domingo, 8 de agosto de 2010

Energia barata ou racionalização

É comum termos reações fortes a mudanças de hábitos. Talvez a causa mais perturbadora de necessidade de mudança de comportamento seja a consciência da utilização excessiva de eletricidade, gasolina, diesel, querosene, carvão etc. como possíveis causas de problemas climáticos colossais. O desafio criado pela descoberta dos efeitos do excesso consumista exige sacrifícios e disposição para mudanças.

Nossa civilização foi construída sobre postulados e paradigmas que precisam ser revistos, o que não é fácil para quem se acostumou às facilidades alucinantes do século 20. As mudanças podem ser desagradáveis, mas é o preço que pagaremos para escapar das piores hipóteses climáticas, ecológicas e ambientais em geral, capazes de afetar gravemente a vida de nossos descendentes se forem verdadeiras.

Obviamente precisamos também desconfiar. Muitos não resistem ao discurso fácil e à mídia forte em torno das propostas ambientalistas. É fácil levantar teses assustadoras e usar alguma estatística mal feita para demonstrações tenebrosas. Vale até usar raciocínios mágicos para dizer que caminhamos para um holocausto sideral.

A prudência, contudo, pesando-se todos os prós e contras, recomenda mudanças a favor de hábitos conservacionistas, sustentáveis: se nada valer, pelo menos a preservação de nossa fauna e flora espetaculares justifica a protelação do que for possível, na esperança de que em breve tenhamos opções melhores. Assim, diante de catástrofes como a da British Petroleum no Golfo do México, devemos pensar melhor sobre nossos hábitos consumistas.

De que jeito impor maior racionalidade?

Campanhas educativas são importantes, se bem feitas e contínuas. Nossas crianças poderão ser diferentes, quando adultas, se desde pequenas ganharem educação conservacionista, de atenção contra o desperdício, de utilização lógica, eficaz e racional dos recursos naturais.

Pode-se, contudo, com facilidade descobrir que uma parcela da população simplesmente despreza qualquer cuidado com a sobrevivência da própria humanidade. Contra esses e a favor de todos impõem-se ações coercitivas. Nada mais eficaz que sobrepor custos disciplinadores. Por conseqüência devemos rever a disposição para baixar tarifas de energia e dos preços de combustíveis (principalmente). Ao contrário, sobre a energia em todas as suas formas devemos ter impostos que inibam seu desperdício, dinheiro que poderá ser usado em favor de todos, no transporte coletivo urbano, por exemplo.

Logicamente é importante que a energia seja a mais barata possível para atividades essenciais, de utilidade pública, e se apresente para qualquer uso com tarifas diferenciadas em função do padrão de consumo.

No Setor Elétrico isso já existiu no Brasil. Nossas tarifas mudavam em função da faixa de consumo residencial.

Discutimos o uso de bicicletas, da importância de deixar o carro na garagem e só usá-lo em última instância. Falamos de arquitetura e urbanismo racionais. Selos e qualificações de qualidade que só damos atenção quando pesam no bolso. Defendemos o passe livre, o transporte coletivo subsidiado. A água tratada não deve ser desperdiçada e o lixo ter destinação adequada etc.

Tudo isso pode ser perdido se a energia tiver custos tão baixos que o cidadão a utilize sem maiores preocupações, inclusive produzindo lixo em excesso. Ela existe em tudo o que fazemos e pode ser o ponto de partida em planos de um novo mundo.

A ignorância política e a insensibilidade social de muitos brasileiros são características facilmente perceptíveis de uma nação que desprezou a Educação desde seus primórdios. É hora de mudanças.

No Paraná a COPEL parou com os descontos em suas tarifas. Perfeito!

A tarifa social existe e todos podem diminuir consumo de energia elétrica se ajustarem seus hábitos e ambientes a lógicas conservacionistas, trazendo suas despesas a níveis suportáveis.

Devemos, isso sim, cobrar de nossos candidatos e do Governo em geral uma reforma fiscal e projetos que nos ajudem a deixar o carro em casa e usar melhor os recursos naturais. Precisamos adotar padrões de vida que, para serem mais saudáveis, exigem segurança, acessibilidade, sociabilidade e ajustes materiais, comportamentais e conceituais, inclusive dos nossos líderes.

E a energia? A favor de um mundo sustentável deve ter custos e usos criteriosos, portanto não pode ser, simplesmente, barata.



Cascaes

7.8.2010

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