sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma experiência maravilhosa

Assumi minha idosidade. Estive na URBS (Rua da Cidadania da Rui Barbosa) e em poucos minutos saí de lá com o meu “cartão transporte”. Com um pouco de vergonha, mas satisfeito de poder usar intensamente algo que valorizo muito, o transporte coletivo urbano, fiz minha primeira viagem para aprender. É necessário esperar um pouco após a passagem da fotografia da gente na placa sensora do aparelho, que decide se podemos entrar sem pagar. Passamos pela catraca meio ressabiados, acima de tudo denunciando a idade. Creio que muitas senhoras devem relutar em aproveitar essa condição de transporte.

Gostei da brincadeira, mais ainda porque agora não me preocupo mais com a quantidade de ônibus que preciso pegar para chegar a algum lugar. Eu mesmo escolho qual, onde e quando usar outro ônibus, fazer correspondência, transbordo, mudar de linha sem que isso represente um custo adicional.

Ou seja, o sistema de transporte coletivo ganhou uma dimensão infinitamente maior, fazendo-me lembrar as cartas de uso mensal que os franceses tinham tem em Paris, talvez agora com outro formato. Turista paga caro, uso eventual não é barato, mas quem, freqüentando intensamente o sistema (metrô, trem, bonde, ônibus e barcas) quiser, poderá adquirir esse cartão que dará direito a usar quando, onde e quanto puder (em Paris) o belíssimo conjunto de modais (para falar difícil) parisiense.

Tenho automóvel, até ganhei licença especial para vagas de idosos. Vou usá-lo em situações especiais, para quê carro pessoal em viagens curtas?

Existe um aspecto negativo. Nossos ônibus são desotimizados, feitos sem cuidados especiais com as pessoas idosas e operados para passageiros atletas. Pisos elevados obrigam-nos a subir e descer por uma escada perigosa, mais ainda quando o ônibus pára longe do meio fio de calçadas (linhas fora da canaleta), nem sempre bem feitas. Deslocando-se com velocidade, freando e acelerando ao máximo, bancos perigosos, precisamos de muito cuidado para não se machucar num desses carros que nas canaletas podem atingir 60 km/h, o que aumenta a preocupação com algum acidente grave (a energia cinética é proporcional ao quadrado da velocidade, ou seja, um choque frontal com dois veículos nesta velocidade (60 km/h) significará 2 vezes mais energia do que a 40 km/h).

De qualquer forma estou feliz, afinal não tenho osteoporose, o medo é menor.

Pelo menos nessa situação, ou seja, idoso, começamos a ganhar algum respeito e consideração e ter a possibilidade de transitar pela capital paranaense sem custos adicionais. Andar de ônibus sem esquentar a cabeça com a linha, horário, direção e sentido é importante, basta ter tempo que se chega a algum lugar de Curitiba sem a necessidade de pagar passagens, (desde que se tenha 65 anos ou mais).

Note-se que também me senti mais seguro.

Perseguido por um possível assaltante perto da Rodoferroviária, 20 horas, segunda feira, encontrei num tubo a forma de me refugiar do provável bandido, visivelmente drogado e talvez disposto a agressões para conseguir seu intento. Suas palavras, entendidas com dificuldade (surdez) sugeriam estar armado. Os vigias civis de um hotel próximo fizeram um grande esforço para não ver nada (devem estar enfadados com a violência local) e o 190 achou que era trote... quando liguei, preocupado com outros que poderiam ser vítimas do moço que me abordara.

A sugestão é que o sistema de transporte coletivo urbano seja fortemente subsidiado, aprimorado, ampliado e sirva à população inteira sem restrições, com segurança e conforto. Assim livraremos a cidade de dezenas a centenas de milhares de automóveis, fazendo do carro pessoal uma opção de passeio e não de deslocamento regular pela capital. Fonte dos recursos? Impostos sobre combustíveis (uso do dinheiro exclusivamente no transporte coletivo) e a comercialização de automóveis (idem), por exemplo, assim como a isenção de impostos sobre veículos e componentes do sistema público.

Os políticos estão com a palavra, o que pretendem fazer para diminuir a poluição, os acidentes, a loucura do trânsito e a necessidade de investimentos colossais para compensar a fobia individualista em nossas ruas? As eleições se aproximam, vote certo, vote consciente do significado desse ato cívico.

De qualquer forma, vale muito poder usar o passe livre para idosos.



Cascaes

8.7.2010



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