O desrespeito ao surdo
Surdez é uma condição de vida com diversas alternativas de prejuízo auditivo. Não é simplesmente não ouvir, entre esse extremo e a audição de gênio da música com percepção total, capaz de identificar frações de sons que a maioria nem descobre, temos uma infinidade de situações possíveis. Para complicar existe o tinnitus (Tinnitus e Cuidados com a Audição, 2011), uma patologia que complica mais ainda a audição.
Para explicar melhor a surdez é importante que o cidadão não deficiente auditivo compreenda a necessidade de atenção e preocupação de se comunicar com um ser humano, que precisa entender o que fala, o teor da mensagem, a precisão da informação que é dada. O idoso, por exemplo, pode perder a audição sem estar preparado para viver nessa condição, tornando-se alvo fácil de chacotas e acidentes, sem falar da exclusão por incapacidade de participação em ambientes que desprezam essa possível condição do ser humano.
Não ouvir, não entender é um suplício que humilha o ser humano em seus relacionamentos, dos mais simples aos de maior responsabilidade. Um exemplo dessa condição extremamente desagradável está na recepção da maioria dos lugares públicos. Além do despreparo educacional do recepcionista, a falta de recursos fáceis de serem desenvolvidos complica a vida de quem ouve mal. A não compreensão do problema “ouvir” é pior, uma questão séria em portarias de repartições públicas, hospitais, locais de trânsito etc. onde o visitante precisa saber com exatidão o que é transmitido; ou seja, perder a audição ou ter nascido sem ela é um pesadelo que não é levado em consideração pela imensa maioria de nossos cidadãos, dos mais humildes aos grandes chefes.
Em ambientes escolares e profissionais a inclusão plena do surdo ainda é uma esperança.
Por quê?
Talvez porque o surdo não mostre sua deficiência. A limitação auditiva não se destaca na multidão, não é percebida pelas pessoas ou, quando sabem estar falando com alguém nessa condição, acreditam que a prótese existe e é suficiente, portanto é culpa do surdo se ele não se comunica adequadamente...
Com certeza teríamos opções se a fábula de dinheiro arrecadado pelas concessionárias de serviços públicos, por exemplo, sob a rubrica de “encargos para P&D”, usada pelo FINEP (Ministério da Ciência e Tecnologia, 1999) na formação dos Fundos Setoriais, fosse substancialmente aplicada a melhorar soluções de inclusão, acessibilidade, de comunicação, de respeito à PcD e ao idoso dentro e fora das empresas. Isso mal acontece e a indústria ainda não descobriu o filão de ouro que seria desenvolver recursos adicionais de apoio a idosos e PcDs.
Incomoda, humilha, entristece e enraivece quando em família temos problemas de acessibilidade dentro e fora de casa e não sentimos entusiasmo para a solução dos problemas existentes. Infelizmente ganhamos outras prioridades e a Humanidade, na sua rota aleatória, avança e recua em Direitos Humanos.
Com certeza vivemos o drama da deseducação social.
Temos leis, decretos, normas, códigos, estatutos etc., são respeitados?
Não! Basta ver, por exemplo, como nossas calçadas são tudo, menos circuitos seguros de trânsito. O mundo foi feito ao gosto e sabor de elites que, tendo problemas, pagam soluções pessoais.
Precisamos retomar com vigor a luta a favor das pessoas com deficiência(s) e os surdos, entre outros, devem reforçar suas ações por direitos e respeito que a sociedade nega ao cidadão que ouve mal, ou não escuta nada.
Para isso, se você é PcD, idoso ou sente que de alguma forma debocham de suas limitações denuncie (Inacessibilidade), lute, procure o Ministério Público quando for ofendido, vote em pessoas sensíveis a essas questões, dê sua contribuição.
Não podemos desistir de construir um mundo melhor para todos.
Cascaes
26.2.2011
Ministério da Ciência e Tecnologia. (1999). Acesso em 1 de dezembro de 2010, disponível em Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia: http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/fundos_setoriais_ini.asp
Tinnitus e Cuidados com a Audição. (26 de 2 de 2011). Fonte: audiolist.org: http://audiolist.org/forum/kb.php?mode=article&k=13
Cascaes, C. L. (s.d.). Acesso em 26 de 2 de 2011, disponível em Inacessibilidade: https://inacessibilidade.clickseguro.com/
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