quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mito e realidade

Mito e realidade
Nosso povo é passível de muitos estudos por efeito da singularidade de sua formação. Obviamente qualquer nação possui histórias próprias, mas vivemos aqui, assim para nós é mais fácil falar do Brasil.
Uma situação típica entre nós é contornar dificuldades, “dar um jeitinho”, fazer coisas “para inglês ver”. Talvez por isso tenhamos tantas leis, decretos, normas e regulamentos minuciosos e inúteis. Os constituintes, que criaram nossa atual Constituição Federal (250 artigos), exultavam a cada aprovação, talvez acreditando que nosso povo mudaria por decreto.
Para as pessoas com deficiência e os idosos, sem esquecer portadores de doenças debilitantes, a fantasia é um pesadelo. Todos gostariam que a Constituição, as leis, os decretos, as normas e regulamentos e agora os “estatutos” mudassem rapidamente o Brasil. Não é isso que acontece, ao contrário, à medida que as autoridades fecham os olhos para as transgressões vamos desmoralizando o modelo institucional e implicitamente dizendo “é para brasileiro ver”, acrescentando as frases ufanistas, entre elas a mais ridícula: nossas leis (nisso ou naquilo) são as mais modernas do mundo...
À medida que envelhecemos e vamos enxergando mais com a inteligência e menos com os olhos notamos a fragilidade de organizações, ou, cinicamente aderimos ao jogo e passamos a sentir mais alegria com os rituais, as medalhas e diplomas, ainda que saibamos ser mais um jogo de conquista de espaços do que realmente para cumprimento dos estatutos da entidade em que estejamos enquadrados.
Um tema, que em alguns ambientes é discutido, é a importância ou não das escolas especiais. Elas devem acabar? A inclusão é possível em curto prazo? As crianças, os jovens e os adultos serão respeitados, bem atendidos, integrados no primeiro grau, segundo e terceiro grau? Esse ser humano terá ambientes acolhedores? Será tratado com respeito e cobrado de forma adequada?
Defendemos a proposta da criação de universidades especiais (Cascaes). Por quê? Seria um retrocesso? Ou o melhor caminho para a inclusão real em todos os níveis?
Acreditamos, após anos de presença em escolas na condição de aluno ou de professor, que a partir do exemplo da Gallaudet University (Gallaudet University Mission and Goals) é necessário, urgentemente desejável e oportuno termos uma (pelo menos) escola de terceiro grau formando profissionais, educando mestres, criando material didático, irradiando EAD, reunindo especialistas e alunos em torno da formação do profissional PcD, para que ele, sendo realmente bem formado, possa disputar espaços com outros sem os problemas que possui.
Infelizmente vemos, com angústia, que esse tema é descartado porque a palavra oficial do Governo Federal é a inclusão e acabar com as escolas especiais. Será que essas pessoas que tomam decisões entendem, por exemplo, como é o “mundo do surdo” (Silêncio)? Acreditam em milagres ou estão fazendo belos discursos para agradar a torcida?
É bom lembrar que houve uma multiplicação extraordinária de universidades, até em fronteira para acolher estrangeiros, e para os brasileiros com deficiência, o que tem sido feito além de decretos mudando denominações dessa ou daquela condição de deficiência?
Somos o país dos discursos e dos programas contingenciados. Lamentavelmente dependemos demais de Brasília, pois a maior parte dos impostos vai e fica por lá. Ironicamente a maioria das responsabilidades estabelecidas pela Constituição Federal é dos estados e municípios. E o dinheiro? Adianta dar responsabilidade sem recursos adequados?
Uma Universidade Especial poderá, além de tudo o que dissemos, tendo o foco no desenvolvimento de soluções a favor da PcD, aproveitar melhor os fundos setoriais do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia, 1999). A maior parte das concessionárias de serviços essenciais recolhe dinheiro destinado a pesquisas e desenvolvimento de projetos inovadores, por quê não centrar esforços a favor da pessoa com deficiência, o idoso e pessoas com doenças debilitantes? Ou dá mais voto usar esse dinheiro para o famoso “pão e circo” que todos entendem e entorpece a visão do cidadão que realmente carece de mais atenção...

Cascaes
11.4.2011

Ministério da Ciência e Tecnologia. (1999). Acesso em 1 de dezembro de 2010, disponível em Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia: http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/fundos_setoriais_ini.asp
Cascaes, J. C. (s.d.). Acesso em 28 de 12 de 2010, disponível em Universidade para os Surdos do Brasil: http://universidadeparaossurdos.blogspot.com/
Gallaudet University Mission and Goals. (s.d.). Fonte: Gallaudet University: http://www.gallaudet.edu/x20518.xml
Silêncio, C. d. (s.d.). Quem somos. Fonte: Casa de Cultura do Silêncio: http://www.casadosilencio.hpg.ig.com.br/mundo_surdo.html

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