quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O perigo do transporte

A resolução do CONTRAN determinando a utilização de cadeirinhas especiais para crianças em automóveis é no mínimo intrigante. Muitos são os recursos modernos a favor da segurança em veículos e o CONTRAN centrou uma decisão até polêmica, diante dos resultados que os autores do livro Superfreakonomics (As cadeirinhas de crianças nos carros só servem até os dois anos, quando a criança é pequena e não cabe nos cintos normais. Depois, não há diferença estatística em termos de vidas salvas) destacam nos EUA. Lá a existência de piscinas em residências mostrou-se muitíssimo mais grave que a utilização ou não desse equipamento de segurança.
E se a segurança das crianças é importante, por quê não determiná-las em taxis, ônibus escolares e de transporte coletivo urbanos e interurbanos?
Considerando a intensidade da multa (7 pontos perdidos na carteira do motorista e R$ 191,54 de multa) pode-se imaginar a gravidade percebida pelos especialistas que a definiram. Insistindo, contudo, se é tão perigoso para uma criança ir sentada no banco de trás de um automóvel, se o cinto de segurança não é suficiente, por quê desprezam a segurança de crianças, jovens, adultos e idosos em ônibus urbanos?
A falta de coerência de nossas autoridades é preocupante. Temos situações de risco consideráveis. Em Curitiba, ilustrando, os ônibus que trafegam pelas canaletas (mão e contramão) podem atingir 60 km/h, o que significaria, num impacto frontal, 120 km/h de velocidade relativa, condição que certamente matará muita gente. Além disso, esses veículos em todas as cidades brasileiras, articulados ou não, competem com pedestres, ciclistas, motociclistas, taxistas e motoristas de carros e caminhões espaços cada vez mais reduzidos.
É louvável a preocupação do CONTRAN, devemos, contudo, perguntar:
E os ônibus? Será que dentro deles as crianças estarão mais seguras?
O Brasil é um país estranho. Nossa capital foi instalada no centro do país e lá funcionários já antigos em suas salas ditam regras para o Brasil inteiro. Essa centralização é perigosa. Aliás, gravíssima em todos os sentidos, a começar pela distribuição dos impostos que faltam aos municípios e estados, de onde saem montanhas de dinheiro que desaparecem em contas mágicas do Banco Central.
Segurança das crianças, quanto existe por fazer... Podemos começar pelas calçadas, pelas proteções que deveriam ter para que meninos e meninas não saíssem em direção às ruas sem pensar, na educação de motoristas e responsáveis por esses futuros adultos, na importância da direção segura a favor do pedestre, qualidade das calçadas, iluminação pública, desobstrução dos passeios etc.
No Brasil “a coisa” parece andar bem quando é para inventar custos e multas.
Precisamos repensar essas estratégias, talvez descentralizar leis que, se são ótimas para os funcionários federais em Brasília, talvez não sejam adequadas por aqui, onde, quem sabe, outras ações seriam amais eficazes, como, por exemplo, proibir radicalmente que motoristas e veículos precários dirijam seria lei severa.
Com bom senso o Brasil será melhor. Isso, contudo, dependerá muito de quem elegermos. Por isso é extremamente importante o voto consciente, a atenção nas qualidades de nossos candidatos. Nossos erros, eleitores, têm custado a vida de centenas de milhares de brasileiros...

Cascaes
1.9.2010

2 comentários:

  1. Meu Caro Amigo,

    Nada a contestar do seu artigo quanto à eficácia das cadeirinhas nos automóveis. Nada a contestar quanto às normas emanadas de cima para baixo. No entanto, sobre os ditos "barnabés" e suas funções em Brasília, ai sim há um equívoco do nobre engenheiro.

    As resoluções do CONTRAN não são tomadas por técnicos residentes no Planalto Central. Normalamente o procedimento adotado é o da realização de reunião (ou reuniões) das Câmaras Temáticas do DENATRAN, quando são convidados especialistas e técnicos de diferentes prefeituras brasileiras, com larga experiência em questões do trânsito, para opinar, debater e, em seguida, produzir resolução de consenso para adoção em todo o território nacional.

    Ou seja, embora o cenário da reunião seja em Brasília; embora exista a presença de muitos técnicos locais em apoio às Câmaras Temáticas, a resolução mesmo é tomada pelos técnicos paulistas, curitibanos, gaúchos, cearenses, amazônidas e especialistas de norte a sul do Brasil.

    Este é o reparo que gostaria de fazer. Isto porque muito da culpa dos desacertos do Brasil é atribuído a Brasília e aos seus moradores. E os fatos não ocorrem exatamente como o imaginário pupular relata. Se o Congresso é corrupto, ele é a corrupção de todos os brasileiros, porque 98% dos parlamentares são apenas residentes temporários no cerrado do centro do País.

    Mesmo os governantes ali instalados são residentes temporários. Onde mora o Sr. Itamar Franco? Onde mora o Sr. Fernando Henrique Cardoso? Onde irá morar o Sr. Lula após o final do dois mandatos? É claro que em seus Estados de origem, juntos com todas suas "entourages".

    Grande Abraço.
    Miranda

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  2. Querido Cascaes:
    Em primeiro lugar, concordo com o comentário do Sr. Miranda, pois não são os brasilienses que governam este país.
    Quanto ao seu artigo, também concordo e acrescento: nossos "legisladores" votam leis para "fazer marketing" (fingir que protegem o povo, cuidam das criancinhas, etc.), mas não são planejadores. Um planejador se perguntaria (a) como fica a questão da velocidade com os carros que temos no século XXI; (b) como ficam as leis se a sinalização das estradas é um completo descaso; (c) por que o condutor deve obedecer a lei se carros oficiais não a obedecem; (d) por que devemos obedecer as leis no sistema viário se a própria Prefeitura usa e abusa dos "quebra molas" sem nenhum respeito à própria lei? E etc.
    Em suma: se os técnicos fossem realmente ouvidos e suas sugestões aceitas, talvez a coisa ficasse um pouco melhor.
    OBS: um dia perguntei a um polícial rodoviário (E não obtive resposta): por que devo reduzir a velocidade quando há uma placa dizendo isso se NUNCA MAIS nessa rodovia se coloca uma placa dizendo que posso voltar à velocidade normal? Devo continuar a viagem INDEFINIDAMENTE naquela baixa velocidade? Coisas de nossos "planejadores".
    Um abraço.
    PUCCI

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