quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A mediocridade e o governo do estado

A mediocridade tem um pecado grave, não mostra custos definidos, é bem comportada, não se expõe.
Precisamos de bons governos. Se o Brasil engatinha dependendo do acasalamento de touros e vacas, galos e galinhas e sementes de cereais, se demoramos a sair da mesmice dos projetos antigos, apesar da sorte relativa de descobrir petróleo e gás lá no fundo do oceano, poderíamos estar muito além, melhor, mais competitivos e produtivos, com nosso povo feliz, sem depender de esmolas oficiais e da necessidade lamber seus sapatos.
Felizmente temos gente que pensa e trabalha, cria e planeja o futuro. Assim, sem citar a fonte, mostro a seguir a contribuição de um amigo que aprendi a respeitar ao longo dos anos, falando do Paraná, da Copel e de sua área de Telecomunicações e Informática:
Na área das telecomunicações, a COPEL tem hoje implementada a maior rede de fibras ópticas que não está sob o controle das operadoras, rede essa que continua crescendo.
O desafio, daqui para frente, é fazer com que essa rede produza, rápida e eficientemente, mais e melhores serviços de valor agregado para as pessoas e para as empresas. Nesse sentido, propõe-se que a COPEL, em conjunto com a UFPR, a FIEP e outras instituições, organismos e agentes, tanto públicos quanto privados, unam-se no sentido de que o Paraná, nos próximos 4 anos, possa se tornar o pólo de atração e desenvolvimento de conteúdos e aplicações inovadoras para as infovias.
Essa é uma proposta que a COPEL já está chamando de BEL-i9 e que deve ser levada adiante e impulsionada pela próxima gestão, pelo seu potencial de gerar renda e empregos qualificados, de atrair indústrias da era do conhecimento para o Estado, e, principalmente, de reduzir o chamado "custo Paraná", produzindo, por meio de conteúdos inovadores e aplicações, maior eficiência para os diferentes setores produtivos, da indústria, do comércio, de serviços em geral.
É muito claro que a COPEL é o motor do desenvolvimento do Paraná. Essa é a nossa cultura!
Todavia, vale destacar que, nos últimos 15 anos, a COPEL foi progressivamente perdendo sua característica técnica e adotando uma postura essencialmente financista. Como se uma empresa como ela existisse primordialmente para gerar caixa, ao invés de voltar-se, antes de tudo, para o desenvolvimento do Estado e melhoria da condição de vida dos paranaenses. Com essa postura, pode-se dizer que ela ficou "menos humana", colocando-se o dinheiro acima das pessoas e da sua missão desenvolvimentista.
Há 15 anos, a COPEL possuía várias dezenas de mestres e doutores, que estavam principalmente locados no Centro de Hidráulica (CEHPAR), no LACTEC (naquela época, "LAC"), no SIMEPAR e no LAME. Hoje, com a desvinculação dessas unidades contam-se nos dedos, de uma única mão, os doutores da COPEL.
Em plena era do conhecimento, a empresa regrediu para uma cultura fordista. De uma companhia que empreendia projetos arrojados, inovadores e importantes para o Estado, foi-se tornando uma "fábrica" eficiente, repetidora de metodologias e técnicas já existentes e bem conhecidas. Perdeu-se muito em criatividade, o espírito inovador, a cultura de empreender. E, como "fábrica", seus empregados mais qualificados foram sendo desprestigiados (inclusive salarialmente) e, progressivamente, substituídos pelos novos contratados, sem a mesma experiência, conhecimento e comprometimento.
O LACTEC (incluindo CEHPAR), SIMEPAR e LAME precisam ser retomados para o original controle da COPEL e da UFPR, como eram no início. Hoje, ficaram organismos "sem dono", portanto sujeitos a políticas e politicagens, o que jamais pode acontecer com unidades de excelência técnico-científica. Precisam voltar a oxigenar a empresa com novos conhecimentos e, especialmente, com a cultura que existia: a do empreendedorismo inovador voltado para o progresso do Paraná e dos paranaenses. Os laços com a UFPR devem ser estreitados, para que esses dois importantes organismos voltem juntos a produzirem desenvolvimento.
A COPEL deve voltar a atrair as melhores competências, os engenheiros e técnicos mais qualificados, que procurem a empresa e queiram permanecer nela, porque nela encontrarão ambiente adequado para se desenvolverem, sendo recompensados por salários dignos e compatíveis com sua qualificação e desempenho. [
Os copelianos remanescentes ainda carregam capacidade tecnológica e espírito pioneiro, e poderão auxiliar a próxima gestão do governo do Estado em várias frentes, independentemente de quem venha a ser o novo governador.

Para pensar.

Cascaes
2.9.2010

3 comentários:

  1. Luis Eduardo Knesebeck2 de setembro de 2010 às 15:44

    Brilhante!
    Como contribuição, comento que deve-se também levar em consideração que os tempos mudaram. Se não podemos ainda entender muito bem estes ´ventos da mudança´, quanto mais controlá-los! Mas o determinismo que vivemos no final da década de 80 até meados da de 90, ranço do planejamento estatal pós-64...
    Então, o que fazer? Seguramente investir em educação é imprescindível. Educação de alto nível, humanista, de longo prazo. Os antigos engenheiros (somente engenheiros...) onde estão? O que vemos hoje são pós-graduados em especializações incompreensíveis que, com muita dificuldade, produzem um parágrafo que faz sentido!
    Neste sentido, instituições como as que foram mencionadas, aproximando a academia das empresas, são fundamentais. Mas não podemos afirmar, com razoável certeza, que o paradigma que norteou o seu funcionamento ainda permanece válido.
    De forma semelhante, o conceito atual de serviço público (que melhor exemplo que a telefonia?) deve ser melhor estudado. Mas esta é outra discussão!

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  2. O citado projeto BEL-i9 também contempla a implantação de uma escola de empreendedorismo, semelhante ao Clube de Roma, cujo objetivo é exatamente o de alargar o conhecimento, ampliar os horizontes dos profissionais de hoje que, como foi bem mencionado, são especializados mas não conseguem escrever uma carta, que tenha começo, meio e fim.



    O planetas

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  3. Trabalhei com o Pessoa no passado... de 1995 a 1999. Foi uma época para mim de grande aprendizado... Pelo que conheço dele, os projetos Bel e Inove devem ser arrojados... visionários... de futuro...

    Também concordo com o Knesebeck... educação é fundamental... treinamento... reciclagem profissional...

    Obrigado Dr. Cascaes... seus textos são muito bons... esclarecem... proporcionam boas reflexões...

    Gostaria de ler comentários seus sobre a sua visão do futuro da Copel.

    Sds.,

    Du

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