domingo, 9 de outubro de 2011

Cidades sensíveis e estudos de impacto ambiental

Cidades podem ser construídas e destruídas. Todos que vivem muito podem comparar as mudanças ocorridas nessas últimas décadas em lugares que eram agradáveis, alguns até referência de urbanismo, transformando-se em espaços hostis ao ser humano. Diante do crescimento de tudo, inclusive da violência, a solução pode ser viver de shopping em shopping, onde a cidade fechada ganha vida com segurança.
É compreensível que em países superpovoados as dificuldades sejam grandes. Acomodar milhões de pessoas em lugares restritos não é fácil. Nessas cidades, se suficientemente ricas, sistemas de metrô, restrições ao transporte individual e escolha criteriosa de atividades comerciais e industriais etc. vão se impondo para que todos possam sobreviver sem agressões mútuas e da Natureza, que reage a qualquer excesso.
Algo interessante, por exemplo, foi ver a localização do estádio de futebol dedicado à Copa do Mundo na França, fora de Paris, em sua região metropolitana, longe de tudo.
Vale a pena transcrever da Wikipédia:
O Stade de France é um estádio multi-uso localizado na cidade de Saint-Denis, ao norte da capital Paris, França. Foi construído no ano de 1998 (ano em que a França sediou sua segunda Copa do Mundo). O estádio tem a capacidade de abrigar 79.959 torcedores. Foram gastos 407 milhões de euros na construção... Atualmente é pouco utilizado, apenas para amistosos ...

Por outro lado vivemos relativamente próximos de um estádio de futebol, assim vemo-nos obrigados a evitar a região no entorno dessa arena em dias de jogos, quando da chegada de torcedores e na saída de turbas nem sempre amistoras. O rastro dos vândalos fica marcado até alguns dias após os clássicos... Com certeza os moradores, pessoas internadas em hospitais e até os pássaros eventualmente instalados nas árvores ao longo das avenidas sofrem com tudo isso.
As cidades têm limites e seus administradores precisam aprender a evitar tragédias. Qualquer grande empreendimento deveria ser submetido a audiências públicas, exposição de projetos, análise de saturação do sistema viário, energético, transporte coletivo, drenagem, esgotamento de águas servidas, segurança, aquecimento ambiental etc.
Os cuidados diante de instalações concentradoras de pessoas são inevitáveis e quando não acontecem chegamos às florestas de concreto, tendo, em Curitiba, como um exemplo eloquente, a região entre as avenidas Iguaçu, Getúlio Vargas, Sete de Setembro e outras avenidas que, em paralelo, mataram horizontes e formam caldeirões de mobilidade insuportável em horário de pico, isso sem contar com as torrentes de águas das chuvas onde o asfalto mais a declividade e meios fios formam autênticas corredeiras em dias de chuvas fortes. Podemos imaginar o cenário dentro de 10 anos...
Nossos vereadores, institutos de Arquitetura, Engenharia, Universidades etc. deveriam se unir para debates sinceros do que significa tudo isso. Lamentavelmente, contudo, via de regra prevalecem interesses corporativos, deixando-se o povo órfão do apoio técnico.
Com ou sem suporte técnico os habitantes das cidades têm o direito de saber com detalhes o que as grandes obras urbanas significarão em suas vidas. Quem decide deveria registrar em cartórios de fé pública o que afirmam assim como as discussões ocorridas para posteriores cobranças de responsabilidades e indenizações, se necessárias.
Fomos testemunhas de processos de degradação de grandes metrópoles. Não foi difícil perceber os efeitos de coisas anunciadas com ares de conquistas e que simplesmente mataram tudo o que na origem os fundadores dessas cidades pretendiam.
O Brasil é grande, não precisa concentrar pessoas em lugares errados. Isso deve ser embutido, entranhado, ensinado, formatado, inculcado e aprimorado na cabeça dos legisladores, agentes do Poder Público, Poder Judiciário, Ministério Público, lideranças de ONGs, mestres em universidades etc.
Precisamos refazer nosso país de forma sustentável, segura e saudável.
Nós ainda podemos.
Cascaes
13.8.2011

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