terça-feira, 12 de outubro de 2010

Poder e discurso

Algo que realmente mostra o caráter de uma pessoa é o exercício de um cargo poderoso, tanto maior quanto suas limitações o permitirem. Descobriremos a nós mesmos nesses momentos, nem sempre razoáveis, eventualmente extremamente desagradáveis, mas com todo o charme que, principalmente os bajuladores eternos, aplaudem.
As eleições para a Presidência da República colocarão no maior posto político e administrativo do país um ser humano que podemos imaginar quem será, de modo algum, entretanto, será o que marqueteiros e a própria vida pregressa mostrou. A escada do poder é equivalente a escalar montanhas, quando o alpinista vai se segurando onde pode, resistindo a ferimentos e respeitando e ultrapassando cada obstáculo que aparece. Chegar ao cume da montanha é o grande prêmio de onde poderá saborear sua vitória ou procurar outra para o próximo desafio.
Compete ao eleitor escolher os alpinistas, orientá-los e muitas vezes cobrar lições inúteis. Se dar palpite fosse demonstração de inteligência e conhecimento, ninguém erraria. Temos, no entanto, milhões de pessoas que falam com convicção, muitas vezes dando demonstrações de ignorância absoluta, mas suas certezas lhes pertencem, assim como os votos que dedicarão a algum candidato.
Sempre é bom refletir, lembrar a história da humanidade, a nossa própria onde tantos esqueceram seus discursos, não de campanha, mas alguns que repetiram ao longo da vida até chegar lá, com direito a mordomias, honrarias e bons salários...
Pobre país inculto e belo, rico por natureza, gigante adormecido...
O Brasil ficou para trás. Poderia ser uma grande potência. Acomodou-se às suas facilidades. Agora é terra fértil para todo tipo de exploração política, pior ainda, de imensos interesses estrangeiros. Dividido será mais uma fonte de diamantes, madeiras, minérios, escravos para as lutas entre grandes capitalistas que demoliram a África e mantiveram parte da Ásia sob governos que, entre outras coisas, aceitavam o comércio de drogas alucinógenas, afinal o que valia era o “livre comércio”, o liberalismo radical.
Temos problemas sociais gigantescos. Não precisariam existir se há algumas décadas tivéssemos implementado programas de educação profissional e social abrangentes, financiado micros e pequenas empresas, contido a burocracia sufocante, distribuído melhor o dinheiro dos impostos e não concentrado benesses em grupos perdulários e irresponsáveis.
Teremos eleições, votar em quem?
É difícil imaginar quem será melhor, afinal os dois candidatos têm seus vices, partidos coligados, compromissos explícitos e ocultos de campanha. Talvez seja um desafio semelhante a jogos de baralho onde aleatoriamente escolhemos uma carta, na esperança de ser aquela que esperamos, ou não tão ruim para podermos continuar jogando.
A verdade pura e simples é que não tivemos muitas opções. O modelo “democrático” criado pela Constituição de 1988 é tudo, menos cidadão (ou Constituição Cidadã como gostam de dizer). Continuamos com vícios antigos e medo do povo.
Votar em quem?

Cascaes
12.11.2010



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