Em 1988 os nossos deputados e senadores, travestidos de delegados constituintes, fizeram nossa Carta Magna ao gosto deles e do então presidente José Sarney. A empolgação do processo de redemocratização gerou imprudências que aos poucos se revelam, mais ainda diante da péssima regulamentação e jurisprudência criada na aplicação de algumas leis, decretos, regulamentos etc..
Para o pessoal de esquerda, parece-nos que bastaram as glórias do passado e o dinheiro de indenização por alguma ou muita militância, algumas tremendamente discutíveis. Os conservadores acreditaram construir um país livre e um espaço bom para a livre iniciativa. O pessoal do meio, bem, continua no meio. O resultado é um país hipercentralizado com padrões nacionais quando temos tantas diferenças.
Vivemos numa estrutura que não é presidencialista nem parlamentarista, é um frankestein pouco funcional, mas com inúmeras responsabilidades técnicas e administrativas em Brasília. Destaque-se a absurda concentração de poderes administrativos do Governo na capital federal, decidindo até sobre a qualidade e preço da energia elétrica que as empresas distribuidoras entregam nas cidades.
Como é natural num país mal feito, temos um Poder Judiciário sobrecarregado e com uma escadaria interminável de recursos e custos que não terminam nunca. Qualquer que seja o tamanho do Poder Judiciário, ele será sempre insuficiente num país que faz lei até para dar nome às ruas.
O que é interessante nesse processo mal feito é ver e procurar entender a perplexidade de brasileiros com o que acontece no ambiente político. As histórias tipo “Pedro Bó”, um personagem inesquecível de Chico Anysio, aparecem todo dia e seus atores aos poucos vão construindo muralhas entre eles e a opinião pública. Entender o quê?
Em agosto comemoramos a luta pela Copel no Paraná. Ganhamos o controle acionário da empresa, pelo menos por enquanto, os advogados do outro lado são muito bem pagos, perdemos dentro de um modelo para o Setor Elétrico que deslocou para Brasília decisões incabíveis. Inacreditavelmente a passividade de todos transferiu para a União direitos e deveres que deveriam ser dos estados, quando não dos próprios municípios.
Serviços essenciais exigem sintonia com as necessidades de seus usuários, custos e tarifas acessíveis, lógica de organização espacial, sustentabilidade etc., atenção às necessidades do povo. Que agências “mandrakes” fizeram em Brasília e capazes de governar detalhes do cotidiano de cada brasileiro? Por que essa concentração?
Grandes grupos econômicos aplaudem e agradecem, afinal é mais fácil impressionar meia dúzia de tecnocratas do que milhares deles espalhados pelo Brasil...
No passado já tivemos momentos de que nos orgulhamos a favor da participação popular, e agora? Os livros de Hannah Arendt nunca foram tão atuais, tão explicativos em relação ao que vivemos. Pensar incomoda e a vida lúdica é melhor do que a existência responsável e cheia de preocupações.
É até interessante observar nossos programas televisivos. Em horário nobre, quando, infelizmente, a família se vê “obrigada” a ligar a televisão, mostram um Brasil carioca chique que não se ornamenta com seus morros e subúrbios. De madrugada o que vale é o luxo de gente afetada.
Assim os brasileiros são educados para digerir, esperando o resultado da mega sena, os escândalos do dia seguinte babando em cima de algemas e esquecendo que tudo acontece graças a uma sequência infeliz, que construiu um país fora e sintonia com as necessidades do seu povo.
Cascaes
2.9.2011
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