domingo, 16 de janeiro de 2011

Engenharia e política

As catástrofes, que vão se tornando recorrentes, demonstram o que Hannah Arendt disse em (A Vida Do Espírito):
“A ausência de pensamento é realmente um poderoso fator nos assuntos humanos; estatisticamente, é o mais poderoso deles, não apenas na conduta de muitos, mas também na conduta de todos. A premência, a a-scholia dos assuntos humanos, requer juízos provisórios, a confiança no hábito e no costume, isto é, nos preconceitos”.
Isso não é novidade, principalmente para aqueles que exerceram ou atuam como líderes de multidões. Os marqueteiros políticos que o digam. Assim colecionamos maus governos e tragédias inacreditáveis. O resultado da imprudência política e técnica (Mirante da Defesa Civil) é encher noticiários com cenas de imenso sofrimento.
Temos critérios discutíveis de desenvolvimento.
A superconcentração humana em alguns lugares nem sempre apropriados a essa situação é preocupante, criando-se cenários perigosos. Em outra dimensão a ampliação de cidades (de qualquer tamanho) para lugares inadequados é outro fator de risco.
As chuvas mais fortes mostram, desde um balneário como o de Camboriú até cidades padrão Curitiba ou São Paulo, que estivemos sem administração técnica adequada durante décadas. Simplesmente não há por que ver ruas extravasando águas com tanta frequência e o pior: desabamentos e ocupações de lugares que de tão manjados já estão mapeados como áreas de risco, mas cheios de casas e até prédios. Os prejuízos podem ser colossais e o sofrimento de inúmeras pessoas maior ainda.
Incomoda, dói, irrita, além disso, ver prioridades circenses quando mergulhamos em epidemias de dengue e a violência só aumenta por efeito da desmobilização de forças policiais, o que acontece quando não acompanham o crescimento populacional nem são equipadas para enfrentar máfias poderosas (ou seria por isso?).
E a Engenharia?
Temos situações até favoráveis a soluções inovadoras. A energia, exemplificando, deve crescer de custos e tornar-se um problema ambiental mais grave, exigindo uso racionalizado. O aproveitamento de fontes renováveis é importantíssimo. Pode também ajudar em soluções não convencionais. Por exemplo, por quê não decuplicar usinas hidrelétricas que poderiam, se bem feitas e operadas adequadamente, coletando água no planalto e despejando no Atlântico (Henry Borden, Parigot de Souza, por exemplo) reduzir substancialmente o fluxo dos rios em períodos de ondas de instabilidade já previsíveis? Que tal aproveitar melhor, a favor da Defesa Civil, os programas existentes para gerenciamento de usinas? Há poucos anos vi, num congresso sobre energia elétrica em São Paulo, a apresentação de um software para previsão de chuvas catastróficas em micro regiões, desenvolvido por especialistas brasileiros para a Tractebel, se não me engano.
Questões não faltam.
Onde está a política de drenagem das cidades? Vão querer resolver isso fazendo canteirinhos nas calçadas? A qualidade e dimensão dos dutos de água são razoáveis? Podem explicar muitos deslizamentos que observamos nesse começo de 2011.
E as leis, decretos, normas etc.?
O que impede nossos legisladores e administradores públicos de racionalizar leis mal feitas que permitem situações em que ano a ano matam e aleijam milhares de brasileiros? Precisamos, com urgência, de um mutirão técnico e político a favor da segurança do nosso povo.
Temos mais sugestões, por exemplo: Por quê não transferir capitais (função política) e até cidades para locais adequados? Quantos urbanistas e engenheiros o Brasil revelaria ao mundo... e isso poderá ser feito em forma de PPP e custos reduzidos, ajustando-se incentivos a megaempresários dispostos a investir no Brasil, alguns, quem sabe, coerentes com discursos ambientalistas radicais.
O nosso povo demonstra as teses da Hannah Arendt, mas não precisaria exagerar. O que vemos na definição de ministros, secretários, diretores de estatais etc. é vergonhoso, ofensivo.
Temos exceções, assim vemos com satisfação o esforço dos blumenauenses em refazer uma cidade excessivamente exposta a catástrofes (Cascaes, Blumenau 2050 - um exemplo de caso, 2011).
E a educação política?
Infelizmente o resultado das últimas eleições mostrou suprema indiferença recíproca entre o povo e os partidos políticos. As “agremiações políticas” e seus dignos chefes não mais se preocupam com a opinião pública quando o assunto é coerência, moralidade e competência administrativa. Isso é extremamente grave, talvez as catástrofes acordem os brasileiros para a necessidade de bons governantes e legisladores...
Em 2010 tivemos motivos mais do que evidentes para impugnações de candidaturas, aconteceram? Fatos consumados e transferir responsabilidades parecem ser a regra dominante.
De qualquer jeito, com ou sem política, precisamos aprender a exercer militância cívica a favor do nosso povo. Dentro ou fora dos partidos, graças à internet, principalmente, podemos muito, é só querer.
Querer?
Falando de administração de nossas metrópoles não aceitamos desculpas, nelas temos as maiores concentrações de universidades e doutores. Será que não se preocupam com seus concidadãos? Ou se curtem aflições, por quê não agem com mais eficácia e ousadia?
Cascaes
14.1.2011

Arendt, H. (2009). A Vida Do Espírito. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
Cascaes, J. C. (s.d.). Acesso em 14 de 1 de 2011, disponível em Mirante da Defesa Civil: http://mirantedefesacivil.blogspot.com/
Cascaes, J. C. (1 de 2011). Blumenau 2050 - um exemplo de caso. Acesso em 14 de 1 de 2011, disponível em Brasil 2050: http://brasil-2050.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário