domingo, 15 de maio de 2011

Direitos humanos ou...

A visita à X ReaTech foi frustrante. Esperava mais, principalmente uma presença ostensiva de prefeituras, do Estado de São Paulo, Governo Federal e, acima de tudo, sentir entusiasmo empresarial, inovação, cultura e determinação de todos a favor das pessoas com deficiência – PcD. Os stands, comparados com os apresentados em 2007, encolheram e o que vimos foi muito pouco do que a ciência e a tecnologia poderiam estar apresentando.
É uma feira, não um evento científico, mas nada se compara à sua dimensão no Brasil.
A ReaTech poderia ser disputada pelos centros de P&D na exibição dos trabalhos que fazem. Lá, por exemplo, deveríamos conhecer projetos financiados e apoiados pelo Governo Federal via Fundos Setoriais. Saber quais e como tiveram sucesso no aprimoramento do atendimento à PcD e, consequentemente, ao idoso, que gradativamente vê seus 5 sentidos se debilitarem e normalmente procura esconder suas limitações. Demonstrar ao povo brasileiro o bom uso (se existir) desse imposto com nome diferente embutido nas tarifas das concessionárias.
Novas e melhores próteses e lógicas deveriam existir para atender pessoas debilitadas por doenças tão violentas quanto o diabetes.
Com o tremendo e inesgotável potencial do mundo WEB e da informática em todos os seus derivativos já deveríamos dispor, com preços acessíveis, se o Governo quisesse, de próteses, carros, sistemas, enfim, que tornassem a vida de todos, inclusive das pessoas mais sadias, melhor, mais digna, inclusiva, com mobilidade e segurança.
O que terá acontecido de 2007 para cá?
O crescimento desordenado das cidades brasileiras levou a inundações de esgoto a qualquer chuva, assim o CO2 entrou em cena, devidamente apoiado por lobbies gigantescos querendo vender coisas para nós. A violência cresceu, as drogas são uma epidemia assustadora. A segurança de todos nós agora depende de tudo o que a ciência e a força bruta puderem fazer a peso de ouro, que quem pode gasta sem titubear. Chegamos ao absurdo de ver em São Paulo helicópteros serem utilizados praticamente como transporte pessoal dentro da cidade (e os engarrafamentos...).
Pior ainda é perceber nitidamente a opção lúdica da sociedade. A notícia da realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil apagou da memória de milhões de brasileiros que nosso país precisa de tudo, em todas as cidades, e não apenas nas 14 da Copa. Carece de saneamento básico, hospitais, escolas, transporte coletivo e até em alguns casos simplesmente de um pouco de brita nas ruas, sem esquecer o apavorante crescimento da dengue. Nada disso importa, exceto ver os profissionais da bola passarem um mês aqui e os mochileiros que chegarem voltarem a seus países impressionados com o que estiver pronto até lá.
Os cortes no orçamento para 2011 ilustram bem a situação do Brasil, não há necessidade de dizer mais nada. Cortes infinitesimais em relação, contudo (em termos absolutos), ao que outras nações pretendem fazer para reequilibrar a economia mundial.
Quem perdeu mais com tudo isso?
A ReaTech 2011 mostra que o truque é esfriar temas que não interessem nesse contexto político, pois se sabe muito bem que uma vitória na Copa do Mundo de 2014 será um bom reforço político (eleições) ao governo que estiver no Poder. Triste é imaginar, sendo engenheiro, que poderíamos estar muito mais avançados no atendimento àqueles que realmente precisam de nós.
O mundo precisa retomar determinação na construção de uma vida melhor para todos. A importância do ser humano é natural, afinal não somos marcianos. Não cuidando e não dando atenção às suas doenças físicas ou mentais estará construindo seres violentos, ou pelo menos infelizes diante de oportunidades perdidas.
De qualquer modo, quem puder, vá à Cidade de São Paulo e visite a ReaTech 2011. É um lugar mais para pensar que para ver.

Cascaes
15.4.2011

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