Nesta semana dois meteoritos passaram, em termos astronômicos, raspando a Terra. Por muito pouco continentes poderiam ter mudado de forma e cidades pulverizadas se esses corpos celestes colidissem com o nosso planeta. Um vulcão de nome complicado da Islândia quase complicou de vez a economia européia e o acidente da BP parou na undécima hora. Malucos fazem de tudo para que a humanidade volte a ter guerras religiosas.
Mega questões podem inibir a compreensão de problemas menores (e vice versa), fenômeno facilmente reforçado pelas monstrópoles que aos poucos ganham forma, transformando seres humanos em formigas anônimas com uma diferença, cada uma por si.
Já não nos impressionamos com o número de mortes violentas em qualquer final de semana. A violência do trânsito virou rotina e a desonestidade dos políticos e seus financiadores algo a comentar, simplesmente. Nossos candidatos revoltam-se com a divulgação de dados pessoais que deveriam ser públicos e insistem em manobras excludentes, de modo a que o eleitor tenha um mínimo de opções ao votar. O pior, isso tudo acontece sem que nosso povo reaja de forma adequada.
Psicólogos, sociólogos, pedagogos, historiadores, médicos etc. poderão explicar essa capacidade de alienação.
Temos nossas teorias improvisadas, entretanto. É até divertido pensar nas possíveis causas de tanta alienação.
Com certeza a humanidade sempre esteve sob diversos tipos de pesadelos, riscos tremendos à própria sobrevivência. A morte precoce, inesperada e violenta era tão comum que se transformou em elemento fundamental a todas as seitas, religiões, credos filosóficos, esotéricos etc. A Guerra Fria, tão recente, por pouco não deixou a Terra em escombros.
Diante de tudo rezamos muito e fazemos quase nada...
Os exemplos de omissão aparecem até na filosofia de internet, nos livros de auto ajuda e estratégias de campanha política. Pense em você, o mundo é belo, ignore as nuvens escuras...
Em Curitiba estamos vivendo um período que poderá, ao longo de sua história, servir de objeto de estudos científicos sob o tema “alienação”. Começamos o ano com um edital absurdo em relação ao transporte coletivo urbano, vimos os escândalos da ALEP, denúncias gravíssimas em relação a inúmeras questões, sem solução para o lixo, aliás para muitos tipos de lixo, e o que acontece? Quase nada, exceto quando alguma emissora de TV transforma tudo isso em algum show.
Alguns procuram mexer com a consciência popular. Militantes em urbanismo (Sociedad Peatonal, por exemplo, e o grupo FOMUS) já não sabem o que fazer para dizer à nossa gente que muita coisa está errada.
Andando pela cidade notamos que o povo sem automóvel é gente humilde, via de regra com pouca instrução, trabalhando desesperadamente para sustentar a família. E essa é a parte mais atingida da população pelos maus governos.
Seria a miséria material e cultural a base do império de aristocratas e oligarquias?
Parece que sim, se for temos uma grande esperança. O estado do Paraná tem milhões de jovens nas escolas. Nunca tantos freqüentaram os bancos escolares. A internet se universaliza. Blogs, youtube, twitter, emails etc. permitem um padrão de comunicação que, somados à imprensa formal, deverão começar a mudar gerações de brasileiros. Mais ainda, nas universidades, para se ter títulos de mestrado e doutorado na área de humanas, tudo isso é espaço fertilíssimo de teses e dissertações.
Vamos mudar, ainda que não tão rapidamente quanto gostaríamos (afinal de contas existe o voto de legenda somando pontos a favor dos mais estruturados para campanhas e a Justiça, cautelosa, é lenta), mas o nosso povo será diferente, e não vai demorar muito a mostrar isso no voto. Por enquanto sentimos que, se a avestruz não pegou no Brasil, seus hábitos diante do medo são similares aos nossos. Enfiamos a cabeça no primeiro buraco (férias, praias, carnaval, futebol, etc.) que aparece para não vermos (vermes?) em volta.
Cascaes
10.9.2010
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