Objetos de plástico nas praias e poluição nos rios
Há poucos anos estivemos passeando pelo Ceará. Lugar maravilhoso com um potencial turístico ilimitado. Paramos num hotel na Praia do Futuro onde o vento forte viabiliza até grupos geradores rudimentares. Na areia das praias vendiam de tudo, inclusive alimentos. Tudo, de modo geral, servido em pratos ou sacos plásticos. Com o vento forte a luta era evitar que essas embalagens e pratos saíssem voando. Entre a praia e a cidade era possível ver onde esses restos plásticos iam parar, as dunas brancas diziam o que não queríamos saber...
Em Belém do Pará, no Mercado Ver o Peso, sobre os contrafortes do muro de arrimo, lixo, pior ainda, restos de lâmpadas “econômicas”, essas com vidros cancerígenos ou algo parecido.
Em Curitiba, a tolerância total com os catadores de lixo, até o ex-presidente da República veio cumprimentá-los, permite que alguns deles façam a triagem às margens do Rio Iguaçu e de seus afluentes.
O esgoto, sem tratamento, compete aos proprietários conectarem-se à rede quando existe e, se depois de muito tempo, afagos e avisos, alguma punição, fazem de nossos rios algo morto. Situação completamente diferente do que um amigo contou do Botiatuvinha, onde ele pescava quase nas suas nascentes há poucas décadas. Aliás, eu era criança e o Sr. Foster, um senhor sapateiro que morava e trabalhava perto de nossa casa, falava com tristeza dos rios e ribeirões de Blumenau, fartamente piscosos quando ele chegou à cidade para morar.
Em Laguna a Praia do Mar Grosso tinha dunas e águas onde disputávamos com os siris um espaço na praia, como estão hoje? Onde estão as dunas?
O Farol de Santa Marta era um espetáculo, existia sobranceiro sobre uma bela colina, dominando praias de lado a lado, hoje marca um favelão de casas e barracos de turistas e pescadores de fim de semana; que descuido dos órgãos de proteção ambiental! Aliás, órgãos de controle e policiamento não faltam...
Dá mais charme cuidar do quintal dos outros.
Na Praia dos Ingleses, em Florianópolis, em 1972 saí com uns amigos para pegar siri de noite, era fácil, a praia tinha espaços e vida, hoje só falta mostrar palafitas de luxo, lixo sofisticado e esgoto especial.
Em 1980, se não nos enganamos, um amigo da SUDHERSA disse-nos que peixes carnívoros colhidos no reservatório da Usina de Foz do Areia apresentavam teor de mercúrio superior ao aceitável por entidades internacionais, a poluição chegara lá (os peixes carnívoros comem os herbívoros, são excelentes indicadores de poluição).
O Rio de Janeiro era lindo, e devia continuar sendo a Cidade Maravilhosa. O abandono de bons projetos habitacionais e a ausência de sistemas eficazes de transporte coletivo forçaram trabalhadores mais humildes a encontrar um lugar nos morros; hoje são atração turística, afinal os gringos adoram visitar coisas típicas de países atrasados, o ego deles incha.
Merecemos?
Sim, esquecemos nosso povo. Aliás, é bom procurar e ler o livro (O Imperio e os novos Bárbaros, 1991) e comparar com que estamos observando hoje em nosso Brasil tão bem situado no cassino internacional.
Nossa sobrevivência depende de um processo fortíssimo de boa educação no ensino fundamental, quando realmente contribuímos para a formação de padrões de comportamento. Aliás, com perplexidade tenho lido (facebook) manifestações dizendo que a educação é função dos pais, os professores apenas ensinam. Vamos, portanto, mudar a denominação do Ministério da Educação para Ministério do Ensino. Que ensino!
Infelizmente, contudo, somos especialistas em prestidigitação. Adoramos honrarias e rituais e esquecemos a essência dos ideais. O lixo, a poluição e a agressão ambiental que o digam, isso sem falar na miséria pura e simples.
Cascaes
13.8.2011
Rufin, J.-C. (1991). O Imperio e os novos Bárbaros. Rio de Janeiro: Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S. A.
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