grandes estatais vinculadas a atividades estratégicas foi indubitavelmente atabalhoada, mal feita. As agências, criadas para garantir o respeito a contratos, estruturaram-se penosamente; algumas delas ainda distantes do padrão necessário e suficiente. O contingenciamento de verbas estranhamente atingiu em cheio essas instituições essenciais ao modelo privatizante. As concessionárias livres e sem fiscalização adequada fizeram o que bem entenderam, algumas já levando o povo brasileiro a perder a paciência e servindo de base para discursos contra novas privatizações. A qualidade de serviços foi relegada ao segundo plano, a confiabilidade esquecida e até planilhas, custos etc. deixaram de ser analisados de forma adequada.

Sem atuação forte do Governo e na falta de projetos necessários e suficientes ao nosso país por parte da iniciativa privada (que manda muito nessas terras), quem perdeu foi o povo brasileiro. Um exemplo desse pesadelo é a infraestrutura de transporte de carga e passageiros. Foi preciso um campeonato de futebol e um cartola da FIFA para que o Brasil despertasse de seu torpor.

Muito tem sido escrito a respeito em alguns meios mais esclarecidos, vale, registrar com destaque a entrevista de Alexandre Castilho, inspetor da Polícia Rodoviária Federal em Brasília ao tempo da edição do livro “O Automóvel” (Caruso, 2010), organizado por Raimundo C. Caruso onde ele diz (capítulo “Como evitar 35 mil mortos nas rodovias e ruas das cidades”, pg 30):

“E o que encontramos no nosso país? Encontramos a ameaçadora promiscuidade do transporte de soja, de petróleo e gasolina, dos eletrodomésticos, dos veículos novos, dos carros populares circulando na mão de gente que nunca dirigiu na estrada e agora está descobrindo o turismo interno, de custos baixos. E há também os turistas sul-americanos que estão vindo para o Brasil, tudo misturado numa rodovia de mão e contramão!

Essa é uma mistura perigosa, explosiva, que as estatísticas de mortes, feridos e incapacitados, de forma permanente, revelam, desgraçadamente, muito bem. Aí está o caminhoneiro que tem hora para chegar, da mesma forma que o verdureiro, e o turista que não deveria ter tanta pressa, mas que, se pudesse, apertaria um botão para chegar ao destino, no mesmo instante. Corre mais que todos...”

Ou seja, na falta de boas ferrovias, aeroportos, portos e acessórios temos uma tragédia permanente, brutal, que já não é notícia, virou simples estatística.

O Brasil pode, graças ao cenário econômico e à flexibilização conceitual, diante do fracasso de muitas concessionárias privatizadas ou simplesmente sempre privadas (vide transporte coletivo urbano, raramente eficaz) refazer este cenário, acelerando projetos essenciais ao nosso país.

Infelizmente muitos obstáculos foram criados. Temos uma legislação “moderna” e pouco inteligente. A regulamentação de nossas leis, com raras exceções, é um desastre, algo feito para viabilização de tribunais, varas, multas, impostos e... Ou seja, os próximos legisladores poderão atuar racionalizando o que existe, só isso, não há necessidade de mais nada para justificarem seus postos.

Nossa esperança sempre é a renovação política e o aprimoramento do Governo, o voto consciente, a eleição de gente competente. Felizmente teremos essa oportunidade logo, o fundamental é não desperdiçar o voto.

Cascaes

16.8.2010

Caruso, R. C. (2010). O Automóvel, o planejamento urbano: a crise das cidades. Florianópolis: fiscal TECH.

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