As escolas e universidades especiais
Quem trabalha em manutenção na área de serviços essenciais ou produtos de alto risco sabe que diante de algum problema a prioridade absoluta é fazer a “coisa” funcionar, não perder tempo com muita discussão. Para isso é fundamental ter-se uma boa equipe, a melhor possível, super-bem treinada, equipada e disposta a trabalhar de qualquer jeito nessa atividade.
No nosso caso, quando atuamos em sistemas de geração e transmissão de energia elétrica em alta tensão (não em distribuição urbana) saíamos de Curitiba sem saber quando voltar, tendo a compreensão de que o fundamental era fazer as subestações e usinas funcionarem. Uma vez operando, tinha-se o resto do tempo para substituir ou arrumar melhor as soluções provisórias. O fundamental, contudo, era ter resultados positivos, deixar o sistema funcionando e prepará-lo para suportar os desafios normais ou mais violentos que deveriam enfrentar.
Em discussão recente sobre uma escola especial em Curitiba revimos na memória aqueles anos de trabalho pesado. O serviço de manutenção não dá medalhas, diplomas ou discursos de inauguração, assim pode-se dizer que o time dessa área é mal pago, até visto com maus olhos por aqueles que no fundo foram os responsáveis pelos acidentes, o pessoal que produziu e festejou “soluções” e instalações mal projetadas e/ou mal feitas.
Manutenção não é fácil. Manter algo importante, mas difícil por efeito de algum acidente, porque precisa cumprir suas funções com eficácia e segurança, um desafio maior. Corrigir, recuperar, tornar funcional qualquer equipamento, obra ou, principalmente, seres humanos é uma atividade nobre que carece de atenção adequada pelos grandes chefes.
A alienação social e política é a maior praga de nosso país.
Assim são os dramas de algumas escolas para crianças, jovens e adultos com deficiência(s).
Por azares da vida, alguns seres humanos precisam de tratamentos e cuidados além da média dos mestres de escolas regulares, mais ainda, com recursos que nem suas famílias possuem. São uma mistura de clínicas, albergues e escolas para futuros cidadãos inseridos na vida comum, se possível.
É sempre bom lembrar que a maioria das lesões não existiria se a nação há muito tempo tivesse mais cuidado com as gestantes, com o trânsito, os “remédios” perigosos etc. e se a violência se resumisse a brigas ingênuas entre torcedores de futebol.
Precisamos de escolas especiais e é importante que todos saibam que nenhuma família está livre dessa hipótese.
A epidemia “drogas”, por exemplo, está criando outra espécie de demanda, a de reformatórios especializados, clínicas com formato adequado para proteger crianças e jovens vítimas dessa autêntica praga nacional.
Em níveis maiores carecemos de polos dedicados às pessoas com deficiência, a indivíduos com doenças lesionantes, onde professores (mestres, PhDs, pesquisadores, técnicos) se dediquem em laboratórios e clínicas especializadas, inseridas em universidades ou, melhor ainda, em universidades especiais, a oferecer profissões, cursos de extensão, produzir pesquisas e desenvolvimento de produtos (próteses, orientações técnicas, avaliação de soluções e soluções a favor da PcD etc.), a preparar outros professores e, enfim, diplomar PcDs em profissões comuns.
Poderíamos até estar conformados com tudo o que existe, mas quando vemos a disposição do Governo, em todos os níveis, em apoiar o futebol profissional, criando até loterias que em outros países (Espanha, como exemplo) levantam fundos para a educação especial, simplesmente ganhamos raiva, revolta contra aqueles que decidem (Dilma intervém para evitar atrasos na Copa). A Copa do Mundo de 2014 é prioritária? Devemos respeitar as exigências da Fifa, produzidas em tempos de vacas gordas? Não seria o caso de baixar a bola desse pessoal? Não seria o caso de deixar esse caminho para a famosa “Iniciativa Privada”? Nossas prioridades são essas? Não existe gente pobre no sul do Brasil?
Não importa que os estudos de viabilidade estejam superados. A cobrança em direção a despesas bilionárias a favor da FIFA e dos circos (ou arenas) para os brasileiros e mochileiros, que nos visitarão, está em curso (Cascaes, Copa do Mundo e soluções discutíveis), com o apoio entusiástico da mídia privada, uma grande beneficiária desse “esporte da cerveja e televisão” com sequelas enormes graças ao vandalismo de fanáticos.
Podemos investir mais nos processos de inclusão das PcD, ainda que em prejuízo do futebol espetáculo, por exemplo.
Por que não dedicarmos parte da receita dos jogos de azar à educação para inclusão? O exemplo espanhol é magnífico, onde a Fundação ONCE (El objetivo principal de la Fundación ONCEconsiste en la realización de programas de integración laboral-formación y empleo para personas discapacitadas, y accesibilidad global, promoviendo la creación de entornos, productos y servicios globalmente accesibles), com 3% da renda bruta dos jogos de azar mantém um trabalho extraordinário (Presentación) : “La principal fuente de financiación de la Fundación ONCE para cada ejercicio proviene del 3% de los ingresos brutos obtenidos con la comercialización de los juegos de azar de la ONCE. Esta cifra supone un euro de cada tres de los que la ONCE dedica a servicios sociales.”
Vemos, perplexos, os lucros estratosféricos dos bancos (Lucro 2010) e o dinheiro monumental que o Governo corta do seu orçamento (Fariello, 2011) para pagar e conter uma inflação causada, agora, pela exportação de alimentos e perdas de couves e alfaces em períodos de chuva, aumentando os juros, dizendo que é para conter a inflação. Os bancos pagam quanto de imposto de renda?
Insistindo, repetindo, berrando: por quê não se criar um fundo inteligente e realmente substancioso a favor da PcD? As leis são de pouca utilidade se não dispormos de obras, projetos e recursos em abundância para garantir a inclusão urbana e escolar da pessoa com necessidade(s) especial. Note-se que a gravidade do problema cresce com o grau de pobreza das famílias.
Assim, podemos e devemos lutar pelas escolas especiais, Universidades Especiais (Cascaes) e recursos de P&D (Cascaes, E a pessoa com deficiência?) a favor das pessoas que dependem de soluções para melhorarem seus padrões de inclusão nas escolas e na sociedade em geral.
Cascaes
25.2.2011
Cascaes, J. C. (s.d.). Acesso em 28 de 12 de 2010, disponível em Universidade para os Surdos do Brasil: http://universidadeparaossurdos.blogspot.com/
Cascaes, J. C. (s.d.). Copa do Mundo e soluções discutíveis. Acesso em 25 de 2 de 2011, disponível em Mirante pela cidadania: http://mirantepelacidadania.blogspot.com/2010/09/copa-do-mundo-e-solucoes-discutiveis.html
Cascaes, J. C. (s.d.). E a pessoa com deficiência? Acesso em 25 de 2 de 2011, disponível em Pesquisa e Desenvolvimento no Paraná: http://pesquisa-e-desenvolvimento.blogspot.com/2010/12/e-pessoa-com-deficiencia.html
Fariello, D. (9 de 2 de 2011). Governo corta R$ 50 bilhões do Orçamento 2011. Acesso em 25 de 2 de 2011, disponível em Economia: http://economia.ig.com.br/governo+corta+r+50+bilhoes+do+orcamento+2011/n1237996127243.html
Luciano Máximo, C. A. (15 de 2 de 2011). Dilma intervém para evitar atrasos na Copa. Acesso em 2011 de 2 de 25, disponível em Luis Nassif Online: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/dilma-e-os-atrasos-da-copa-do-mundo
Lucro 2010. (s.d.). Acesso em 2011 de 2 de 25, disponível em Federação dos Bancários do Paraná: http://www.feebpr.org.br/lucroban.htm
Presentación. (s.d.). Acesso em 25 de 2 de 2011, disponível em Fundación ONCE: http://www.fundaciononce.es/ES/QuienesSomos/Paginas/presentacion.aspx
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