segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Questão de Leis

“Questão de Honra” (“A Few Good Men” de 1992), com artistas de primeira linha, aborda um tema relativo à ética militar e seus limites. Se esse fosse simplesmente o objetivo principal, o filme já teria um imenso valor. Apesar dos vícios cinematográficos ou da simples realidade norte americana (o excesso de teatralidade de alguns de seus personagens, por exemplo), sentimos o supremo mérito, nessa obra baseada em peça teatral de Aaron Sorkin, de se reafirmar algo mais: o império de instituições e leis criadas em ambiente democrático.

O julgamento é em Corte Marcial de um ato de violência que levou à morte um fuzileiro na Base de Guantánamo. Dentro desse ambiente, contudo, aos poucos os personagens vão explorando seus limites e terminam sendo punidos ou gratificados pelo respeito às Leis, ao Poder Judiciário (militar) e à Democracia, em última instância.

O filme “Questão de Honra” merece ser visto por todos nós, brasileiros. Nele um general, que se entendera acima de tudo em suas paranóias anticomunistas, termina sendo o responsável pela morte de um soldado. A lógica é perfeita e vale para o mundo não fardado, afinal quantos morrem pela incúria de alguns administradores públicos? Pior ainda, quantos sofrem os efeitos de fanatismos ridículos?

Nada se coloca acima das leis de uma nação democrática amadurecida e se os EUA merecem respeito é pela criação de um país, uma nação que ao longo desses últimos dois séculos fortaleceu-se evoluindo em direção à aceitação de sua Constituição Federal, acima de tudo. Uma Constituição com poucos artigos, cautelosamente sintética, inteligentemente protetora daqueles que insistem em viver em liberdade, ainda que explorando seus limites.

No Brasil deveríamos pensar muito nisso. A necessidade de se evitar excessos restritivos e a disciplina total ao que existe determinado pela nação de forma organizada, dentro de regras eletivas e de convivência cívica. Infelizmente notamos que em nosso país justamente os legisladores e o poder executivo, na figura de seus líderes, insistem em contornar o que inventam, aprovam e impõem ao cidadão comum.

Questão de honra e de dignidade com leis simples e compreensíveis, tudo subordinado a códigos sérios, instituições respeitáveis, Poder Judiciário enérgico e aceito, que maravilha!

Não temos os desafios guerreiros dos EUA, mas entre nós, dentro de nossas fronteiras vivemos assustados, um povo em conflito, carecendo de honra, ética e dignidade necessária à paixão por leis e padrões civilizados.

A “Hora do Brasil” deu-nos em 29 de julho de 2010, a informação de que 30% das verbas dedicadas à Educação são desperdiçadas no Brasil de diversas formas...

No Paraná o estado tem em torno de cem mil profissionais na área de Educação a um custo de três bilhões e meio de reais por ano para cuidar de um milhão e meio de estudantes. É muito dinheiro e uma tremenda responsabilidade. Qualquer ganho ou perda de eficácia significa muito imposto, taxa, encargo, carimbo etc. e, mais importante ainda, centenas ou milhares de vidas que poderão ou não superar barreiras sociais, subindo ou descendo degraus de honra, de dignidade.

Precisamos de filmes assim. Se em ambientes civis ou militares, isso fica a critério dos produtores. Precisamos de filmes que aprofundem temas éticos e de respeito às leis. Se aqui isso ainda engatinha, que sejam norte americanos. Hollywood pode ser tão teatral ou simplória quanto o povo estadunidense, sabe e tem autoridade, contudo, para dizer muito sobre a dignidade, a liberdade e cidadania...



Cascaes

30.7.2010

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