quarta-feira, 11 de maio de 2011

Obras, quantidade e qualidade

Obras, quantidade e qualidade
A propaganda oficial de Curitiba descobriu uma forma de impressionar os eleitores da capital e adjacências. Em outdoors, no portal da PMC, discursos etc. a palavra chave é o “número de obras”.
A preocupação de quem gosta de Engenharia e ciências afins é que tudo isso aconteça com a melhor técnica, dentro de planos coerentes e a perspectiva de melhorar a cidade. Lamentavelmente aqui vale quantidade sem muita atenção para os padrões de serviço, salvo algumas exceções notáveis, isso sem falar na extrema lentidão de alguns projetos importantes.
Vimos, por exemplo, com extremo pesar o recapeamento de ruas e avenidas, onde, em alguns lugares, formou-se uma valeta entre o asfalto e o meio fio. Ou seja, sem escarificação, para redução de custos e na preocupação provável de multiplicarem-se as obras, o serviço foi mal feito. De sobra criou-se uma armadilha para que anda pela cidade (pisar em falso e cair na rua) e um pequeno degrau ao final de rampas (nas esquinas) para cadeirantes.
Obrar é um verbo que pode explicar isso e outras coisas, dependendo de regionalismos e hábitos de expressão. Vale a pena ver nos dicionários para entender.
Por aqui obra-se lentamente. Assim temos trincheiras e reformas que não terminam nunca. Uma explicação possível é a execução de serviços sem projetos completos. Em Cuiabá (67º SOEAA - Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e da Agronomia) vimos e ouvimos, perplexos, o Dr. Cristiano Kok [ (Cristiano Kok, 2011) (Degradação de obras brasileiras e os projetos) ] dizendo da falta absurda (com alguns dados alarmantes) de atenção técnica em obras públicas (e privadas não são muito diferentes).
Sente-se que reportagens são feitas sem cuidados técnicos, fala-se de tudo menos do respeito à boa Engenharia. O problema é a dimensão e a introjeção de uma cultura irresponsável em torno de atividades essenciais, que vão da saúde à educação, do saneamento básico à energia.
Precisamos com urgência de entidades técnicas ativas, independentes e vigilantes com competência. Infelizmente nota-se que no democratismo militante muitas vezes o que vale é a simpatia e a mediocridade acaba imperando. A cooptação de lideranças técnicas é uma rotina e a segurança do nosso povo colocada em risco.
Temos já uma coleção de acidentes colossais que mereceriam permanecer na mídia até a conclusão final com detalhes dos erros e acertos de quem quer que fosse. Hidrelétricas gigantescas estão em obras com orçamentos reduzidos, só para lembrar. Alguma indústria ou empreiteira faz milagres? Utopias à parte, a visão que se impõe para aqueles que se preocupam com o futuro de todos nós é como sair do fosso que mergulhamos em diretrizes erradas.
A mídia, que agora é quantidade de obras, já foi a do preço menor. Os traumas de obras superfaturadas levaram nosso povo ao outro extremo. Na ausência de pessoas acima de qualquer suspeita e capazes de opinar sobre processos, podemos estar construindo um mundo insustentável, negativo em relação a protocolos, tratados, estatutos humanitários, física, matemática etc.
A transparência talvez passe pela obrigatoriedade de licitação de projetos com dados objetivos e exigências explícitas. Precisamos de ambientes internetianos de debate de projetos, transparência máxima etc. para que não obrem da forma pior em trabalhos de importantes para nosso povo.
E sem medo de cara feia ou discursos inflamados de quem não entende é fundamental que todos que estejam atentos ao que é feito para atender nossa população. Registrem e divulguem de todas as formas possíveis o que estiver mal feito, assim como aplaudam o que for bem feito. Felizmente agora podemos.

Cascaes
4.4.2011

Cristiano Kok. (4 de 4 de 2011). Fonte: Revista ENGENHARIA: http://www.brasilengenharia.com.br/sumario.asp?ed=601&cod=8494
67º SOEAA - Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e da Agronomia. (s.d.). Acesso em 28 de 1 de 28, disponível em Centro de Eventos do Pantanal: http://www.eventospantanal.com.br/eventov.php?id_agenda=10#3
Cascaes, J. C. (s.d.). Degradação de obras brasileiras e os projetos. Fonte: Ponderações engenheirais: http://pensando-na-engenharia.blogspot.com/2011/01/degradacao-de-obras-brasileiras-e-os.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário