Bondade repentina e a Democracia real
A Justiça Social é um processo de evolução não linear, tem saltos ou quedas. Não é exatamente uma função matemática bem comportada, pois os mais fortes circunstancialmente sempre ocuparam o comando porque contam com o medo ou fragilidade do resto do rebanho.
Revoluções, levantes populares, greves e até o vandalismo puro e simples acontecem e existiram por diversas razões, entre elas, a inveja e a injustiça.
Nada errado em considerar o sentimento “inveja” como estímulo político, pois é isso e mais as humilhações que os mais fracos sentem que estimulam reações fortes, explosivas, na ilusão de avanços políticos.
As redes sociais, a internet e seus inúmeros meios de comunicação agora permitem a qualquer pessoa, esteja onde estiver, tendo alguma inteligência e competência técnica, descobrir mundos que seus pais desconheciam. Melhor ainda, podem perceber como foram enganados em proza, verso e rezas por castas de privilegiados ao longo dos séculos.
O surto de revoltas na região norte da África é um exemplo maravilhoso desse fenômeno tecnológico. Foi, com certeza, um fator decisivo na mobilização de povos que de outra forma ainda estariam recheando contas secretas em bancos estrangeiros (que agora anunciam como algo que desconheciam as quantias fantásticas que ditadores, monarcas, generais etc. tinham escondido em seus cofres).
Com certeza com a pressão popular agora anunciam programas bilionários para agradar o povo. Já não vale fazer templos e túmulos, não estão em guerras para motivar rivalidades e nenhum esporte empolga aquela gente que vive sobre montanhas de petróleo.
Nossos trabalhadores também reagem. Grandes obras contratadas por preços absurdamente baixos, sempre na esperança de poder tratar mal seus funcionários, estimulam revoltas.
Felizmente o Brasil tem sua economia reaquecida por uma série de cenários favoráveis, onde o governo mais atrapalhou do que ajudou. Temos, por exceção, a EMBRAPA, uma empresa fantástica que quase foi desmontada há alguns anos.
Políticos, empresários, grandes personalidades das elites dominantes aqui e no resto do mundo estão sentindo algo parecido às ondas revolucionárias do século 19, que só pararam pelo culto a um nacionalismo extremado, xenofobia e racismo. As feras acabaram levando a Humanidade a muitas guerras, mas saímos delas com nações ainda muito atrasadas.
Felizmente qualquer estudante hoje pode aprender uma profissão, trabalhar, construir sua família onde quer que esteja. Com o EAD (Ensino a Distância), livros digitais, filmes, literatura técnica etc. podemos mostrar até às mulheres cobertas de burca ou enclausuradas em suas casas que existe um mundo diferente, que elas podem mudar.
Felizmente o mundo evolui, e precisa mudar. Os desastres naturais e artificiais demonstram a incompetência das elites. Vivemos uma fase em que, perplexos, notamos que simplesmente devemos estudar e aprender a decidir por conta própria sobre o nosso futuro. Para isso inventaram há milênios a Democracia, ainda que restrita. Agora temos condições de torná-la permanente, universal, sem intermediários.
Estamos vivendo uma revolução e muitos ainda não perceberam. Os velhos têm medo de computador e as crianças já nascem diante de teclados.
Se Deus existe, ele escolheu bem a hora de se inventar as redes sociais, as fibras óticas, os notebooks, etc.
Dentro do movimento browniano, que tem sido o deslocamento da humanidade rumo ao seu futuro, acreditamos que por uma força externa, tenha o nome que for, vamos avançar alguns degraus.
Os africanos são apenas o começo da transformação, que poderá ser pacífica ou violenta, tudo vai depender da inteligência de todos. Parece-nos que finalmente veremos democracias nesse planeta demolido por tiranias, realezas, elites avarentas e lógicas predadoras.
Cascaes
18.3.2011
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