Os candidatos a cargos executivos apresentam seus programas de governo. Muitos, com acesso precário às informações mais importantes, talvez prometam coisas inadequadas ou impossíveis, outros simplesmente reuniram alguns “companheiros” iluminados e agora mostram projetos nem sempre razoáveis, viáveis. Talvez nesse Brasil varonil tenhamos em algum estado um elenco de propostas sem apelos eleitoreiros (afinal ainda acreditamos em Papai Noel, fadas, duendes, Saci Pererê etc.).
Nunca é demais repetir, o Brasil já quebrou muitas vezes, quantidade muito inferior ao de cidades e estados que freqüentemente entram na lista vermelha das contas públicas. Os desastres financeiros geraram pesadelos econômicos. O mais recente durou décadas após erros crassos de planejamento e execução de obras na década de setenta do século passado.
Estamos saindo do sufoco sonhando, entre outras coisas, com o potencial do petróleo no fundo do Oceano Atlântico.
...enquanto o petróleo brota aos borbotões, a verdade vem à tona passo a passo. Subestimamos as complicações – confessa[i] o pecador arrependido Tony Hayward (presidente executivo da BP) – que podem se apresentar em uma perfuração petrolífera a 1.500 metros de profundidade. Ninguém dispõe das técnicas de segurança para evitar ou dar resposta a uma catástrofe desta magnitude...
Esse óleo deverá custar caro. O acidente da [ii]British Petroleum (gigantesco vazamento na Deepwater Horizon ainda não contido) deverá motivar ações enérgicas sobre as petroleiras. A ONU ou algo semelhante provavelmente criará novos padrões de segurança, mais severos ou, até mesmo, proibir esse tipo de exploração na ausência de certeza de segurança necessária e suficiente (após avaliação de comissões técnicas internacionais), independentemente da vontade de governos nem sempre atentos às questões de Engenharia e à confiabilidade desejada.
A crise brasileira deu-nos leis mal feitas (como a Lei 8.666) e lógicas primárias de licitação e contratação de obras e serviços. O resultado dessa utopia, que pretendia evitar o mau uso do dinheiro do contribuinte, foi uma coleção de projetos mal feitos. Antes de se aplaudir quantidade e preço de obras, nossos governantes devem valorizar a qualidade deles (algo difícil diante dos efeitos eleitoreiros), principalmente agora que o sufoco parece diminuir.
Temos candidatos e planos, o ideal seria que apresentassem suas prioridades devidamente escalonadas. Será que continuaremos a colocar o apoio ao cassino internacional como condição absoluta de governo? Os juros permanecerão altíssimos para garantir lógicas de banqueiros? A segurança estará em que nível de prioridade? A dignidade, a acessibilidade, a mobilidade e o respeito aos idosos e às pessoas com restrições físicas, mentais e/ou sensoriais serão considerados e estarão em que patamar de atenção dos futuros governantes? Saúde? Educação? Infraestrutura?...
Ou seja, antes de dizerem em detalhes o que farão, deverão deixar claro quais serão as suas prioridades, até porque planejamento de obras antes das eleições é fantasia, é brincar de governo.
Nossa legislação, dia a dia mais complexa e pouco inteligente, trava tudo e todos e não vemos políticos defendendo sua simplificação, ao contrário, principalmente os candidatos aos parlamentos prometem mais leis (e não falam a partir daí o que acontece: mais fiscais, impostos, varas, prisões, multas, restrições etc.), esquecem-se da necessidade urgentíssima de saneamento do que existe e viabilização do futuro de nosso povo.
Precisamos de compromissos, de propostas conceituais. Queremos e é importante saber, tão formalmente quanto possível, como raciocinam nossos candidatos. Devemos questionar nossos políticos sobre suas prioridades, de que forma decidirão, como formarão suas equipes e pretendem por em prática o que dirão nos palanques.
Resumindo: quais serão as prioridades reais dos futuros governantes e homens de leis? Diante de tantas incertezas (e algumas convicções) globais, pelo menos precisamos saber com clareza o que nossos governadores, o Presidente da República e os legisladores darão mais atenção, em qual escala, com que recursos.
Cascaes
7.7.2010
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[i] “BP, a Bastilha do petróleo?” Artigo de Ulrich Beck, professor emérito da Universidade de Munique e professor daLondon School of Economics
[ii] A BP, originalmente Anglo-Persian Oil Company e depois British Petroleum,[1] é uma empresa multinacional sediada no Reino Unido que opera no setor de energia, sobretudo de petróleo e gás. Fez parte do cartel conhecido como Sete Irmãs, formado pelas maiores empresas exploradoras, refinadoras e distribuidoras de petróleo e gás do planeta, as quais, após fusões e incorporações, reduziram-se a quatro - ExxonMobil, Chevron, Shell, além da própria BP. - Wikipédia
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