Ser, estar, pertencer, realizar, conquistar prestígio, eis aí uma série de desafios e situações que nos acompanham durante a vida e no jogo do poder acabamos existindo em espaços que conquistamos, simplesmente. A sociedade é competitiva de diversas formas. É um processo darwiniano eventualmente cruel, mas se não existe por forças naturais ou econômicas, acabamos inventando na opção esportiva ou religiosa e outras piores.
O ser humano nasce egoísta e morre nessa condição, precisa sobreviver, dificilmente aceita a morte. Processos educativos e coercitivos procuram atenuar comportamentos piores de agressividade e valorizam a tolerância, o amor, a fraternidade. Os grupos se formam e neles sempre existirá o líder, com suas manias e preocupações.
A união fraterna, a aceitação de todos é mais eficiente quando os aparentemente mais fracos sabem lutar, defender seus direitos. A fragilidade eventual poderá se transformar numa grande força, se o indivíduo for estimulado a tanto.
Basicamente procuramos espaços junto a semelhantes.
A pessoa com deficiência eventualmente descobrirá barreiras artificiais, superáveis, desde que tenha oportunidades e esteja treinada a enfrentá-las. Essas “chances”, contudo, devem ser conquistadas. Não é boa a inclusão acrítica, aceita diante do fatalismo comportamental e exigências legais, simplesmente.
Felizmente a Tecnologia cria oportunidades poderosíssimas de desenvolvimento, sem a necessidade de se frequentar ambientes ruins. Para a pessoa com deficiência física, funcional, intelectual, sensorial e/ou financeira o Ensino a Distância (EAD) adquire um valor imensurável.
O teletrabalho é uma forma de produzir sem grandes deslocamentos. No contato humano direto nas empresas e lugares públicos, lugares de triagem, contato e espera (aeroportos, rodoviárias, guichês das concessionárias, reuniões de trabalho, balcões de contato com o público, linhas de montagem e muitos outros lugares) o desafio é para arquitetos e designers inteligentes assim como para contratadores conscientes e dispostos a cumprir a lei.
As cidades devem oferecer mobilidade segura, não apenas dentro de automóveis, mas, principalmente para aqueles que precisam usar as calçadas, o transporte coletivo, entrar e sair de prédios diversos. A segurança policial é fundamental. A boa iluminação, padrões e manutenção das calçadas, placas de trânsito, faixas para pedestres, lugares públicos e lugares de maior perigo para todos é fundamental ao estímulo a andar, caminhar, usar a cidade, ou seja, temos uma coleção de situações em que a realidade contrasta terrivelmente com o cenário desejado não só por pessoas com deficiência, mas por qualquer indivíduo que não seja rico para usufruir de privilégios caros.
A nossa realidade é cruel. Os noticiários mostram a violência contra o “povão”, como diria FHC. E precisamos de todos para construir um Brasil melhor.
Vemos, por exemplo e com pesar, a rejeição ao Ensino a Distância por pessoas que poderiam ajudar mais indicando ajustes e não simplesmente tentando demolir algo que é uma opção valiosíssima de formação profissional. Fosse outra a visão de quem decide e não haveria um brasileiro ignorante, sem profissão. Até alfabetização de adultos pode ser feita diante de computadores, a Copel que o diga. Durante anos transformou analfabetos em pessoas capazes de ler e escrever os rudimentos da nossa língua portuguesa no que denominou, eufemisticamente de “Laboratório de Informática”.
Felizmente a tecnologia e a necessidade de otimização de deslocamentos já permitem transformar prédios gigantescos de Universidades convencionais em imensos laboratórios, museus, bibliotecas, escritórios de consultores, salas de reunião ou espaços para debates presenciais, quando necessário.
A aula presencial, expositiva, é para crianças.
O EAD com salas virtuais deve dar lugar a coleções de DVDs, notebooks, pendrives etc. que, preparados com a melhor técnica e os mais competentes professores do planeta ensinem usando os melhores cenários, laboratórios e instalações de apoio, a todos, sem fronteiras, sem barreiras, em multimídia, o que precisam aprender, deixando as instalações físicas hoje perdulárias para um aproveitamento melhor, como sugerimos.
A tecnologia evoluiu tanto que até à distância é possível avaliar os alunos, deixando para exames similares ao “da Ordem” a decisão de certificar ou não o profissional.
Precisamos, contudo, investir e oferecer tudo isso de modo a se evitar a pior barreira, a financeira. A acessibilidade total ao ensino deve considerar como uma deficiência a ser superada a condição financeira do aluno. É muito menos caro para o contribuinte investir na formação de todos os brasileiros do que deixá-los nas mãos de máfias e depois gastar com tribunais, penitenciárias, policiamentos e compensar perdas materiais e humanas consequentes da atuação dos “bandidos”.
E as restrições de comunicação? Como estamos de P&D?
Talvez poucos saibam, mas existe muito dinheiro para P&D no Brasil quando as verbas do MCT não são contingenciadas a favor de saldos para se pagar juros absurdos de uma política de combate à inflação, que só conhece um remédio, aumento dos juros. Encargos setoriais capitalizando os Fundos Setoriais (Ministério da Ciência e Tecnologia, 1999) são a fonte que nossos pesquisadores podem e devem usar, não simplesmente ao gosto e capricho das concessionárias, mas no interesse da nação atual, para a vida real. É até preocupante descobrir, quando procuramos contato com decisores, saber que as prioridades esotéricas valem mais do que o dia a dia do brasileiro.
Pode-se fazer muito sem gastar fortunas.
Por exemplo, o surdo pode não falar, se não foi oralizado, porque lhe falta acima de tudo “feedback” em relação aos sons que emite. Se nossos cientistas gastassem um pouquinho dos seus valiosos tempos de P&D no desenvolvimento de interfaces sons e imagens, o deficiente auditivo aprenderia a corrigir sua voz e dominar uma língua tão complexa quanto o português. Infelizmente não conseguimos sucesso em nossas tentativas de apoio, quem sabe alguma universidade o faça e alguma outra empresa coloque no mercado um SCA (Cascaes, O SCA e o surdo na Copel) ?
Ainda lembrando a 67ª. SOEAA (67º SOEAA - Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e da Agronomia) em Cuiabá ficamos pensando nas novidades em gestação pelo mundo mais desenvolvido. Nesse evento, pessoas de altíssimo nível técnico deram suas opiniões sobre o futuro em médio e longo prazo. Se o conhecimento humano dobra a cada 72 horas, se em 2025 um computador poderá processar tudo o que a humanidade souber e em 2050 esse aparelho custar mil dólares, com todos os descontos possíveis teremos surpresas espantosas e soluções para muita coisa... importadas, continuaremos exportando alimentos para receber em troca soluções que poderiam ser desenvolvidas aqui?
E a Humanidade, vai usar o conhecimento científico para fazer bombas, foguetes ou traquitanas, simplesmente?
Com certeza, se a ONU, nossos sindicatos, partidos políticos ditos de “esquerda” e o povo em geral entenderem ganharemos leis trabalhistas internacionais, reduzindo o tempo de trabalho compulsório e liberando o indivíduo para atividades a seu gosto.
Com máquinas substituindo as atividades humanas teremos mais tempo para o ócio criativo, por exemplo, como cansou de falar Domenico De Masi (Masi).
Nisso tudo, por que não investir na solução dos problemas das pessoas com deficiência, no aprimoramento da vida dos idosos, na cura de doenças debilitantes?
Com certeza muita coisa deve estar acontecendo. O Dr. Romeu Sassaki (Entrevista Interativa com Romeu Kazumi Sassaki), se é que entendi bem em palestra dada em Curitiba, disse que já dispomos de mais de trinta mil soluções. Quais são? Onde estão? Quando custam? Quem produz?
Assim como temos portais de transparência deveríamos ter pelo menos um mostrando tudo isso de forma organizada, objetiva, orientativa. Um Portal Técnico para a PcD, o idoso e as pessoas com doenças debilitantes seria um maná que o Sistema S (colaboradores), por exemplo, poderia patrocinar.
E as universidades convencionais? Em Curitiba ficamos descobrindo mais e mais prédios para a ampliação das universidades federais. O que farão lá dentro? Quanto custará essa ampliação física? Quais serão os custos e os benefícios disso tudo? Estratégias de antigamente ainda são muito fortes na cabeça de pessoas que deveriam agir, pensar, trabalhar para um planeta sustentável. A Terceira Onda (Tofler, 1995) transformava adultos em autômatos diplomados, e agora que os robôs são reais, o que pode ser um profissional de nível superior?
Criamos o conceito de universidades, escolas de último grau onde as pessoas deveriam conviver, aprender mais sobre a sociedade em que existem. Vimos, em alguns casos, ambientes idílicos para alunos e professores exercerem seus trabalhos. Isso era razoável nos tempos sem rádio, televisão e internet. Agora a integração é seletiva, virtual e presencial quando necessário e interessar (a quem?).
Ou seja, podemos evitar deslocamentos. Não precisamos submeter ninguém a convivências nem sempre agradáveis, dignificantes. As cidades devem mudar, ser locais sustentáveis e não fábricas de doidos. Chega de monstrópoles e avenidas sempre insuficientes para tantos carros.
Tudo isso exige que tenhamos coragem de refazer paradigmas, de estabelecer outros padrões de convivência. Devemos acrescentar ao discurso da inclusão física o da convivência virtual ou material sob critérios racionais.
O Brasil possui espaços privilegiados. A concentração humana, contudo, impõe-se por necessidades eventualmente insuperáveis em pequenas cidades.
Conhecemos famílias que se mudaram para cidades grandes para poderem oferecer a seus filhos uma educação melhor. Com os recursos de telecomunicações isso já não é necessário, precisamos, contudo, de bons polos geradores de cultura profissional, social humana. Temos condições de oferecer, repetindo, em DVDs, Pen Drives, notebooks, PCs, CDs e até em discos de vinil aulas proferidas pelos melhores professores do mundo. As telas dos computadores, os alto falantes e os teclados, por enquanto retângulos sobre a mesa, a interface homem/escola.
A certificação a OAB nos ensinou como fazer, afinal, de novo, o que é o Exame da Ordem?
Centros de pesquisa e desenvolvimento, contudo, são mais do que necessários. É de chorar ver o nosso atraso, comparar com o que já vimos pelo mundo externo. Na X ReaTech descobrimos alguns aparelhinhos e até bengalas com sensores, criadas e fabricadas longe do Brasil e vendidas aqui a custos elevados. Isso enquanto aguentamos permanecer num ambiente extremamente barulhento e mal preparado para o idoso.
O conceito “Literatura Técnica” (Cascaes, Literatura Técnica Didática Digital - LTDD) é outra área que merece revisão total. Pode-se ter livros digitais com sons, imagens, diversas formas de acessibilidade e comunicação substituindo os livros antigos, definidos recentemente por uma lei arcaica (Livros), limitados a textos e ilustrações que mostram pouco do que deveriam dizer. Não devemos esquecer os “e-readers” portáteis com seus “e-books” (E-book), graças ao quê podemos levar bibliotecas inteiras. Já calcularam os custos de uma boa biblioteca em casa?
No mundo moderno é extremamente importante redefinir as funções e formatos das escolas, o ensino século 21, as formas de aprendizado e leitura.
Partindo da visão de que no primeiro grau temos uma extensão da casa até (extremamente importante), no segundo a preparação do jovem para ser adulto, no terceiro grau, o ensino deve estar sob responsabilidade do aluno, não do professor. Isso é possível e infinitamente mais racional do que o modelo brasileiro, que, como de costume, segue sempre atrasado em relação aos melhores polos mundiais. Quem decide, de fato, se o profissional é bom ou mal é o mercado de trabalho. Se o estudante acreditar que basta um diploma, estará muito equivocado, a menos que tenha alguém que o nomeie fantasma de algum gabinete ou seja rico por herança.
Felizmente o governo federal e alguns estaduais acordaram, trabalham para criar infovias, EAD. Aos poucos sentem que podem fazer muito usando a tecnologia. Naturalmente as corporações não enxergam isso confortavelmente. A realidade é essa, contudo.
O que dará sobrevida às nossas universidades? A especialização, a transformação em centros de P&D, de produção de material didático, de atendimento a nichos de “mercado humano”. Assim vemos, por exemplo, a validade da criação de Universidades Especiais, dedicadas aos idosos, pessoas com deficiência, superdotados etc.
O Brasil precisa sair de sua base calcificada e clássica para uma visão arrojada da educação superior. Talvez assim mude uma frase que ouvimos num seminário, em que o palestrante disse que “os estudantes entram nas universidades cheirando a leite e de lá saem fedendo a cerveja” (O que é o GFAL - Global Forum América Latina – Empresas, Universidades e Sociedade).
Temos como proposta pessoal a criação de Universidades Especiais para estudantes PcD, assim como poderia ser para outras categorias de estudantes. O fundamental é a otimização do ensino, talvez mudando tudo. A inclusão não é o principal problema e sim a especialização e produção de material didático.
Dizemos isso com base em experiências terríveis, situações que gostaríamos que não se repetissem. Afinal, felizmente, nossos filhos estão prestes a poder dispensar isso tudo. Por amor aos nossos jovens pedimos, encarecemos soluções diferentes das convencionais.
Inclusão sim, para o que viermos a fazer, pensar em tudo, resolver problemas, criar mobilidade, segurança, acessibilidade.
Para encerrar, insistindo no exemplo que nos interessa pessoalmente, o que é a LIBRAS? É uma linguagem gestual. E o Português? Uma língua complexa que diz tudo em papel e sons. Da imagem do intérprete para a telinha de computadores o esforço necessário é pequeno, é só querer e ter recursos para os desenvolvimentos necessários. Para quem tem a chave dos laboratórios e dos cofres da República é só querer. Dificilmente, contudo, isso será prioridade, o Brasil quer até fazer submarino atômico e trens de alta velocidade... Ou seja, vamos questionar, cobrar mudanças de prioridades. Sem integração e respeito por todos, nosso futuro não será muito diferente do mundo que está quebrando por erros de avaliação e opções erradas.
Sentindo o abandono em que as pessoas com deficiência se encontram, quando muito ganhando diplomas que mal utilizam diante de regras estranhas de certificação e contratação de profissionais, queremos, podemos, devemos lutar pela criação de Universidades Especiais, EAD, teletrabalho, cidades inclusivas, segurança etc.
Todos ganharão com novos conceitos de educação, urbanismo, trabalho, de vida.
Cascaes
18.4.2011
Ministério da Ciência e Tecnologia. (1999). Acesso em 1 de dezembro de 2010, disponível em Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia: http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/fundos_setoriais_ini.asp
67º SOEAA - Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e da Agronomia. (s.d.). Acesso em 28 de 1 de 28, disponível em Centro de Eventos do Pantanal: http://www.eventospantanal.com.br/eventov.php?id_agenda=10#3
Cascaes, J. C. (s.d.). Acesso em 28 de 1 de 2011, disponível em Ponderações Engenheirais.
Cascaes, J. C. (s.d.). Acesso em 22 de 2 de 2011, disponível em Literatura Técnica Didática Digital - LTDD: http://ltde.blogspot.com/
Cascaes, J. C. (s.d.). O SCA e o surdo na Copel. Fonte: O deficiente auditivo: http://surdosegentequeluta.blogspot.com/2009/05/o-sca-e-o-surdo-na-copel.html
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