sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Soluções ou problemas

Em meu tempo de URBS, quando tive a oportunidade de fazer parte de uma equipe técnica excelente, o pessoal dizia que “todos querem um ponto de ônibus tão perto quanto possível, exceto em frente à própria casa”.

Nesse início de século 21 usufruímos de inúmeras hipóteses de serviços, produtos, lazer, viagens etc. Ótimo, mas a que preço?

O discurso ambientalista é forte, mais porque foi abraçado por algumas redes midiáticas. Vemos reportagens emocionais, apaixonantes e, de modo geral, com deficiências técnicas. De qualquer modo o problema existe e precisa ser discutido com honestidade intelectual, objetividade e profundidade. Não ser eficaz poderá custar muito caro à Humanidade, pois, vendo o barco navegando em direção aos rochedos, é perfumaria analisar os efeitos da marola.

O gigantesco movimento de pessoas e cargas num mundo globalizado é uma realidade irreversível, desejável?

Naturalmente queremos liberdade, acessibilidade, contato pessoal com tudo o que é bom e bonito. O resultado é vermos cidades históricas entupidas de gente, a maioria sem entender nada do que está vendo, menos ainda a importância do solo onde pisam. O turismo cresce sem parar exigindo mais e mais aviões, navios, automóveis, estradas, hotéis, portos e aeroportos etc., ou seja, alguém perde outros ganham, quanto?

Mais ainda, a globalização industrial traz e leva mercadorias, aproveitando os paraísos escravocratas e faturando com os pólos ricos, capazes de comprar qualquer coisa. Para tudo isso, desde tempos muito antigos, a humanidade precisou de estradas, sistemas de transporte, armazéns, mariners...

Detalhes disso tudo podem incomodar, afinal vivemos no pequeno espaço de nossas vidas.

Em Curitiba temos um exemplo interessante, o desvio da linha ferroviária do trajeto atual. O povo não agüenta mais o barulho. Para onde? Quem aceita? Teríamos soluções aceitáveis? Do jeito que “engenheiraram” aqui, criaram polêmicas e rejeições respeitáveis. Pior ainda vendo locomotivas diesel-elétricas, roncando forte nas arrancadas e acionando suas potentíssimas buzinas em diversos lugares.

Recebemos um email mostrando que em São Paulo o problema não é muito diferente. Apesar de longo o texto diz muito:

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) multou a América Latina Logística (ALL) em duas mil Ufesps (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo), o que corresponde a R$ 32,8 mil, no último dia 19, por excesso de barulho à noite, no perímetro urbano, causado pelo tráfego de trens, pelos apitos e pelos testes em locomotivas.


...


De acordo com o relatório, os níveis de ruído estão até 42,5% acima do permitido por lei. Dentro de um apartamento no quinto andar de um prédio na Rua Professor Dorival Oliveira, na região central de Araraquara, a Cetesb mediu 57 decibéis de ruído emitido pela ALL à noite, com as janelas abertas, quando o máximo permitido pela legislação é de 35 decibéis.


Conforme o documento emitido pela Cetesb, "os níveis de ruído obtidos nos pontos potencialmente críticos ultrapassaram os valores estabelecidos pela norma NBR 10.151 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) no ambiente interno e externo".


...


"Além do ruído descontínuo gerado pela passagem dos comboios, é utilizado sistema de sinalização com buzinas no período noturno, o que agrava substancialmente o incômodo registrado pela comunidade", continua o relatório.


Em sua defesa, a ALL alega entender o incômodo provocado pelo apito do trem, mas informa que, por se tratar de uma medida de segurança, não pode deixar de soar o apito todas as vezes que o trem passa por uma passagem de nível.


De acordo com a norma 215 do Regulamento Geral de Operação Ferroviária, seguido por ferrovias no mundo inteiro, deve-se tocar a buzina da locomotiva antes de iniciar a movimentação, quando se aproximar de túneis, viadutos e ou de uma passagem de nível", informa.

A importância das ferrovias é inquestionável, mas por onde passarão? Continuarão pelos caminhos existentes? De que maneira fariam menos barulho? As normas são razoáveis? O que é suportável? Haveria alternativa mais racional e menos agressiva?

Perguntas que valem para trens se aplicam a aeroportos, caminhões, arenas, clubes e até comício político.

Quanto um grupo de pessoas tem o direito de perturbar a vida dos outros?

Voltando a falar de Curitiba. Bela cidade, ruas arborizadas e muitos prédios, inclusive hospitais, maternidades, escolas e o desejo de que a cidade volte a ser espaço para os passarinhos que antigamente viviam por aqui. Podem? E o barulho e foguetes que muitas vezes explodem em quantidade assustadora? O trânsito infernal com todo tipo de maluco ao volante?

Falamos em meio ambiente na Amazônia, e em nossas cidades?



Cascaes

6.8.2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário