sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cidades, impostos e dignidade

Cidades, impostos e dignidade
A Constituição Federal do Brasil deu inúmeras responsabilidades aos municípios, esvaziando os estados, e aos poucos, após 1988, a União foi inventando encargos, taxas e ampliando contas que lhe favoreciam. Assim temos bancos ou banqueiros extremamente poderosos e um Governo Federal que exige submissão aos seus caprichos para que as cidades tenham alguma chance de se desenvolverem de forma adequada.
Pior ainda, uma legislação federal que naturalmente se impõe a todas as unidades da “Federação” complicou tanto a administração pública, além de torná-la ineficaz, que o pesadelo só pode ser desatado pela privatização total, algo que talvez estivesse na mente dos grandes articuladores da nossa política nacional.
Governos travados, estatais penalizadas até por serem simplesmente empresas públicas e uma tremenda carga de pão e circo sem esforço garante o resto.
Temos mudanças. Agora em bairros humildes existem ONGs oferecendo cursos até de graça, só que sobram vagas e os alunos, meninos, principalmente, querem ser jogadores de futebol. Afinal dá mídia e muito dinheiro.
Filosofia e Sociologia agora são aulas obrigatórias, talvez com cacoetes ideológicos, mas é o preço de uma boa educação que nossas crianças e jovens precisam desesperadamente. O ensino em tempo integral vai aparecendo muito devagar em escolas públicas. O Governo Federal volta a desenvolver projetos estruturais essenciais e o Brasil já começa a ser aceito, ainda que sob repugnância ou curiosidade exótica no meio dos países mais ricos.
O preço tem sido alto. A carga tributária é espantosamente elevada para tão poucos resultados, pois criamos e sustentamos uma política absurda de combate à inflação (essa é a desculpa), esgotando qualquer chance de deslanche efetivo de projetos mais do que essenciais à nação.
Vivemos em Curitiba, cidade que se orgulha do que oferece. Poderia ser muito melhor. Sem falar nos equívocos normais de qualquer administração, vemos e ouvimos, por exemplo, que seus pedidos de devolução de dinheiro que pagamos para obras de infraestrutura são eufemisticamente contingenciados, afinal ainda não aprendemos a beijar a mão do governo de plantão em Brasília.
Pois é, criamos uma Versalhes fixa além da voadora para quem ocupa o cargo de Presidente da República e o orçamento do Congresso Nacional é superior ao de muitas capitais brasileiras, para quê?
Curitiba completou 319 anos. É uma cidade que já fez muito, entre suas iniciativas esteve o saneamento básico, por exemplo. Houve tempos em que a Sanepar testava soluções e era referência nacional. Drenagens e canalizações transformaram a capital dos sapos em lugar de vida saudável. Parques maravilhosos marcam nossa capital, já as praças perderam um pouco com uma arborização selvagem. Ruas da Cidadania ilustram uma preocupação em bem servir, algo melhor se conhecermos suas escolas. O transporte Coletivo Urbano é grife e a Rua das Flores uma marca, assim como o prédio da Reitoria e o Museu Oscar Niemeyer.
Temos problemas também, o mais grave é o resultado da origem madeireira e cafeeira da economia paranaense. Para resolver isso existe a necessidade de se investir muito em Educação, acima de tudo.
A criminalidade e a invasão de migrantes, por efeito de uma estratégia de desenvolvimento estadual inadequada e a catástrofe das geadas criaram problemas sociais tremendos. Trabalhadores que viviam em fazendas sem escolas, energia, assistência médica etc. de repente viraram pessoas desesperadas procurando um canto em volta das cidades para viver. O peso social causado pela erradicação do café, adoção da soja, pecuária e mecanização da lavoura e depois o império dos traficantes geraram um tremendo pesadelo social pelo Brasil inteiro, principalmente aqui.
Falávamos, contudo, dos impostos. Andando, note-se, andando, caminhando, usando o transporte coletivo, vendo com olhos de engenheiro notamos que a capital de Curitiba precisa refazer sua infraestrutura. Ficamos lembrando-se do uso do dinheiro arrecadado pela União e pensando nas humilhações obrigatórias daqueles que elegemos, obrigados a lamber os pés federais e para poderem trazer para cá o dinheiro que nosso povo precisa e enviou para lá.
É justo exportar tanto (alimentos, energia, produtos industriais etc.) e não ter dinheiro para nada além de um ou outro projeto adicional? Precisamos com urgência de reforma fiscal que valorize quem paga impostos...
Cascaes
29.3.2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário